Sobre escolas, cicatrizes y otras cositas màs...
Já não escrevo há um tempinho; escrever, para mim, é fundamental. Me estrutura, me organiza, me renova a vida e a postura diante dela.
Penso que vou escrever alguma coisa bem específica e acaba que sai algo muito diferente, na maioria das vezes.
Sai o que tem dentro. Sai o que tem a esvaziar, ou preencher.
Estive pensando em escrever sobre a ansiedade, e sobre o ‘viver um dia de cada vez’; minha filha me disse que já escrevi sobre isso, o que não é mentira.
Nada me impede, porém, de escrever sobre um mesmo tema visto por outro ângulo, sob uma nova ótica, ou até mesmo escrever sobre o mesmo ponto de vista de uma forma diferente. Enfim.
Vi numa série ou filme uma pessoa falando sobre a importância de aprender a aprender. Pano pra manga! No caso, tinha a ver com a escola.
Qual seria o papel da escola? Ensinar a aprender e não simplesmente ensinar, entregar tudo bem mastigadinho para que se guarde até que um dia aquilo seja esquecido e passe batido. Ensinar a buscar, aprofundar, investigar; a interessar-se e fazer interessar.
Aprender com as provas, mesmo que se tenha errado nas respostas - que sempre podem ser relativas - tanto na escola quanto na vida, e sempre, sempre na escola da vida.
Pensei em escrever sobre a impermanência, já que a única coisa permanente na vida é a mudança... Aprendendo a evoluir com ela, aprendendo a aprender com elas, as mudanças...
Pensei em dizer que “prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.”
Pensei em escrever que não sou um saco de pancadas e que minha vida não se reduz a isto – e que basta eu não defini-la assim:
não sou miastenia gravis, tenho miastenia gravis;
Não sou fraqueza, tenho fraqueza(s) – e como!
Muito menos sou uma fortaleza, apesar de ter meus momentos. Mas que não me engane com minha vulnerabilidade!
Que conviver com a dor, com a insônia, com a ansiedade, é algo; com o mal estar. Há uma ‘felicidade estrutural’, uma ‘alegria estrutural’ que não me deixa desistir jamais, mas que não esconde nem nega a dificuldade da vida de cada um de nós. Nada fácil.
Pensei em escrever sobre os labirintos, e que eles têm saídas possíveis de serem encontradas, mesmo que demandem inúmeras tentativas e erros, até que se aprende com o acerto - e com os próprios erros também. Aprende-se, mesmo que se esteja perdido. Os caminhos e os becos são vários, entradas sem saídas, e ainda bem que se pode voltar atrás e recomeçar.
Tentativa e erro, o tempo vai passando e a gente vai amadurecendo e tentando não trilhar o mesmo caminho que não nos levou a nada, ou a algo não muito bom.
As cicatrizes, então, seriam a prova de que sobrevivemos.
“Às vezes eu escrevo umas poesias só
pra tirar a poeira do coração.” (Mauro Sérgio)
E, ainda que pareça clichê:
“Benditos sejam aqueles que transformam suas dores em aprendizado e seus espinhos em flores.
A vida é muito mais do que aparências.
O que sempre fica é a beleza que vem da alma!” (Paula Monteiro)
O fato é que a alma também tem suas feiuras, com as quais temos muito o que aprender, igualmente.
Só agora senti que começou o texto. Antes, apenas preliminares.
Aprender é sinônimo de apreender alguma coisa, absorver, experimentar, compreender, polir-se, capacitar-se, tentar, entre outros.
Bem o que quero da vida.
Minha vida não pode se resumir a um acidente de percurso que me deixou paralisada; pode ser muito mais que isso, e deve.
O que tenho a tirar de tudo isso? Há coisas muito mais profundas do que um corpo limitado, se há uma mente, um pensamento, uma alma, um espírito a pulular por dentro e dar o tom e a cor de tudo o que se passa.
Aprender a aprender pode abrir precedentes para um futuro melhor.
E não precisa ser exatamente ‘estudando’, mas por via da energia, do que se escolhe levar. Por via das dúvidas, ouve-se a intuição. Melhor forma de aprender, além de mais sutil e verdadeira.
Por que cargas d’água ouvimos tão pouco nossa intuição? Por que perdemos o contato com ela? Com o nosso próprio interior, nossa própria voz, o nosso divino?
Parece que as demandas externas exigem mais e tomam nosso tempo de uma forma devastadora.
É aprender com isso, aprender a desconstruir, é desaprender para apreender a realidade de uma forma diferente e mais saudável, mais leve, mais natural, mais simples.
É aprender a aprender com toda e qualquer situação ou circunstância da vida, independente de qual seja. Podemos nos apropriar deste conhecimento. Devemos.
Aprender com o exemplo alheio e com o nosso próprio, por que não? Nomeadamente, gostaria de citar meus pais, que aprendem com cada nova circunstância que a vida lhes apresenta, a Joana D’Arc, minha amiga e fiel escudeira, com o desapego com o qual vem evoluindo, a Eliamar, também amiga e fiel escudeira, com a disciplina com que alimenta sua vida, a Mirna, minha amiga de anos, com o mesmo diagnóstico ‘gravis’ que, aprendendo árabe, escreve de trás para diante, como da ‘morte’ para a vida, se é que me permite falar assim, com toda a criatividade, persistência, bom humor e dificuldades inenarráveis.
Aprendo, ainda, sem modéstia, com meu próprio exemplo; também com criatividade e persistência, não desisto nunca. Quero ser mãe de mim mesma, minha própria professora, além de muitos outros. Tenho meus desejos e planos; cursei Letras durante um ano e tive que parar por vários motivos, principalmente de saúde e financeiros, mas pretendo voltar e me formar. Não interessa quando. Quando puder, quando der. Dentro de expectativas possíveis, para evitar frustrações. Tento traçar planos dentro da realidade das limitações. E sempre disposta a revê-los, refazê-los.
“Se não conseguir realizar seus sonhos, não os jogue fora e nem desista deles. Guarde-os num compartimento do coração.
De vez em quando visite-os, tire o pó, regue, adube, afague e quando menos esperar...
Eles estarão prontos para se tornarem realidade!
Não importa o tempo que passar, em algum momento eles vão florescer.” (Sandra Liepkaln).
Afinal, pra quê a vida? Qual o sentido?
Aprender e ensinar, ensinar e aprender, acima de tudo compartilhar, somar com ternura e afeto, empatia, compreensão.
Que aprendamos a ser cada vez mais humanos, é o que a vida quer de nós.
Texto meio que brainstorm, não é mesmo? Meio esquisito?
Bem, é o que temos para hoje!
Paula Mendes
07/02/2025
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