sábado, 20 de novembro de 2010

O Gão e o Pão Nosso


A Malu resolveu falar da nova noção de tempo que tenho de construir a cada momento. Que a tendência a melhorar acontece num tempo diferente do nosso usual, ou daquele do nosso desejo ou da nossa ansiedade.

            Nada mais verdadeiro.

            Surpreendentemente, como num passe de mágica ou uma carta na manga nunca dantes imaginada, me pego vivendo cada movimentozinho na concentração de cada detalhe, e todo o tempo e somente, unica e exclusivamente dele. Para se engolir um comprimido, não se pode engasgar; um espirro ou uma gargalhada seriam um abalo sísmico para a musculatura respiratória fragilizada. Um movimento do corpo exige o total relaxamento de algumas partes, para não entrarem em contração, e toda a concentração da força - que ainda não tem - nas partes a serem contraídas para que o movimento se concretize. Mesmo se vendo, quase não se crê. Mas é assim
que tem sido minha movimentação, passiva e ao mesmo tempo ativíssima, atentíssima. Alguém me movimenta aos meus próprios comandos. Coisa doida.


            Fiquei me lembrando de quando eu era adolescente e fazia yoga, a professora mostrava o
retrato de uma lavadeira indiana lavando a roupa no rio. Contraídos única e exclusivamente os músculos necessários para aquele movimento. Nenhuma ruga a mais na testa. E me vi fazendo isso. Como é que certas coisas marcam a gente.


            Aprendo todo dia a viver uma coisa de cada vez.


            O banho, o repouso, o almoço. O amanhã só virá a seu tempo, não esquenta. Não sou cabeça de pau de fósforo pra morrer queimada. A melhora vem, sim, no tempo que é só dela, e  muito benvinda!!


            Minha vó ficou doente sete anos, três de cama; um dia ela se levantou e estava boa. Assim vai ser comigo, só que em bem menos tempo, espero.


            De grãozinho em grãozinho a galinha enche o papo.


            Nada também mais verdadeiro.


            Quer saber? Deixa eu curtir o pãozinho nosso de cada dia que só o Pai me dá. Um incrementozinho na força. Um banho que foi melhor. A virada na cama que foi mais rápida. A dor, que passou a tolerável. E assim é que é.


            Talvez a vida possa ser assim. Sem grandes ansiedades, e esse aprendizado no mundo de
hoje talvez seja dos mais difíceis. Talvez pareça até impossível. Afirmo que não é.


            Vou sair outra daqui, e vocês que dêem o jeito de vocês! Problema!!


            Beijinhos,

  Paulinha
  21/05/05 

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