No dia em que o Pastor Jeremias me pediu para dar meu testemunho, foi com muito carinho que acolhi esta responsabilidade.
Os irmãos bem sabem que eu havia começado o curso de Teologia no Seminário Presbiteriano, em 2002. Estudava à noite, depois do trabalho. À época, interrompi o curso porque engravidei, estava ficando muito pesado para mim, por vários motivos. O chamado entretanto ali se mantinha, perene, insistente, desconhecedor de minhas dificuldades. Decidi então que quando a Stellinha completasse 1 aninho, retomaria os estudos; quando isto aconteceu, eu adoeci. Não tinha como trabalhar, muito menos como estudar e subir toda a escadaria do seminário, escrever, me assentar, nem fazer estes movimentos rotineiros que geralmente
a gente faz até sem ver.
Para quem não sabe, tenho uma doença que se chama miastenia gravis, que provoca fraqueza muscular porque o organismo fabrica anticorpos contra o próprio músculo. A fraqueza acontece nos braços e nas pernas, mas também na musculatura que sustenta a coluna, nos olhos (pálpebras), nos músculos da mastigação, da deglutição e até naqueles responsáveis pela respiração. Passei então alguns anos internando e desinternando, do quarto para o CTI e vice-versa, tentando medicamentos novos e tudo o mais de que a Medicina dispõe. Com isto tudo, não poderia mais engravidar; foi então que entendi que o presente que o Senhor havia me dado (sempre foi meu sonho ter uma filha chamada Stella, pois era este o nome de minha avó, que sempre foi meu exemplo de fé viva em todos os momentos) – este presente havia sido muito maior do que eu originariamente imaginara. Stella veio na hora certa.
E mais, da experiência aparentemente negativa que foi o adoecimento, com tantas dores e sofrimento, não só meus como também da família, dos amigos, dos irmãos em Cristo, pude ver, se assim posso dizer, o renascer da Fé, da Esperança, da União, do Perdão, da persistência e do bom humor na vida das pessoas a minha volta.
Percebi que Deus operava em mim uma cura que era de uma outra estirpe, era interior, trabalhando tudo aquilo de que eu necessitava, minha paciência, minha humildade, minha esperança; vi questionados o fundamento da minha fé, meus valores que caíram por terra, inchei 25 kg , perdi os cabelos, tive que lidar
com um espelho que não me reconhecia. Sem força e sem movimentos, me vi completamente dependente de tudo, até para me mover. Usei fraldas por muito tempo e questionei o que seria a dignidade – mas as fraldas eram trocadas com tanto respeito e tanto carinho, tantos cuidados, que acabei encontrando uma resposta para minha pergunta: aquilo era ser tratada com dignidade, adoecer com dignidade, coisa que grande parte de nós brasileiros não conseguimos ter nos tratamentos de saúde, no saneamento básico, na educação, no lazer, nas condições mínimas de vida. Então comecei a reconstruir os valores, e agradecer todo o carinho que recebia.
Muitas pessoas afirmavam que o Senhor poderia me curar quando Ele bem entendesse, como se fosse um milagre advindo da fé... Pois bem, vi o milagre acontecer: vi a disposição e a união de todos em torno de mim, até de quem eu não conhecia, acontecer. Vi cada dor insuportável ser medicada até se tornar suportável, vi médicos e enfermeiros se desdobrando, vi o milagre acontecer dentro de mim. Porque minha relação com Deus, se era um pouco mais formal, passou a ser de uma intimidade tamanha; nos momentos mais difíceis, sinceramente, me imaginava encolhidinha deitada no colo Dele, e Ele me afagava os cabelos... Quando os pré-conceitos caem, a gente encontra a liberdade de viver uma Fé sem barreiras, livre de dogmas, de amarras, de normas de conduta. Viver a fé é amar, é também se deixar amar.
Passei a adoecer “numa boa”. Tudo bem. Tudo bem ter angústia, ter medo, tudo bem estar adoecida, se uma outra cura me era administrada. E a melhora física, com o tempo, vem vindo também, Deus trabalha devagarinho e profundamente, tremendamente.
Pode parecer contraditório à primeira vista, mas depois de 2 anos de licença, me aposentei; graças a Deus, com proventos integrais. E agora me vejo melhorando, e retomando de uma outra maneira meu curso de Teologia, devagarinho, por enquanto só com uma disciplina. E todo o tempo do mundo para trabalhar para o Senhor. Aí permanece o chamado, sempre persistente. O Senhor não desiste mesmo da gente!...
Daí minha satisfação de poder dar este testemunho de alegria, de paz e serenidade, e de só poder bendizer, agradecer e cada vez mais me entregar completamente ao Senhor, tudo para Sua honra e Sua glória. Só Ele é capaz de tudo isto.
Agradeço aos irmãos todo o amor que tenho recebido. Amém.
Paulinha
11/04/07
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