As coisas que me tiram do sério são relativamente poucas. Mas quando me tiram, me tiram, e parece que ninguém é muito bobo pra querer ficar por perto e poder ver o resultado:
-barulho de persiana batendo;
-computador quando não quer funcionar (como se fosse dele a vontade, e não minha a imperícia);
-fome ou cansaço demais;
-e a famosa TPM. 5 dias de folga, no mínimo, que é pra quem morar comigo poder bater em
retirada!
Atualmente, entretanto, as coisas têm mudado um pouco de figura, e a ausência tem virado minha, atacada de uma tal miastenia catamenial. Até o nomezinho dela é danadinho, não acham? Pois bem. Era tudo TPM, e um pouco de corticóide a menos, que agora já voltou a fazer o efeito desejado e me recolocou em “curva ascendente”. Mas de sexta para cá, meu médico resolveu que eu deveria tirar umas férias da internet e me dizer que “vou é internar-te”, e com toda a arte do mundo, me internou mesmo, o danado, com essa arte que só ele tem, como poucos.
Agora de alta, de volta à minha caminha aconchegante e macia (ô Deus, como tenho a agradecer esta caminha mágica que faz todas as minhas vontades num simples apertar de botões!),
agradeço mais do que tudo o fato de ter um neurologista admiravelmente MÉDICO, pessoa de princípios, de ética, de bom-senso e tranqüilidade pra pensar, debruçado sobre os estudos de que a Ana há de fazê-lo descansar, meu professor de medicina apesar de já ter me formado e de trabalhar eminentemente com o ouvir, aprendo com ele o quanto é importante para o paciente o fato de ser efetivamente ouvido, valorizado e respeitado. Vamos dizer que esse meu estágio agora é com ele. Pois não é que o sujeito nem se dá ao luxo de assumir pacientes demais ao mesmo tempo, dada a atenção que zelosamente acha que tem que dispensar a eles e seus familiares? E isso não é só comigo, não, que eu sei de muitas bocas ouvir falar...
Me deu alta e me deixou aqui de molho, de repouso se bobear até da voz, que é pra repor as energias e melhorar, me preparar pra cirurgia, mas esta novela já é velha conhecida... Bem, deixa eu aproveitar o repouso, bem caladinha, ficar quietinha comigo mesma, que sou boa companhia quando não estou no pré-menstrual, e pesar um bocado de coisa na balança, jogar fora o que tem que ir pro lixo, atualizar o que tem que atualizar, ver se aprendo de vez a orar, e também a ver filme no vídeo do quarto da Stella, cantinho mais aconchegante da minha querida casinha nova!
E além do mais, deixa dizer pros maridões que ainda não conseguiram entender a montanha-russa dos hormônios femininos, e acham que tudo é “psicológico” ou que não passa de “frescura” ou de “papo-furado’, que se sintam felizes pelo fato de que não acabem tendo que levar pro CTI suas mulherzinhas neste período, mas atentos no sentido de que podem lhes dar em casa um tratamentozinho intensivo de colos, ombros e carinhos redobrados.
Desarma a garota, rapaz, ao invés de entrar na dela ou fugir com os meninos pros shoppings da vida: “Tá nervosa assim porquê, mulher?” – e dá-lhe um abraço, um beijinho, um carinho no olhar. Deixa ela despencar em lágrimas, a desalmada, a molhar seu colarinho, depois vai ver como tudo pode surpreendentemente virar rosas – ou quase tudo, tirando uns espinhozinhos que ficam, mas que já, já, também acabam passando pra voltar de novo no mês que vem. Afinal, quem não enfrenta ferrinho de dentista com alguma regularidade acaba mesmo é perdendo os dentes.
Mas enquanto estiver aqui, “de altas” de todo o restante, nada me impede de pensar, depois desses dias que não vou dizer que foi fácil, que eles puderam também se fazer preciosidades.
Nossas vivências são nossa matéria-bruta, pra construir a obra-prima da vida. Como pedrinhas preciosas de jóias, cada um tem as suas, feita de elementos diferentes, de cores, texturas, tamanhos, resistências, transparências e reflexos diferentes, a se combinar conforme o gosto ou as possibilidades do freguês. Que cores que vai ter a vida, depende da combinação. Mas o bom mesmo é que a partir da mesma matéria-bruta a gente pode fazer obras-primas diferentes, ao mesmo tempo mais simples e mais complexas, mais bonitas ou criativas, ora menores, ora maiores, mais delicadas ou não, e assim por diante, redimensionando a matéria, e assim recriando a obra. Como bem me disse o Pérsio, as coisas acabam ganhando a dimensão que elas têm. Autênticas relíquias, e tudo dá muita mão de obra, que não nos enganemos, mas enfim mãos à obra! Aprendendo com os mestres de obra que a vida põe na nossa roda, a sermos dignos obreiros do Mestre...
Só o que eu não queria falar é que tudo isso mesmo foi simplesmente pra esperar o Henrique, que está no Chile, tomar bastante vinho nacional e pra ver se a Flavinha me traz de lá o
germenzinho do meu sobrinho chileno...
Paulinha.
06/04/05
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