sexta-feira, 7 de março de 2025

PEDAÇO DE POESIA OU POESIA EM PEDAÇOS - Sobre Réveillons e Natais

"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí, entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante vai ser diferente.”

Este pedaço de poesia faz parte de uma inteira, erroneamente atribuída a Drummond, ao que parece; a autoria, discutida, aparentemente se divide entre dois autores, Roberto Pompeu de Toledo e Vilma Galvão.

Trata-se de uma crítica à sociedade industrializada, onde a produtividade é priorizada, mas que ao mesmo tempo nos leva a voltar a respirar, tomar novo fôlego, constatando uma realidade interna, que acontece mesmo com a maioria de nós. 

Os réveillons, ah, os réveillons! Novos dias de esperança e planejamento. Nada como, depois das festas, comemorações, começar tudo outra vez com ânimo renovado. 

Além disso, seguem-se férias, em muitos casos. E há recessos, como o do judiciário. Pouco depois, o carnaval. E então o ano começa, até parar novamente durante o pequeno descanso da semana santa. Bom, mas este não é bem o tema do texto.

As festas de fim de ano não costumam ser exatamente o que se diz delas, especialmente o Natal, data em que se polarizam emoções. 

Os Natais, a meu ver, são uma data pesada para inúmeras pessoas e famílias, seja por falta de harmonia entre elas, desunião, abandono  ou pela ausência física de outras, distantes ou que já não se encontram aqui neste plano. Sente-se um vazio, complementado pelos apelos da mídia que deturpa todo o sentido da celebração do nascimento de Jesus, ícone da celebração em muitas religiões.

Há também, naturalmente, o outro lado; lado de comemorações genuínas, de encontro, de aconchego, de gozo da presença e companhia de pessoas queridas, que se estendem para além da família, muito além.

E existe ainda a ‘comilança’. Verdadeiro festival gastronômico. Necessário? Há controvérsias.

Vêm ainda, as festas de confraternização. Emoções também polarizadas. Nem sempre os ambientes de trabalho etc. são saudáveis do ponto de vista de relacionamentos. Por outro lado, é muito gostoso quando as pessoas se relacionam bem e podem usufruir de um momento relaxante de descontração fora das pressões do trabalho, conversar outros assuntos, rir um pouco, compartilhar experiências.

Época de contraposição de valores, sentimentos, divisões internas do sujeito, que acaba sofrendo de uma forma ou de outra, verdade seja dita.

A união e a felicidade atribuídas ao Natal não passam de um mito a que todos aderimos com sorriso nos lábios, independente do que vai no coração. 

Isto sob meu ponto de vista.

Pareço pessimista? A meu ver, apenas constato e ‘verbalizo’ uma realidade sempre oculta sob um véu.

Mas, retomando: Ah, os réveillons! (Sorrio).

Eu mesma já fiz meus planos, tracei metas e espero ansiosa o dia do “milagre da renovação”, como diz o texto inicial.

Quero ser uma pessoa melhor, trabalhar melhor, fazer dieta, voltar à academia, retomar os estudos, cuidar de mim e do outro, arrumar um parceiro, mudar de casa, de cidade, de emprego, viajar, fazer um pé de meia, pagar contas atrasadas e por aí vai... Objetivos a se perder de vista, carregados de esperança. Legítima.

Realmente um novo fôlego. Dá para respirar de novo, inspirar e se jogar no ano vindouro, ainda que com cautela, isso é de cada um. 

A Esperança é um sentimento necessário que nos move e renova nosso gás. Que nunca a desmereçamos. 

Mas que tenha também um pezinho no chão, o que também se faz necessidade. Expectativas alcançáveis, para que se evitem frustrações.

Com o título, trago logo um pedaço de uma poesia cuja autoria é também controversa e faço alusão à ‘poesia em pedaços’, tal como o coração nesta época do ano. Pedaços alegres, pedaços vazios, pedaços felizes, acolhedores, pedaços de todas as formas e tamanhos que, se unindo, formam um todo, um coração.

O próprio Natal não deixa de ser Poesia e nunca deixará, ainda que em pedaços... Pois Jesus é Pura Poesia!

Quero ainda compartilhar um pequeno texto que uma amiga fez o carinho de me enviar e que traduz o que sinto. Espero que ela não se importe:

“Sem tanta pressa, sem ansiedades, sem atropelos nos passos... 

Mais calmaria, mais olhares de ternura, mais atenção nos detalhes ao longo do caminho...

Mais paz, mais pausas... porque a gente tem mais é que cultivar belos jardins por dentro."

É o que desejo para todos nós em 2025.

Felicidades, alegrias, muito bom senso, tolerância, harmonia, respeito por si mesmo, pelo outro e pelo nosso planeta! E paz, muita paz interior e entre os povos.

Um Feliz 2025!


Paula Mendes

29/12/2024

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