sábado, 20 de novembro de 2010

Vó Stella II


Não satisfeita com o primeiro texto, este me trouxe tantas recordações, que decidi escrever o próximo.

Lembrei-me do armazém do Sr. Mozar, na esquina com a Rio Grande do Norte; a gente morava ali, e quando ia comprar alguma coisa pra mamãe, punha na conta do papai – mas quando era bala, chocolate ou coisa que o valha, como os biscoitos gostosos que não estavam no “programa”, então ia tudo pra conta do vovô. Vó Stella não se importava, achava até graça.

Lembrei-me da vovó rezando todos os dias de mãos dadas com o Vô Arnaldo, na ante-sala do apartamento, até o finalzinho da vida dele, quando ele já não entendia muita coisa; acendiam a luz dali às 18:00 diariamente, para N. Senhora, quando o terço era “desfiado” invariavelmente.

Esposa dedicada, carinhosa e paciente, certa vez a surpreendi se apresentando ao telefone como a “Sra. Arnaldo Mendes”... Muitas vezes trocavam beijinhos carinhosos.

Em todos os momentos de dificuldade, nunca a vi se queixar de nada, creio que fazia tudo para ser o mais
discreta possível.

Discreta também quanto a tudo o que lhe confiavam, nunca a vi fazer qualquer comentário a respeito da vida
alheia, mesmo que fossem com pessoas íntimas, sobre pessoas também de sua intimidade.

À igreja, fazia questão de ir todos os dias, e comungar.

Se bem me lembro, chegou até a fazer aulas de dança ou de ginástica na igreja, eu achava um show!

Quando me apresentei pela primeira vez no coral da minha igreja, mesmo sendo presbiteriana, vovó foi assistir com carinho. Disse-me que o importante era estar no caminho de Jesus Cristo.

Fomos ao cinema, o último filme que vimos foi “Billy Elliot” (não sei se é assim que se escreve); viajamos para o Rio, Niterói, São Paulo; pensando bem, eram muito corajosos, levando os netos assim para viajar. Hoje sei o trabalho que dá!

Mais adolescente, à época do cursinho pré-vestibular, dormia em sua casa assiduamente, ao que era sempre
muito bem acolhida, assim como o Marcelo, da Maria Cristina. Estava sempre disponível, ocupava-se dos mínimos detalhes, não se cansava de oferecer isto ou aquilo.

Chegamos a nos mudar um tempinho para a casa dela, eu e o Geraldo, para ajudá-la com o vovô. Uma convivência sempre pacífica, cheia de paciência, cuidados e amor. Vovó era inigualável!

Quando me mudei para a rua Tremedal, no Carlos Prates, não tinha um armário sequer; as coisas guardadas nas caixas, minhas e do Maurício. Ela então me emprestou um bom dinheiro para mandar fazê-los, por prazo indeterminado. Demorei um pouquinho para restituir-lhe o empréstimo e, quando o fiz, disse “esse dinheirinho veio numa boa hora!!”. Entretanto, acredito que nunca tenha pensado em cobrá-lo.

Falando nisso, difícil ver tamanha facilidade para lidar com números. Fazia contas num piscar de olhos, sabia os telefones de Deus e o mundo, impressionante.

Uma das coisas a que dava mais valor era a família, a união da gente, fazia muita questão disso no Natal, que
era quando a casa ficava cheia e, apesar do cansaço, aquilo a fazia feliz.

Dava atenção carinhosa a todos, tia Nelly, tia Inês, tia Zezé, à Conceição, irmã do vovô Arnaldo, só para citar alguns. Tinha os afilhados, as amigas da igreja e do prédio, incluindo o Pérsio e a Baby, tão queridos.

Antes da cirurgia do coração, fomos levá-la ao aeroporto para ir a São Paulo; o José Maurício também foi. Despediu-se com aquele “medinho” nos olhos, nunca me esqueço disso.

Recordo agora seus pezinhos de “bolinha”, sempre tão inchadinhos, punha-os para cima para assistir às novelas (coisa que sempre dizia que ia parar de fazer, mas nunca parava).

Adorava palavras cruzadas, e às vezes telefonava para a Débora, minha madrinha, perguntando uma palavra ou outra, sempre apressada, tanto que nem a cumprimentava ou se despedia direito, era uma graça!

Tem certos detalhes que ficam guardados pra sempre.

A bengalinha com cara de pato, que hoje está comigo; a sopa de aspargos, que fazia como ninguém, apesar de não gostar muito de ir pra cozinha; as visitas à casa da mamãe, mesmo com aquele tanto de escadas; um fim de semana que passou em minha casa, quando os passava na casa de um ou outro filho.

Vovó era sábia ao lidar com as pessoas. Bem humorada, solícita, teimooosa que só ela! (coisa que meu pai
herdou – e eu, dele!). Tinha alergia a queijo, e mesmo assim comia; depois, tinha asma. Mas tinha vez que não resistia.

Só coisas boas!

Que essas boas lembranças nos encham o espírito de uma saudade alegre e leve, como ela própria sempre foi, e que nossa família se mantenha sempre unida no amor, conforme seu desejo mais
genuíno!


                                                                                                                       Paulinha.

                                                                                                                    
                                                                                                                        23/02/10

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