Engraçado. Escrevi sobre o Vô Arnaldo com certa facilidade, e tínhamos uma ligação bastante forte; agora
estou há mais de mês para escrever sobre a Vó Stella, e com esta dificuldade. Não sei exatamente o porquê. Possivelmente pelas emoções que me desperta.
Bom, era ela o meu exemplo de vida, é até hoje. E apesar de nossa convivência ter escasseado no final, pois
eu já me achava também adoentada, mesmo assim, creio, nunca deixamos de estar próximas. Muito amor nos unia, e também certa cumplicidade, depois da experiência do falecimento do vovô. Referindo-se a este momento, ela sempre me agradecia, parece que nunca se esquecia de tocar no assunto, era quase como uma necessidade para ela.
Quanto a minha ausência física nos últimos tempos, já estando ela acamada, um dia mamãe decidiu lhe contar a razão; parece-me que ficou grata, dizendo que “gosto que me contem a verdade!”
Achava que eu andava muito ocupada...
Vovó vivia de amar as pessoas.
Preocupada com os filhos, fazia e tudo para eles, e que se sentissem importantes, visto daqui do meu ponto de vista.
Quanto aos netos, que são muitos, sabia os gostos de cada um em particular, queria saber da história e da vida de um por um. Se um neto vinha almoçar, o menu era sempre aquilo que ele gostasse, isso não falhava.
Quanto aos bisnetos, não sei muito bem, mas claro que posso facilmente imaginar; à Stella, chamava carinhosamente de “xarazinha”, e foi a primeira visita que teve no hospital ao nascer – parece que vovó ficou esperando alguém para levá-la ao Felício Rocho e, não tendo aparecido ninguém naquele momento, pegou um táxi sozinha e foi. Assim era ela.
Preocupada também com pessoas que nem conhecia direito, fazia tanta questão de ajudar que às vezes até abusavam dela e de sua boa fé. Ela não se importava, via nas pessoas aquilo que geralmente não vemos, e amava-as respeitando seu jeito e seus possíveis defeitos.
Sempre um pouco ansiosa, muito ligada a horários, queria fazer tudo certinho e à hora.
Gostava de jogar “buraco” durante horas a fio, e ai de quem a fizesse perder; ficava uma fera!
Sua fé inabalável sem dúvida alguma deu base a minha estrutura como pessoa, convivendo com seu exemplo desde quando morávamos no apartamento conjugado ao lado, mas também por todos os anos de relacionamento próximo, coisa que nunca deixamos de ter; já chorei no seu colo, ela também já chorou no meu. Para mim, isso foi uma graça, um privilégio.
Ás vezes, com minhas dúvidas a respeito de religião, telefonava para ela, perguntando “vovó, se Deus só faz a vontade Dele, então pra que é que a gente tem que rezar?”
Ela me respondia de acordo com sua fé, e me indicava livros para ler.
O mais interessante, acho, é que apesar de ser muito tradicional e católica, também não deixava de ter a cabeça muito aberta, sempre atualizada com o mundo moderno e com o que os netos, por exemplo, estavam vivendo, sempre num respeito profundo e um amor incondicional.
Digo sempre que se conseguir chegar pelo menos “aos pés” do que foi a Vó Stella, poderei me sentir um pouco mais evoluída. Minha filha, não é à toa que ganhou este nome.
Sinto com freqüência muita falta dela, uma saudade gostosa, na certeza de que de alguma forma está sempre
presente em todos os momentos da minha vida, seja pelos princípios que me ensinou no decorrer dela, seja por estas formas misteriosas que a gente nunca tem certeza, mas nunca nega - e imagina que devam existir.
A vida da vovó foi um precioso presente, creio que para todos que tiveram a oportunidade conhecê-la.
Que ela viva dentro de nós, perpetuando este ideal de amor cristão, independente do nome da religião que cada qual escolher; pois o que vale, no fundo, é a essência, e isso ela soube transmitir com sabedoria e muito
bem.
Basta olhar sua família.
Paulinha Mendes
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