sábado, 8 de março de 2025

DESAPEGO

Eu me desapego
Tu te apegas
Ele também tenta
Nós nos apegamos
Vós vos apegais
Eles se desapegam

De alguma coisa, de uma ideia, de alguém...

O apego é uma palavra com que é difícil lidar; o ato de desapegar, ainda mais.
Vamos tentar.

Desapegar, segundo o dicionário, significa soltar, libertar-se, entre outras coisas.

Matéria, energia, alma, espírito.
Não entendo de física, mas sei que tudo é feito de átomos, que contêm elétrons, prótons e nêutrons. Os elétrons giram em torno do núcleo a velocidades diferentes. Quanto menor, mais matéria. 
Uma mesa, por exemplo, a gente vê, toca, coloca as coisas nela, mas na verdade ela ‘não existe’. Se os elétrons estivessem em uma rotação bem mais rápida, ela seria energia.
Que doido, né?!
Como é que nossa energia vital está ligada ao corpo, inanimado? Não é ela que lhe dá vida? Como é que a alma está ligada a essa energia, e o espírito?
Há quem não acredita nessa ‘baboseira’. Eu, sim.
Tenho uma compulsão de comprar que já me rendeu dívidas homéricas e dá muito trabalho; hoje um pouco mais arrefecida,   estou em tratamento, coisa difícil, pois ela cumpre um papel de dar vazão a certos sentimentos que não vêm ao caso no momento.
Apego material. 
Todos o temos, de uma forma ou de outra. Uns mais, outros menos. Uns em construção, outros em desconstrução.  Sinto pena dos que estão em construção e admiro, encantada, aos que o desconstroem.
Gente que só tem um vestido e o usa em todas as festas, por exemplo; gente que raspa o cabelo por praticidade e conforto; gente que não faz questão de ter nada mais que o necessário e que dá o devido valor a este mundo, o material.
Mas é claro que ele tem sua importância, mantenedor da vida. O alimento dela. Mas que não seja idolatrado.
Já nossa mente, nossa energia, nossa alma, nosso espírito...
Apegamo-nos a ideias, a pessoas e muito mais. A conceitos preestabelecidos, dogmas etc. Somos meio que fanáticos, possessivos, preconceituosos. Não queremos nos despojar de nossas ideias, abrir um pouco mais a mente para uma possibilidade diferente, pois estamos ‘certos’. 
Apegamo-nos a uma imagem, a nossa imagem e nosso corpo. Muitas vezes, exageradamente. Isso cumpre um papel na mídia, um papel social, um papel que muitas vezes, só Freud.
Apegamo-nos à vida.
Mas como desapegar?
No meu caso, venho me reconstruindo, reformulando, que tarefa difícil! Admiro muito mesmo quem já alcançou níveis mais evoluídos.
Tenho comprado menos e me desfeito de coisas desnecessárias, vivido com o básico, mas isso requer um tratamento, tratamento mesmo, ajuda profissional para além da ajuda de familiares e amigos, com muito investimento nele. É tudo um processo, neste caso, lento.
Dar valor ao que tem realmente valor.
O afeto, as relações, o amor. A conexão com Deus ou o Universo, com o planeta, o meio ambiente, o próximo. O próximo mais próximo e aquele mais distante. Há que se ter compaixão.
Nesse ínterim, quero contar uma estória. 
Meu tio Luís Carlos resolveu doar, em vida, seu corpo para a escola de medicina, quando passasse desta para melhor e assim o fez. Já fez a transição. Sua filha Andréa, falecida antes dele, também o fez. Mesma atitude na mesma família.
Há muito tenho pensado também em fazer o mesmo, ao que ontem dei o pontapé inicial; depois, claro, de ter conversado com a Stella há algumas semanas.
Entrei em contato com a escola de medicina da UFMG e aguardo o agendamento da visita domiciliar - pois não tenho condições físicas de ir até lá - para iniciar o processo.
Velório sem corpo. Desapego. Desejo de ser útil ainda após a morte, única coisa certa na vida de todos nós.
Claro que cada um com seus princípios, seus conceitos, sua cultura, seus sentimentos.
E como nos desapegar de pessoas, deixá-las ir? Deixá-las seguir seu caminho, deixá-las voar? Ou simplesmente deixá-las no passado, onde devem permanecer? Somos possessivos, muitas vezes as queremos só para nós.
Desapegar não significa não amar; pelo contrário, até. Pense bem.
Soltar o passarinho, de modo que ele venha ao seu jardim todas as vezes que quiser.
Desapegar-se de ideias é não ser fanático, é manter a mente aberta a outras oportunidades, a outras possibilidades, o que pode levar a mudanças inusitadas nesta vida e em outra, quiçá.
Desapegar-se da matéria, que meta, que objetivo, que graça!
Desapegar-nos.
Desapego de muitas outras coisas, de muitas outras formas.
Sei que ele é importante.
E que saibamos dar valor àquilo, o que é verdadeiramente importante.
Para você, o que é?
Vamos repensar a vida?
Boa noite, são cinco horas da manhã e vou dormir – ou já tomar um cafezinho.
Bom dia, na verdade!
Hoje são 08 de março, dia da mulher. Apegadas e desapegadas, ou em processo.
Parabéns para nós!
Fico por aqui.

Paula Mendes.

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