sábado, 20 de novembro de 2010

Ô Timão!!


Meu amigo Marcos que me perdoe, que eu também sou atleticana, mas parece que o meu timão
está  ficando até melhor do que o dele!

            Logo eu, que vou tirar o timo, não tenho um timão, pois  ele parece estar bem pequenininho aos exames de imagem. A imagem que vem se formando ultimamente, entretanto, ao exame, é a deste time cada vez maior que parece que vai dar é goleada, e vencer não é de pouco, não.


Explico-me: com a cirurgia, vou precisar de três doadores de sangue, “just in case”; com a plasmaférese que fiz, em quatro sessões, depois de tanto plasma, pra cada uma dez doadores, ou seja, quarenta; acontece que eu não operei foi nada, pois piorei de novo, depois dos três ou quatro dias de melhora inicial. Foi bom, pro meu neuro descobrir que a dose de 40 de prednisona não é boa para mim, definitivamente, e aumentamos tudo de novo, pra 60, este possivelmente vai ser também o número total de doadores de sangue de que vou precisar, depois da próxima plasmaférese, já programada imediatamente antes da tão esperada cirurgia, mas que ao que tudo indica não chega tão cedo assim. Quer dizer, mais os três da cirurgia, ah, vamos contar 70, para o caso da plasmaférese precisar de 3 sessões e a matemática não dar trabalho demais...

Tudo virou quase uma novela. Vai-se para o hospital, volta-se de lá antes de preencher a ficha de internação, pois ninguém quer arriscar  ter outra crise miastênica diante da piorazinha inquestionável. Cá estou eu, quase em crise, esperando efeito de corticóide, tão amado, tão odiado também. Mas imprescindível, isso não se discute.


Imagine-se, diante de tudo isso, a chuva de telefonemas, de visitas, de e-mails dando notícias de tudo; que foi-se, mas voltou-se; que não vai ter cirurgia, mas vai; que se precisa de 70 doadores de sangue, no banco de sangue exigentíssimo do hospital, que não aceita doadores pelos mais diversos motivos que se possa levantar: tomou remédio? qual a idade? qual o peso? fez acupuntura? bebeu? E por aí vai... Eu aqui assistindo a tudo sem fazer nada, e achando bem boa a exigência, que no final das contas quem recebe o plasma de lá sou eu... Formou-se uma verdadeira rede de comunicação. Uma teia. Miastenia-aranha tece-tecendo a prece. Correntes de oração, pedidos de doação, de notícias que um vai dando para o outro, e tudo sai no boletim da igreja e no
boca a boca dos amigos que funciona melhor do que qualquer coisa que se possa imaginar na face da terra. A tudo isso se chama amor. Vai dizer que pra humanidade não tem jeito...


Fiquei aqui olhando este timão e pensando justamente nisso. No fome-zero do Lula. Já pensou se os indiozinhos do Mato Grosso não estivessem morrendo de inanição? Se o Bush não estivesse matando em nome de Deus não sei quantas vidas em não sei quantos países? Se os bancos emprestassem pra poder possibilitar, em vez de ser pra lucrar? Se o primeiro mundo dividisse com o terceiro?  Se a natureza fosse cuidada, construída, ao invés de destruída, destruindo depois a vida da gente também? Se não houvesse efeito estufa? Se os atleticanos e os cruzeirenses comemorassem na esportiva? Se as religiões se respeitassem profundamente umas às outras e deixassem de querer ser donas da verdade que ninguém sabe qual é, por mais que se a
vislumbre de longe?


Afinal, o que é Deus? É o tudo e é o nada? É o uno, e é o trino? Deus somos todos nós, e o universo junto, pois se tudo se fez D’ele?...


No domingo de Páscoa – perfeito, diga-se de passagem – recebi uma visita muito especial. Um
verso dentro da minha prosa. A poesia do Frei Cláudio. Que falou da Criação, e ficamos pensando depois, de pensar sem parar. No Verbo que se fez carne, e nas aulas de química e física que não aprendi na escola, ou que já desaprendi. Lembro que o átomo tem prótons e nêutrons, e elétrons em volta dele, e que tem mais espaço vazio do que qualquer outra coisa, mas os elétrons de uns se
combinam com os dos outros, em campos eletromagnéticos e assim por diante, e aí a matéria acaba se formando, o que na verdade não passa de pura ilusão. Esta mesa diante da qual estou   assentada, então, tem mais espaço vazio e nada do que qualquer outra coisa? Tudo bem: foi tudo se combinando, até que um dia apareceu a molécula; e a vida, os seres unicelulares a partir delas, e os pluricelulares e daí por diante passando pelas algas até chegar ao homem? Pensamento que se
transformou em energia, energia em matéria, que por sua vez tem energia própria, alma, espírito e pensamento? Na Homeopatia, retira-se da matéria a energia para doá-la à energia vital de quem recebe... Parece que é tudo uma coisa só, e ao mesmo tempo várias e diversas, completamente diversas. Isso tudo só pode ser um. Deus. E a liberdade. E nada que se perde ou nada que se cria,
mas tudo que se transforma. E transformamos a vida em quê? Responsabilidade nossa.


Tudo me faz crer, porém, que podemos tê-la, somos capazes: basta olhar este timão, que se formou à nossa volta, minha e de minha família, uns grãozinhos de areia que não deixam de fazer parte do universo, mas que nada e tudo são, e tudo por causa de um único  timo-timinho... Então me vêm à cabeça as ONGs que vêm se formando, as buscas religiosas que vêm aumentando, os alertas que vêm denunciar conscientizando, os grupos que vêm se organizando em tarefas que se complementam para atingir um objetivo comum e comunitário, as humanas manifestações de solidariedade nos tsunamis da vida, vindas de todos os lugares...


E eu, livrezinha dos apegos materiais ordinários do jeito que estou, bem pertinho de outra crise miastênica e por isso mesmo despreocupada de tudo o mais e preocupada com a vida e com o que ela significa, que aproveite a mordomia de poder vislumbrar que o desapego é possível, e que o mundo tem cura, e o nome dela é amor, e basta querer, nada  mais. E que não deixe de falar dos gols que a gente quase consegue fazer, mas que pra poder fazer mesmo, tudo depende é do time. Do timão de que o Marcos faz parte. Pra ver que em time que está ganhando, muito se mexe.


                                                                                                                                                    Paulinha.

                                                                              
                                       
                                                                                                               31/03/05

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