sábado, 20 de novembro de 2010

Da Tolerância e Respeito Mútuo


É bem sabido que sou presbiteriana.

Convivo, porém, com amigos das mais diversas denominações da igreja protestante, hoje ditas “evangélicas”, com muitos católicos, outros espíritas, poucos budistas, alguns sem religião específica (crentes em Deus, entretanto) e talvez um ou outro que acredite apenas em princípios, éticos na verdade, mas nada mais do que isso; uma “mistureba”, para usar o nome de um desenho animado que a Stella assistia outro dia.

Tenho amigos que bebem, tenho aqueles que não bebem nem café; tenho aqueles solteiros, outros casados, amigados, separados, divorciados, namorando, “ficando”, enrolados; de orientação homo e heterossexual; aqueles que, independente da orientação, são celibatários.

Todos, é claro, escolhidos a dedo – e a recíproca, às vezes, chega a ser verdadeira: já fui escolhida também,
recebi esta graça.

Com esta profusão de “identidades”, ou identificações, digamos assim, acabei me deparando com o seguinte pensamento:

O que aconteceria se me visitassem à mesma hora um amigo evangeliquíssimo e duas amigas espíritas?!

Um amigo padre, uma amiga freira e dois amigos homossexuais “assumidos”?!
(estou brincando assim, mas aqui vou fazer um aparte: não posso deixar de dizer que penso que (quase) todo homossexual deveria, sim, sair do armário o quanto antes. Apesar da discriminação na sociedade, o sofrimento, creio, ainda seria bem menor do que aquele enfrentado desde a adolescência para ocultar da família, de pessoas da sua convivência uma coisa que na verdade não pôde “escolher” – ao se ver púbere, a atração já se fez daquele jeito. Teve que lidar com isso da melhor maneira que conseguiu – e isso não significa falta de respeito pela orientação alheia, nem crime, nem “sem-vergonhice”. Esta pessoa é capaz de amar e ser amada, tanto quanto qualquer um, e não ousemos (quem somos nós?) querer mudá-la...)

Bem, mas conseguiram entender o X da questão, não é mesmo?

Não que meus amigos sejam intolerantes, pelo contrário, estou na verdade querendo me referir a um contexto mais amplo, ambientes em que de uma forma ou de outra vivo ou de que ouço falar, muitos inclusive religiosos, vejam bem...

Falemos então do amor, que seria o tema central de toda e qualquer religião;

do amor, em suas múltiplas facetas e desdobramentos;

de amar ao próximo como a si mesmo...

Queria falar do respeito profundo que devemos a todo e qualquer ser humano, incondicionalmente. Independente daquilo em que ele acredita ou deixa de acreditar, do que faz ou deixa de fazer.

Citei um exemplo assim, simplesinho, mas então vamos complicar mais um pouquinho: o que dizer do amor e
respeito profundo que devemos aos seres humanos que se tornam serial killers, aos perversos, aos criminosos e estupradores, e assim por diante?!

Lembro-me de um filme em que a Susan Sarandon e Sean Penn atuaram, “Os Últimos Passos de um Homem”. Ela fazia o papel da freira que o visitava na prisão, que lhe deu todo o amor cristão e o levou à confissão e redenção final, apesar da pena de morte que sofreu...

E o que dizer da pena de morte?!

Que direito temos de fazer o papel de Deus, ainda por cima em uma sociedade em que prevalece uma justiça
altamente falha e parcial, em que a impunidade é regra para os poderosos, em que os que não o são dificilmente têm direito a uma defesa razoável?!

Amar quem é próximo da gente, assim como a nós mesmos, é muito, muito fácil; mas o que fazer, o que sentir pelas pessoas que são verdadeiramente diferentes da gente, por aqueles que inclusive violam os nossos direitos?!

O que fazer com a raiva e a repulsa que eles nos despertam, com a vontade que temos até de matá-los, algumas vezes?! Não que não possamos ter estes sentimentos – eles são humanos, inerentes a nós. Mas há que se lidar com eles, de processá-los aqui dentro.

Não que tenhamos de conviver com criminosos – amar nem sempre significa isso. A prisão, diga-se, existe porque se precisa dela. Entretanto, deve ser possível enxergar naquele ali um ser humano, que talvez tenha sofrido abusos, violência, abandono na infância, talvez não, porém algo aconteceu na formação de sua estrutura que o levou até ali... Como nós, não deixa de ser humano. Como julgar algo que nos escapa?

Desejar-lhe o bem, a evolução espiritual se esta for passível de acontecer, perdoar-lhe a falta setenta vezes sete vezes...

O que é isto que Jesus Cristo quer ensinar?

Surpreendemo-nos com as picuinhas do cotidiano, com a intolerância recíproca por motivos mínimos, diferenças que podem simplesmente e muito bem ser respeitadas, ao invés dessa mania de querer convencer
ou modificar o outro.

São as diferenças que enriquecem o convívio, são elas que dão idéias, que abrem os horizontes e colorem de
diversos tons a vida, que nunca deve ser cinza. São elas que impulsionam o crescimento individual e coletivo, a minha mudança como pessoa em cada circunstância, e graças a Deus pelas diferenças e pelos “pitacos” que os outros dão!!

Conviver não é fácil, amar nem sempre é fácil, quem disse que é?

Entretanto, é este o convite que o Cristo nos faz e, creio, o mesmo de tantas outras denominações religiosas que semeiam o amor e a tolerância.

 Examinemo-nos, então: temos vivido aquilo que pregamos?

O desafio é interior e diário, não se enganem...

Viver é lindo!!!


                                                
                                                                Paulinha.
                                                                                                             
                                                                 28/02/10

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