Seiscentos e Sessenta e Seis
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente...
e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Percorrendo o caminho que leva a mim mesma, e a você também!! Na vida, é fundamental acreditar!!!!
quarta-feira, 26 de março de 2025
segunda-feira, 24 de março de 2025
domingo, 23 de março de 2025
segunda-feira, 10 de março de 2025
TRANSCORRER
Tempo, tempo, tempo...
Por que tens voado, entregue, esquecido de ti?
Eixo da Terra que gira depressa?
Algo mais?
Algo mais: tens passado;
Tens presente e futuro também.
Tempo, tempo, tempo,
Por que tens passado tão célere?
Transcorres à revelia.
Vida que segue
Vida que corre
Que ocorre,
Acontece.
Tempo, tempo, tempo
Que arrefeces e acaloras,
De novo te esquentas
Vida que brota e renasce
E que, inusitada, decorre;
Sim e não, e talvez.
Tempo, tempo, tempo
Que em meio tempo assimilas processos.
Ecoam de dentro pra fora
Escoam de dentro de ti,
Ritmo próprio;
Rápido e veloz,
Vertiginoso.
Lento, indolente, moroso.
De repente, escorres.
Sucessão.
Vitórias, conquistas,
Decepções e fracassos.
Desistências.
Insistências, persistências;
Incongruências;
Interferências, intercorrências.
Impermanência.
Expectativas.
Tudo reformulas:
Mudas as respostas
Mudas, as perguntas...
Tempo, tempo, tempo...
Simplesmente, transcurso.
Transcorrência.
Paula Mendes
10/03/25
MOTIVO
“Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.”
Cecília Meireles
domingo, 9 de março de 2025
RIMÃ
SOBREVIVÊNCIA
sábado, 8 de março de 2025
DESAPEGO
sexta-feira, 7 de março de 2025
EXPECTATIVAS
INESPERADO
PARA DEBORAH SECCHIN, MINHA "RIMÃ"
O INEVITÁVEL
“Houve mil coisas que eu não escolhi.
Chegaram de repente, sem aviso, e transformaram a minha vida para sempre.
Coisas boas e ruins, que eu nunca procurei, mas que me encontraram, mudando o rumo dos meus dias.
Foram caminhos que perdi, uma vida que não esperava viver.
Mas, se não pude escolher o que veio, eu escolhi como enfrentá-lo. Escolhi sonhos para colorir meus dias, esperança para sustentar minha alma, e coragem para desafiar o inevitável. Porque viver é isso: não controlar o que chega, mas decidir como permanecer de pé.”
___
Rudyard Kipling
ESPERANÇA
A esperança é verde, de vários tons de verde. Verde bandeira, verde clarinho, verde água, verde musgo e até 'verde calcinha', se é que isso existe.
A esperança é nossa natureza.
Combinada ao marrom do tronco das árvores e também do pelo dos animais. Combinada ao marrom das pequenas pedrinhas que visualizo sob meus pés mergulhados em
um pequeno riacho de águas claras e mínimos peixinhos.
As pedras são de um marrom de multitonalidade e multitamanhos.
Piso nelas e sinto-lhes uma resistência que machuca, apesar de sua beleza.
Tento simbolizar.
Obstáculos, desafios.
Mas então de onde viria a beleza? Talvez da nossa natureza, da descoberta de que as coisas são o que são, sem julgamentos. Tudo está onde deveria estar.
Entretanto, o riacho corre para o rio, onde se encontram peixes maiores e uma correnteza que como um ímã se dirige ao mar.
Aí a benventurança, a esperança de poder pular ondas em uma água morna e refazedora, revigorante.
O mar das nossas fantasias, a esperança.
Não faço planos como fazia, pois tantos não se podem cumprir e me restaria a frustração. Não.
Enxergo perspectivas, alternativas, tento concebê-las.
Há pouco consegui dar cinco passinhos sem me segurar a ninguém. Com supervisão, naturalmente, mas ao mesmo tempo segura de mim também.
Deus, mas que felicidade!
Juntamente com isso, tive que abaixar a pressão do bipap. Boas novas! Sinais de melhora.
Ainda me encontro bastante fraca, ainda não consigo conversar sem me cansar, fazer um leve esforço sem me mostrar ofegante e com a musculatura cansada a pequenos movimentos.
Olhando assim, ninguém fala; parece que não tenho nada.
A miastenia não fica assim, visível, exceto em alguns casos.
MAS há a melhora a se pronunciar.
A dúvida era se aconteceu pela interrupção de um psicotrópico (ao mesmo tempo ansiolítico, antidepressivo, estabilizador do humor e sonífero) - será que, como inúmeros medicamentos na iadtenia, estava contribuindo para piorar os sintomas?
O fato é que a melhora coincidiu com a conclusão de um diagnóstico, uma infecção arrastada e o início de seu tratamento. Como os medicamentos, qualquer infecção pode piorar também os sintomas da miastenia.
No caso, uma 'esporotricose'. Causada por um fungo que é encontrado no ambiente e que pode ser transmitido por arranhadura de animais, principalmente gatos, mas também cachorros etc. Ou pode-se inalar seus esporos.
Apareceu- me no final do ano passado um pequeno nódulo no cotovelo, depois outros satélites, com aumento de seu número e tamanho.
A cultura realizada depois da biópsia encontrou o dito, que já está sendo tratado por tempo indefinido, devido à imunossupressão.
Será que os sintomas pioraram por causa dessa infecção? Será que começaram a melhorar por causa desse tratamento? (Especulo).
O fato é que diante disso pudemos tentar reduzir, depois de um loongo período, a dose do corticoide. Vai que cola!
Reduz o inchaço, o apetite, a glicemia e tantos outros efeitos.
Estou um pouco de luto, pois não posso mais ter contato com a Mel, que gosta de me arranhar pra chamar pra brincar. O luto é provocado por qualquer perda significativa, não apenas a morte. Sigamos. Adaptamo-nos a tudo, não somos quadrados. Eu, atualmente, uma bolinha (risos sérios).
Perspectiva de mudança, de esperança.
E a ansiedade a toque de caixa, que não me facilita dormir ou parar de especular.
Tudo ao mesmo tempo.
Com a melhora, há de dar uma arrefecida.
Fácil falar:
ENTREGO,
CONFIO,
ACEITO E
AGRADEÇO.
MAS TAMBÉM NÃO ME FURTO A DESEMPENHAR MEU PAPEL.
SOU ATIVA, NÃO PASSIVA.
RESILIENTE, NÃO RESIGNADA.
TAMBÉM TOMO PARTE NO MEU DESTINO.
PORÉM, COMO DIZ O MURILO, "REGIDOS PELO ETERNO E IMUTÁVEL".
Regidos também pela transmutação da luz violeta, pela cura da luz verde, da conspiração do universo em nosso favor.
Basta acreditar, fazer nossa parte.
As coisas são o que são, de nada adianta brigar com elas.
No entanto, há que se ter esperança.
E vamos em frente!
Paula
BOM GOSTO
Que bom gosto o dele, por gostar de nós (risos)...
Verdade seja dita: que bom gosto o nosso, por amá-lo tanto, conviver com ele, rir de seu jeito ímpar, de seus comentários, de suas reclamações, como se fossem verdadeiras e não viessem apenas da boca pra fora...
Que bom gosto o nosso, de poder entende-lo!
Tão engraçado naquelas suas maneiras e até maneirismos, um pouco exagerado, dizia tudo o que lhe viesse à cabeça.
Mais recolhido à sua solitude, nem sempre apreciava a presença de muitas pessoas á sua volta. Mundo próprio.
Mundo amplo dentro de seus próprios aposentos, movido a músicas, eclético, a cinema, filmes e séries de todos os gêneros. Bom gosto. Sabia o que indicar e contraindicar. Assistia e ouvia a tudo, selecionava a dedo.
Bom gosto gastronômico, igualmente seletivo, não se contentava com pouco, com o mediano. Preferência para doces, mas sabia muito bem escolher seus pratos e sabores. Difícil ver bom gosto assim, bem como para viagens, para hotéis, para pessoas com quem dividir seus hábitos, sua vida, suas peculiaridades.
Viveu como quis. Fazendo planos para novas instalações para TV e cia.
Trazia consigo aquele tino especial que logo fazia “tocar o sino” dentro dele para pessoas, digamos, de caráter ou intenções duvidosas. Era bater e valer, na maioria dos casos. Quase um ‘inconsciente a céu aberto’.
Generoso por trás de todos os ‘NÃO’ que dizia, disponível, coração mole, mole! Carinhoso a seu modo, atencioso. Pureza de espírito, pureza de alma. Ingenuidade, até. Poderia dizer que era um anjo escondido por detrás de suas maneiras contrárias à primeira vista.
Contar com ele.
Cuidava de meus pais, assim como era cuidado.
Pude ter o privilégio de ser meio que sua mãe também, acompanhando-o sempre que possível, de ter sido certa referência em casos de dúvidas, conflitos etc.
Feliz de quem teve o prazer de viajar com ele, ir ao cinema, a restaurantes e docerias, de ser sua companhia e seu amigo. Que bom gosto!
Tão espontâneo, meu Deus! Quando gostava, gostava, quando não...
Ainda ouço sua risada de um tom alto, vejo seus gestos ao conversar, sinto seu amor por cachorros, seus cuidados e carinho com eles.
Ainda posso escutá-lo me chamar de ‘Raimundinha’, véinho!
Faz quase um ano... Mas você estava aqui outro dia mesmo!
Ainda não descobri como homenageá-lo fidedignamente, parece que sempre vai faltar um pedaço, que falta!
(Choro por dentro).
No entanto, ao lembrar de você, sempre rimos, não há como! Lembranças gostosas.
Logo que nasceu e foi levado para casa, encontrava-me na casa de minha madrinha quando minha mãe me ligou, após aquela dúvida atroz para escolher seu nome, comunicando:
- Vai se chamar Maurício!
Que bom gosto!
Privilégio o nosso!
Agradeço.
Paula Mendes
03/05/2024
A CADEIRA AZUL
Lá estava ela, pra quem tivesse olhos de ver. De enxergar, na verdade; mesma diferença entre ouvir e escutar. Quando você escuta, você enxerga a pessoa, coloca-se no lugar dela, tem compaixão. E olha que eu e minha ‘rimã’ temos, cada uma, um probleminha diferente em olhos contrários.
Mas vimos, enxergamos. No meio do caos, uma cadeira azul. Simples, singela, novinha, de um turquesa delicado, cheia de furinhos, aparentemente confortável, um encanto. Demos uma ré para admirá-la por mais um segundo.
Dali, passamos a refletir sobre a beleza que não desvelamos, que não descobrimos nem saboreamos. Há beleza a ser revelada em qualquer canto, por mais caótico, triste, mal apanhado que seja.
Assim, com as mais variadas e inusitadas circunstâncias da vida. Com o imprevisível e as inevitáveis mudanças.
Já houve épocas em que estive com o estado de saúde bem grave, no entanto, muito bem humorada. Até meio que discrepante de tudo. Pouca gente entendia. Escrevi textos em que falava de fé e da importância de entender a dificuldade da vida sob uma outra ótica. Débora, minha madrinha, certa vez me acompanhou ao PA porque eu sentia uma dor abdominal, ao que ela me sussurrou: “Paula, pelo menos faz cara de dor, senão ninguém vai acreditar no que você está sentindo...” Sou assim.
Quando da adolescência dei muito trabalho e preocupações. Engraçado, só quando a gente se torna mãe é que entende os nossos pais. E muitas vezes, também, só com o passar do tempo passamos a compreender eventos passados.
Em 1996 tive um companheiro cujo primo era psiquiatra, com o qual fui me consultar e saí, ao final do atendimento, com o diagnóstico de “psicose maníaco depressiva”, hoje conhecido como “transtorno bipolar”. Fiz uso de vários psicotrópricos à época, inclusive neurolépticos, antipsicóticos, antidepressivos, todos com muitos efeitos colaterais, até que fui encaminhada a outro profissional que discordou daquela hipótese diagnóstica e passou a me tratar de uma depressão, tanto com medicação como com psicoterapia. É verdade, já tive depressões homéricas.
No entanto agora, decorridos muitos anos e sendo acompanhada por outro profissional indicado por este último, voltamos ao diagnóstico inicial: ‘transtorno bipolar tipo II’, aquele em que o paciente não apresenta um quadro de mania franca mas, sim, sintomas de hipomania: o humor permanece eufórico, mas não de forma intensa, o pensamento acelerado até o ponto de não se conseguir dormir ou parar de pensar demais. Acrescente-se sinais expressivos de TOC (transtorno obsessivo compulsivo), em que os objetos têm que ter distância certa uns dos outros, ordem certa, lugares certos, tudo etiquetado etc. E muita mania, pra não deixar de perder o chiste.
Desde então, passamos a reinterpretar os sintomas da adolescência, mais intensos que os típicos dessa fase em geral e inclusive os quadros depressivos anteriores. Além do meu humor incongruente durante uma dura fase da vida.
Ao comunicar este diagnóstico com o Paulo Roberto, meu neurologista que me acompanha desde o início do tratamento, ouvi um sonoro “faz sentido!”. Só rindo!
Este tipo de informação não se sai compartilhando por aí, tal como faço agora. Os transtornos mentais ainda são tratados com muito estigma e muito se repete – ou se pensa – “esta pessoa é louca.” Nada disso! Podemos até não ser normais, mas visto de perto, quem o é? Talvez o normal seja não ser normal, não é mesmo?
Parafraseando meu pai, “cada um é cada qual e deve ser tratado consoante”. Nada mais verdadeiro, somos únicos e ricos, ímpares, diversos e dignos de respeito, incentivo, assim como de críticas amorosas, elogios e tudo o mais.
Do meu ponto de vista, há no mínimo dois ângulos sob os quais enxergar o passado: o primeiro, a vantagem de ter podido enfrentar aquela fase sem muito sofrimento interno, o que teria me ajudado e ao mesmo tempo ajudado quem cuidava de mim, tornando tudo um pouco mais fácil; por outro lado, onde o pé no chão? A consciência da gravidade etc.?
Um ano e três meses depois, voltei para casa ainda acamada e passei a tentar compensar, inconscientemente, o tempo perdido com atitudes bastante equivocadas. Contraí o mal hábito de fazer compras supérfluas, desnecessárias, dispensáveis e que se transformaram numa compulsão de comprar objetos mal escolhidos com urgência, sem distinção, baratos, de má qualidade e que me renderam, por incrível que pareça, de blusinha em blusinha, de chinelinho em chinelinho, uma dívida equivalente ao valor do meu apartamento calculado pelo IPTU ou ainda mais. Traziam um alívio imediato e problemas inenarráveis logo após.
Hoje, com medicação, muita psicoterapia e esforço, ainda com algumas recaídas, pago empréstimos a perder de vista e conto com a ajuda inestimável da família, não apenas ajuda de custo, mas também puxões de orelha e colocação de limites, imprescindíveis. Tiro o chapéu para o meu pai pela mudança de posição de quem sempre me passou a mão na cabeça para uma atitude mais firme e de coragem a me dizer: “se vira!”
Quando há várias pessoas assentadas em um sofá, se uma se move, todas as outras têm que readaptar a própria posição e assim é. Aos poucos vou me readaptando, com a ajuda de todos, incluindo a Stella, que se senta comigo a reestudar o orçamento mensal para cortar todos os gastos possíveis, de modo que possam caber dentro de uma receita mensal limitada. Tarefa nada fácil. Mas possível, custei a me convencer. Sem desculpas ou subterfúgios.
Repetindo o termo utilizado, tiro o chapéu para o Rogério, primo querido e meu médico também desde o início da miastenia, que há pouco passou a não atender meus telefonemas e mensagens excessivos, deflagrados por uma ansiedade incontida e incontrolável e contrários à minha própria vontade. Diante desta reação, fui obrigada a me deslocar daquele lugar e paulatinamente (para não perder a oportunidade de usar meu nome), construir um outro, o que ainda estou tentando, a muito custo. Minha mãe disse a ele: “a Paula está tentando falar com você”, ao que ele respondeu: “é, estou dando um tempo mesmo!”. Peço desculpas, Rogério e equipe.
Retomando o fio anterior, consegui, ainda, ter o insight do quanto eu mesma passei sempre a mão na cabeça da minha filha, a mimá-la e tentar compensá-la por um tempo supostamente perdido em que não pude estar muito presente. Graças a Deus, lidamos com a mudança diariamente, estando ou não abertos a ela. Que estejamos! Amadurecemos as duas; todos, na verdade, e todos os dias.
Nada como o amor e o diálogo. E as entrelinhas também.
Voltando à vaca fria (pensaram que havia me perdido, não é mesmo?), hoje me preparo para um transplante de medula óssea, de mim para mim mesma, autólogo. Quadro grave, solução meio que radical, mas a possível. E volto a romantizar, naquela tentativa inconsciente de fugir ao real, a colocar os pés no chão. Romantizar é bom, mas ao mesmo tempo não é. Em meio a muita ansiedade e medo, encontro-me de certa forma eufórica, hipomaníaca, acelerada, medicada para ambas as condições e com psicoterapia para o enfrentamento de toda esta situação.
Tal como meu pai, sou uma otimista inveterada. Ele, no entanto, é mais sensato e nada bipolar.
Sigo com as vantagens e desvantagens de minha condição, aceitando e assumindo suas consequências, com as quais, querendo ou não, tenho que lidar. Melhor querer, facilita para todos nós.
Não deixo de pensar, entretanto e ainda, que uma leve euforia me dá olhos para enxergar uma cadeira azul no meio do caos e as estrelas que estão lá em cima, no céu; a contrapartida é que é perigosa. Tudo tem um meio termo, até o café que se faz lá em casa que, segundo um amigo, não é forte nem fraco, é “meio termo”.
Sigamos, nas palavras do Murilo, “criando uma nova experiência, um dia de cada vez, força, coragem, determinação, fé, para abandonar o velho e experimentar o novo, porém regidos pelo Eterno e Imutável”.
Vamos em frente!
Paula Mendes
21/04/2024
SENTIDOS
À procura.
Sentido da vida.
Quem não?
Quem exatamente sou eu, e para quê estou aqui? Por que o passado, por que o presente e que será do futuro? Do nosso...
Acho que devo me perguntar o para quê e não o porquê.
Meus sentidos me guiam, me norteiam, por vezes me atrapalham. Temos 6 deles? Visão, audição, paladar, olfato, tato; e intuição - talvez o mais importante deles? Famoso sexto sentido.
Trazemos na alma uma sensibilidade, uma percepção mais apurada que somente ao nos conectarmos com o universo podemos sentir. Os outros sentidos são físicos; coisa que, acamada do jeito que estou, tendo a relevar um pouco, a transcender e buscar.
Sentidos. Teríamos o sétimo, o oitavo? Com toda a certeza.
Deparo-me com um novo modo sentido de ser. Dividido. Venho sentindo.
Pareço sorumbática? Sim, tem hora que sim.
Qual o sentido de tudo isso? Um mistério. Ninguém sabe ao certo responder. Quem tem fé tenta achar uma resposta, que sim, tudo teria um propósito e que talvez não o estejamos enxergando claramente naquelas circunstâncias.
Verdade seja dita, quem é aquele que tem fé o tempo todo? Bem o quereríamos, bem o desejamos!
Duvidamos, questionamos, e por que não?
É isso um dos combustíveis para continuarmos.
De nada temos – nem teremos – certeza, e isso é bom. Conduz a um próximo passo. Num outro plano, talvez, a alcancemos.
Tenho cá meus desejos; vontade de fazer as coisas, sim. No entanto, dependente. Tenho que pedir um copo d’água.
Adapto-me, pois não sou quadrada, sou esférica; não sou geometria simplesmente, mas geometria espacial; ocupo espaço, sou corpo, tridimensional ou mais, consigo me deslocar para todos os lados, tenho inércia, aquilo que me faz me manter no mesmo movimento e sentido, gravidade em todos os sentidos, brincadeira também. Seriedade e risos.
Sou redonda como a Terra. Elíptica. Sou um Universo. Tenho um buraco negro que me suga em mim mesma; desfaço-me e me refaço. Estrela que morre cuja luz ainda se vê mesmo depois; estrela que nasce. Vida que se renova, juntamente com novas perguntas, novos arremedos de respostas.
Desejos frustrados. Baixar as expectativas? Alinhá-las.
“Fé é não ter certeza de nada e ainda assim acreditar em tudo que Deus possa vir a fazer por você.
É seguir o caminho que Ele traçar, sem retroagir, sem perder o foco, acreditando.
É ver as portas abertas quando elas ainda estão fechadas.
É rasgar a alma e o coração, ofertando ao Divino Poder em crença e gratidão.
Acima de tudo, deixar o amor e a esperança germinarem no coração”.
Recebi de uma amiga.
Dizem que o que acontece externamente reflete o que vai por dentro. Esta fala me divide sobremaneira. Sinto-me culpada. Sou eu que estou causando tudo isso? Complicando tudo o que tem sido complicado? Que parte tenho nesse todo? Que parte o destino, que parte Deus, que parte o livre arbítrio, que parte o carma? Consequências do que plantei? A vida me parou? O que não estou aprendendo? Ou: o que estou aprendendo?
Então, se eu mudar o que vai dentro de mim, mudo o que está fora? Em que sentido?
Acho que não apenas fisicamente.
Tenho uma alma, um espírito. Acredito que estou aqui para ser um instrumento; posso até não estar conseguindo, não estar conectada, sintonizada, harmônica, mas acredito realmente nisso. Para isso estaríamos todos neste plano.
De uma oração, “(...)creio que meu propósito final é Te expressar(...)”
É o que creio. Professo minha fé. Nem por isso, deixo de tê-la em muitos momentos.
Acredito também nas pessoas que não a têm e expressam o amor muito, muito mais verdadeira e intensamente do que muitos que professam uma delas.
Dogmas. Religião. Religiões. Gaiolas, como diria Rubem Alves.
Para mim, há o Amor e a vivência dele, independente do nome. Solidariedade, empatia etc.
Taí o sentido. Acho que achei.
Estou acamada. Tenho que pedir um copo d’água. Qual o sentido?
Pois é. Vai muito além disso.
Eu que me vire para ser instrumento. O que faço com isso? O que estou fazendo com isso? O que tenho que fazer com isso?
Criatividade é pra essas coisas.
Ou: o que estou deixando de fazer com isso? Pergunto. Naquilo que depende exclusivamente de mim, poderia eu estar em outra situação? O que não estou enxergando? O que a vida está me mostrando, escancarada e eu, ceguinha de tudo?
Tento sair de mim mesma e me enxergar de fora, do alto, sei lá. Exercício recomendado a todos.
Não somos nosso próprio umbigo. Somos um todo. Um universo. Somos um universo à parte, único, mas também um universo ao todo, a humanidade, o planeta, o sistema solar, a galáxia etc. etc. etc. Não temos noção.
Somos sem noção.
Contamos, entretanto, com a intuição (rimou, né?!), com nossos próprios sentidos a nos nortear o sentido.
Que nos falhe a audição, a visão, mas não a noção trazida por esta fagulha que arde dentro de nós.
O sentido da vida. A busca por ele.
A busca por Ele.
São 04:25.
Dorme com um barulho desse!
Paula Mendes
22/02/25
FORÇA
"O que revela a nossa força não é sermos imbatíveis, incansáveis, invulneráveis. É a coragem de avançar, ainda que com medo. É a vontade de viver, mesmo que já tenhamos morrido um pouco ou muito, aqui e ali, pelo caminho. É a intenção de não desistirmos de nós mesmos, por maior que às vezes seja a tentação. São os gestos de gentileza e ternura que somente os fortes conseguem ter. "
🙏
Ana Jácomo
APRENDENDO A APRENDER - MISCELÂNEA
Sobre escolas, cicatrizes y otras cositas màs...
Já não escrevo há um tempinho; escrever, para mim, é fundamental. Me estrutura, me organiza, me renova a vida e a postura diante dela.
Penso que vou escrever alguma coisa bem específica e acaba que sai algo muito diferente, na maioria das vezes.
Sai o que tem dentro. Sai o que tem a esvaziar, ou preencher.
Estive pensando em escrever sobre a ansiedade, e sobre o ‘viver um dia de cada vez’; minha filha me disse que já escrevi sobre isso, o que não é mentira.
Nada me impede, porém, de escrever sobre um mesmo tema visto por outro ângulo, sob uma nova ótica, ou até mesmo escrever sobre o mesmo ponto de vista de uma forma diferente. Enfim.
Vi numa série ou filme uma pessoa falando sobre a importância de aprender a aprender. Pano pra manga! No caso, tinha a ver com a escola.
Qual seria o papel da escola? Ensinar a aprender e não simplesmente ensinar, entregar tudo bem mastigadinho para que se guarde até que um dia aquilo seja esquecido e passe batido. Ensinar a buscar, aprofundar, investigar; a interessar-se e fazer interessar.
Aprender com as provas, mesmo que se tenha errado nas respostas - que sempre podem ser relativas - tanto na escola quanto na vida, e sempre, sempre na escola da vida.
Pensei em escrever sobre a impermanência, já que a única coisa permanente na vida é a mudança... Aprendendo a evoluir com ela, aprendendo a aprender com elas, as mudanças...
Pensei em dizer que “prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.”
Pensei em escrever que não sou um saco de pancadas e que minha vida não se reduz a isto – e que basta eu não defini-la assim:
não sou miastenia gravis, tenho miastenia gravis;
Não sou fraqueza, tenho fraqueza(s) – e como!
Muito menos sou uma fortaleza, apesar de ter meus momentos. Mas que não me engane com minha vulnerabilidade!
Que conviver com a dor, com a insônia, com a ansiedade, é algo; com o mal estar. Há uma ‘felicidade estrutural’, uma ‘alegria estrutural’ que não me deixa desistir jamais, mas que não esconde nem nega a dificuldade da vida de cada um de nós. Nada fácil.
Pensei em escrever sobre os labirintos, e que eles têm saídas possíveis de serem encontradas, mesmo que demandem inúmeras tentativas e erros, até que se aprende com o acerto - e com os próprios erros também. Aprende-se, mesmo que se esteja perdido. Os caminhos e os becos são vários, entradas sem saídas, e ainda bem que se pode voltar atrás e recomeçar.
Tentativa e erro, o tempo vai passando e a gente vai amadurecendo e tentando não trilhar o mesmo caminho que não nos levou a nada, ou a algo não muito bom.
As cicatrizes, então, seriam a prova de que sobrevivemos.
“Às vezes eu escrevo umas poesias só
pra tirar a poeira do coração.” (Mauro Sérgio)
E, ainda que pareça clichê:
“Benditos sejam aqueles que transformam suas dores em aprendizado e seus espinhos em flores.
A vida é muito mais do que aparências.
O que sempre fica é a beleza que vem da alma!” (Paula Monteiro)
O fato é que a alma também tem suas feiuras, com as quais temos muito o que aprender, igualmente.
Só agora senti que começou o texto. Antes, apenas preliminares.
Aprender é sinônimo de apreender alguma coisa, absorver, experimentar, compreender, polir-se, capacitar-se, tentar, entre outros.
Bem o que quero da vida.
Minha vida não pode se resumir a um acidente de percurso que me deixou paralisada; pode ser muito mais que isso, e deve.
O que tenho a tirar de tudo isso? Há coisas muito mais profundas do que um corpo limitado, se há uma mente, um pensamento, uma alma, um espírito a pulular por dentro e dar o tom e a cor de tudo o que se passa.
Aprender a aprender pode abrir precedentes para um futuro melhor.
E não precisa ser exatamente ‘estudando’, mas por via da energia, do que se escolhe levar. Por via das dúvidas, ouve-se a intuição. Melhor forma de aprender, além de mais sutil e verdadeira.
Por que cargas d’água ouvimos tão pouco nossa intuição? Por que perdemos o contato com ela? Com o nosso próprio interior, nossa própria voz, o nosso divino?
Parece que as demandas externas exigem mais e tomam nosso tempo de uma forma devastadora.
É aprender com isso, aprender a desconstruir, é desaprender para apreender a realidade de uma forma diferente e mais saudável, mais leve, mais natural, mais simples.
É aprender a aprender com toda e qualquer situação ou circunstância da vida, independente de qual seja. Podemos nos apropriar deste conhecimento. Devemos.
Aprender com o exemplo alheio e com o nosso próprio, por que não? Nomeadamente, gostaria de citar meus pais, que aprendem com cada nova circunstância que a vida lhes apresenta, a Joana D’Arc, minha amiga e fiel escudeira, com o desapego com o qual vem evoluindo, a Eliamar, também amiga e fiel escudeira, com a disciplina com que alimenta sua vida, a Mirna, minha amiga de anos, com o mesmo diagnóstico ‘gravis’ que, aprendendo árabe, escreve de trás para diante, como da ‘morte’ para a vida, se é que me permite falar assim, com toda a criatividade, persistência, bom humor e dificuldades inenarráveis.
Aprendo, ainda, sem modéstia, com meu próprio exemplo; também com criatividade e persistência, não desisto nunca. Quero ser mãe de mim mesma, minha própria professora, além de muitos outros. Tenho meus desejos e planos; cursei Letras durante um ano e tive que parar por vários motivos, principalmente de saúde e financeiros, mas pretendo voltar e me formar. Não interessa quando. Quando puder, quando der. Dentro de expectativas possíveis, para evitar frustrações. Tento traçar planos dentro da realidade das limitações. E sempre disposta a revê-los, refazê-los.
“Se não conseguir realizar seus sonhos, não os jogue fora e nem desista deles. Guarde-os num compartimento do coração.
De vez em quando visite-os, tire o pó, regue, adube, afague e quando menos esperar...
Eles estarão prontos para se tornarem realidade!
Não importa o tempo que passar, em algum momento eles vão florescer.” (Sandra Liepkaln).
Afinal, pra quê a vida? Qual o sentido?
Aprender e ensinar, ensinar e aprender, acima de tudo compartilhar, somar com ternura e afeto, empatia, compreensão.
Que aprendamos a ser cada vez mais humanos, é o que a vida quer de nós.
Texto meio que brainstorm, não é mesmo? Meio esquisito?
Bem, é o que temos para hoje!
Paula Mendes
07/02/2025
DICOTOMIA
Luz x escuridão;
Bem x mal;
Razão x emoção;
Tristeza x felicidade;
Amor x ódio;
Princípio do prazer x princípio da realidade;
Pulsão de vida x pulsão de morte.
Assim por diante.
Somos ‘dicotômicos’, se é que existe este termo. Dentro em nós moram luz e escuridão.
Segundo Freud - sucintamente falando - o princípio do prazer estaria nos ‘compensando’ ou evitando que enfrentássemos o sofrimento intrínseco da vida através da busca desmedida pelo prazer.
Ao contrário, o princípio da realidade construiria o adulto responsável, capaz de tolerar frustrações e adiar recompensas.
Somos dois em um; na verdade, muitos em um só. Únicos, ao mesmo tempo. Cada qual é cada qual e lida com porções diferentes destes princípios dentro de si, que se modificam a cada nova circunstância.
Trazemos em nós a pulsão de vida, relacionada à preservação e reprodução, relações de afeto etc. e ao mesmo tempo, trabalhando em conjunto, a pulsão de morte, que se relaciona à destruição, às vezes até mesmo agressão, dirigida a si mesmo e ao outro.
Somos o bem e o mal, 'tudo junto e misturado', não adianta disfarçar. Apesar da positividade tóxica em voga, todos sabem e podem admitir, ainda que internamente, que os dois lados aí estão, sobrepostos.
No momento encontro-me pré-diabética e hipertensa, tudo induzido pelo uso prolongado do corticoide.
Hoje passo a entender, ainda que minimamente, uma criança diabética em seu sofrimento de não poder comer aquelas guloseimas nas festinhas de aniversário de colegas da escola; lembro-me bem de um caso desses, de quando era criança. Levava ao choro e a um sofrimento imenso.
Se para mim tem sido tão difícil evitar certos alimentos, pois que sou uma ‘formiga doceira’, imagino para aquela criança.
Daí já se colocam o princípio do prazer e o de realidade, a pulsão de vida, de autopreservação, versus a pulsão de morte, que seria como que ‘chutar o balde’, inclusive numa autossabotagem inconsciente, possivelmente.
Difícil.
Somos dicotômicos.
Não podemos julgar o outro, já que não calçamos seus sapatos pelos percalços da vida. Fácil demais fazê-lo e, assim, evitar olhar para si mesmo.
A meu ver, as compulsões viriam do princípio do prazer, prazeres inadiáveis, e também estariam relacionadas à pulsão de morte.
Compro muito; bebo muito; depois de quatro pontes de safena, por exemplo, continuaria fazendo churrascos para comer a gordurinha da picanha; estou obesa, mas não deixo de comer tudo o que é calórico e ‘proibido’; estou diabética, mas não deixo de me refestelar com doces e carboidratos, disconforme com as orientações recebidas.
Sei que todos podem me entender neste quesito.
Quanto à miastenia gravis, altos e baixos, flutuações da doença. Sempre que estou bem, melhor, quero aproveitar todo e cada momentinho que dou conta de viver e fazer - e acabo pecando por excesso,
quer seja para me compensar pelas limitações anteriores, quer pelo desejo de viver o prazer, como se a única oportunidade fosse aquela, e que não volta mais.
Isso me leva um pouco além do que deveria ir e, em seguida, a uma piora já previsível diante da situação.
Princípio do prazer, princípio da realidade; pulsão de vida, pulsão de morte.
Excedo-me. Dificuldade de parar quando devo, respeitar meus próprios limites, talvez por imaginar que em um momento vindouro, próximo ou não, estarei limitada de alguma forma novamente.
Altos e baixos, vivo a montanha russa de emoções e estados de disposição do corpo que mudam em um mesmo dia, meio que à deriva e ao mesmo tempo tentando estar atenta às minhas próprias necessidades e instintos de autopreservação.
Não seria assim com todos nós? Retórica.
É, o inconsciente nos leva a atitudes que nem sempre conseguimos entender e decifrar, mas que nem por isso deixam de existir.
Luto por me tornar um adulto mais responsável e tolerante a frustrações, luto por aprender a adiar o prazer até um ponto possível e saudável, sem que me arrisque demais. Luto para ir “Além do Princípio do Prazer”.
Sou internada, recebo alta, me interno, desinterno, inquieta por dentro sem saber ao certo o que seria de minha própria responsabilidade e o quanto da evolução da doença, um dia bem, outro nem tanto.
Não compreendemos tudo. Nada é matemático.
Sinto-me responsável por atrair algum tipo de piora por meio de meus próprios pensamentos e energia; isso segundo a lei da atração, tão veiculada.
Sinto-me culpada por não dar conta de melhorar, muitas vezes. Como se o que estivesse vivendo fosse porque estou atraindo.
Culpada por não ter fé suficiente no ‘Deus do impossível’.
Acredito que tudo tem um propósito. E que talvez o impossível não esteja programado para o momento.
Já o possível, este pode ser vivido e posso aprender a lidar com ele de formas bastante saudáveis, numa verdadeira pulsão de vida e dentro do princípio da realidade, responsavelmente.
Para que isso aconteça, a ajuda é imprescindível; a interna, essencial, o desejo de estar bem; e também a externa, tanto a profissional quanto a afetiva, tudo num conjunto que pode e deve conspirar a favor da vida, sem negar a escuridão que vive em nós.
Compliquei-me?
Pois é o que temos para hoje.
Pensar.
Paula Mendes
18/01/25
PEDAÇO DE POESIA OU POESIA EM PEDAÇOS - Sobre Réveillons e Natais
"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí, entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante vai ser diferente.”
Este pedaço de poesia faz parte de uma inteira, erroneamente atribuída a Drummond, ao que parece; a autoria, discutida, aparentemente se divide entre dois autores, Roberto Pompeu de Toledo e Vilma Galvão.
Trata-se de uma crítica à sociedade industrializada, onde a produtividade é priorizada, mas que ao mesmo tempo nos leva a voltar a respirar, tomar novo fôlego, constatando uma realidade interna, que acontece mesmo com a maioria de nós.
Os réveillons, ah, os réveillons! Novos dias de esperança e planejamento. Nada como, depois das festas, comemorações, começar tudo outra vez com ânimo renovado.
Além disso, seguem-se férias, em muitos casos. E há recessos, como o do judiciário. Pouco depois, o carnaval. E então o ano começa, até parar novamente durante o pequeno descanso da semana santa. Bom, mas este não é bem o tema do texto.
As festas de fim de ano não costumam ser exatamente o que se diz delas, especialmente o Natal, data em que se polarizam emoções.
Os Natais, a meu ver, são uma data pesada para inúmeras pessoas e famílias, seja por falta de harmonia entre elas, desunião, abandono ou pela ausência física de outras, distantes ou que já não se encontram aqui neste plano. Sente-se um vazio, complementado pelos apelos da mídia que deturpa todo o sentido da celebração do nascimento de Jesus, ícone da celebração em muitas religiões.
Há também, naturalmente, o outro lado; lado de comemorações genuínas, de encontro, de aconchego, de gozo da presença e companhia de pessoas queridas, que se estendem para além da família, muito além.
E existe ainda a ‘comilança’. Verdadeiro festival gastronômico. Necessário? Há controvérsias.
Vêm ainda, as festas de confraternização. Emoções também polarizadas. Nem sempre os ambientes de trabalho etc. são saudáveis do ponto de vista de relacionamentos. Por outro lado, é muito gostoso quando as pessoas se relacionam bem e podem usufruir de um momento relaxante de descontração fora das pressões do trabalho, conversar outros assuntos, rir um pouco, compartilhar experiências.
Época de contraposição de valores, sentimentos, divisões internas do sujeito, que acaba sofrendo de uma forma ou de outra, verdade seja dita.
A união e a felicidade atribuídas ao Natal não passam de um mito a que todos aderimos com sorriso nos lábios, independente do que vai no coração.
Isto sob meu ponto de vista.
Pareço pessimista? A meu ver, apenas constato e ‘verbalizo’ uma realidade sempre oculta sob um véu.
Mas, retomando: Ah, os réveillons! (Sorrio).
Eu mesma já fiz meus planos, tracei metas e espero ansiosa o dia do “milagre da renovação”, como diz o texto inicial.
Quero ser uma pessoa melhor, trabalhar melhor, fazer dieta, voltar à academia, retomar os estudos, cuidar de mim e do outro, arrumar um parceiro, mudar de casa, de cidade, de emprego, viajar, fazer um pé de meia, pagar contas atrasadas e por aí vai... Objetivos a se perder de vista, carregados de esperança. Legítima.
Realmente um novo fôlego. Dá para respirar de novo, inspirar e se jogar no ano vindouro, ainda que com cautela, isso é de cada um.
A Esperança é um sentimento necessário que nos move e renova nosso gás. Que nunca a desmereçamos.
Mas que tenha também um pezinho no chão, o que também se faz necessidade. Expectativas alcançáveis, para que se evitem frustrações.
Com o título, trago logo um pedaço de uma poesia cuja autoria é também controversa e faço alusão à ‘poesia em pedaços’, tal como o coração nesta época do ano. Pedaços alegres, pedaços vazios, pedaços felizes, acolhedores, pedaços de todas as formas e tamanhos que, se unindo, formam um todo, um coração.
O próprio Natal não deixa de ser Poesia e nunca deixará, ainda que em pedaços... Pois Jesus é Pura Poesia!
Quero ainda compartilhar um pequeno texto que uma amiga fez o carinho de me enviar e que traduz o que sinto. Espero que ela não se importe:
“Sem tanta pressa, sem ansiedades, sem atropelos nos passos...
Mais calmaria, mais olhares de ternura, mais atenção nos detalhes ao longo do caminho...
Mais paz, mais pausas... porque a gente tem mais é que cultivar belos jardins por dentro."
É o que desejo para todos nós em 2025.
Felicidades, alegrias, muito bom senso, tolerância, harmonia, respeito por si mesmo, pelo outro e pelo nosso planeta! E paz, muita paz interior e entre os povos.
Um Feliz 2025!
Paula Mendes
29/12/2024
MENSAGEM DE NATAL
Repetindo a mim mesma:
*Se você fica genuinamente feliz com a felicidade do outro;
*Se você consegue ouvir, na verdade 'escutar', um ponto de vista diferente do seu e entender que se pode interpretar a mesma coisa sob diversos ângulos sem que ninguém tenha que estar certo ou errado;
*Se você consegue respeitar o outro com suas próprias características e maneira de ser, sem querer mudá-lo para o que você 'acha' que ele deveria ser;
*Se você enfrenta o desafio diário de mudar a si mesmo, reconhecendo a própria escuridão e a própria luz ao mesmo tempo e no final do dia pode dizer: "dei o melhor de mim";
*Se você tenta amar incondicionalmente sem fazer julgamentos, inclusive a si mesmo;
*Se você consegue ser grato por exatamente tudo,
então você já compreendeu bastante desta passagem terrena!
Afinal, o que viemos fazer aqui?
Ouso responder: ser instrumentos. Para que Deus aja através de nós.
Para este Natal, desejo que o Amor Verdadeiro, em todas e quaisquer de suas formas, faça cada vez mais parte de sua vida, até que se torne 'rotina'.
Que ele seja um marco em que 'carregamos nossas baterias' de Amor, para recarregá-las todos os dias do ano vindouro.
Feliz Natal e um 2025 cheio, muito cheio de Paz, Tolerância e cuidados com o próximo e com o nosso planeta!
Paula
Dez 24
O ELEFANTE SUBIU NA BALANÇA
É.
O texto é pesado.
Mas vamos e venhamos: é preciso falar sobre o elefante no meio da sala, não é mesmo?
O assunto que desejo trazer à tona, à luz da reflexão, é a dependência.
Não a dependência química, como de álcool e drogas, mas a física mesmo, essa que nos faz ter que pedir um copo d’água em vez de pegá-lo, por não ter condições físicas para tanto.
A perda da independência para este tipo de coisa e outras mais não deixa de se configurar um luto a ser trabalhado; e dói, verdade seja dita.
Fico pensando no envelhecimento, por exemplo, que, apesar de ser um privilégio negado a muitos, traz consigo perdas também e, com elas, a necessidade de adaptação, aceitação e elaboração. O envelhecer pode trazer consigo a diminuição da audição, dos reflexos, da visão, dos movimentos e flexibilidade do corpo, da libido na maioria dos casos, isso sem falar nas aposentadorias compulsórias, só pra começar.
Mas não nos estendamos demais, já que o que quero abordar é a dependência decorrente do adoecimento.
Vou me utilizar de minha própria experiência, que é o que tenho em mãos.
Acho importante e interessante trazer o assunto à baila, para podermos juntos pensar a respeito, ainda que em momentos diversos. São inúmeras as pessoas e famílias que lidam com essa situação de forma definitiva ou temporária, mas todos sabemos do que se trata. Em algum momento da vida, todos teremos passado por isso.
Há exatos 21 anos adoeci com miastenia gravis, uma doença autoimune que causa fraqueza muscular e que tem suas flutuações.
Já houve épocas em que fiquei bem grave, outras em que frequentava academia diariamente.
Só por este simples relato, já dá pra ver que há que se lidar com o imprevisível e o imponderável. Hoje estou bem; talvez amanhã, nem tanto. Ultimamente, inclusive, as ‘viradas’ têm se mostrado tão rápidas e repentinas que num mesmo dia amanheço bem e anoiteço mal ou vice-versa.
O ficar acamado não é coisa simples. Depender do outro não é coisa simples.
Volto a repetir o que escrevi há anos: temos que aprender a ser ajudados e assim ajudar a quem nos ajuda.
O mau humor, por exemplo, nesses casos, seria uma ‘derrocada’. Poderia levar tudo a perder e piorar ainda mais uma situação que já não está fácil - para ninguém.
Saber pedir, admitir que tem que pedir, aprender a depender.
Saber reconhecer os próprios limites e respeitá-los.
Saber lidar com o seu cansaço e o do outro também.
Saber construir uma relação de amor que caiba em tudo isso.
Hoje estou desabando; amanhã estou forte, mas é o outro quem desaba. Hoje estamos bem, amanhã ambos nos vemos mal e assim vai, como é a vida para qualquer mortal.
Por vezes consegue-se ir ao banheiro e tomar banho de chuveiro, ainda que na cadeira; por outras, banho de leito e fraldas; comadre; idas ao banheiro na cadeira. Tudo se alterna de forma meio que imprevisível.
Há muito não tenho conseguido caminhar da cama para o banheiro, sempre na cadeira, mas tenho me visualizado voltando a andar de bengala do meu quarto para a cozinha, como fazia até há algum tempo. Assim pretendo.
Já se completam três anos de internações repetidas, idas e vindas a se perder de vista, cada uma de um jeito diferente.
Sim, é um dia após o outro. Um dia de cada vez. ‘A cada dia o seu cuidado’, diz o dito popular, tradução do capítulo 6 em Mateus, versículo 34:
“Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal. “
Ou ainda, como diria meu pai, trazendo consigo uma inscrição de Sagi: “Não se preocupe, pode não acontecer!”
Este, acredito realmente, é o segredo. Tentar aceitar e viver da melhor forma o que vier.
Hoje tomei um banho de chuveiro logo depois de chegar do CTI e, ao levantar a cabeça para molhá-la com o chuveirinho, qual não foi minha (grata) surpresa ao me deparar com aquele solzão batendo nos meus olhos e a me aquecer a alma!
É viver cada momento com
gratidão, aceitação, resiliência, dando o melhor de si. Isso não significa que não fique em frangalhos de vez em quando e nem que na última noite não tenha tido uma crise de ansiedade causada por uma enxaqueca de 12 horas seguidas.
As coisas são o que são.
Ser dependente passa, ainda, por uma ‘dependência emocional’ também. Você precisa contar com o outro, não apenas consigo mesmo, para lidar com as situações. E ao mesmo tempo não quer sobrecarregar ou preocupar quem está ali do seu lado.
Aí entra, a meu ver, a ajuda profissional, essencial, necessária, em que você tenha um espaço para lidar com suas emoções, elaborá-las e ao mesmo tempo não sobrecarregar ainda mais quem está mais próximo, por já se encontrar um tanto sobrecarregado e ter que lidar com suas próprias questões.
Entra também a necessidade de se sentir útil e capaz, mesmo estando limitado. Fazer tudo ao seu alcance para permanecer o mais independente possível, nem que seja tirar seus próprios remédios, dobrar uma roupa íntima para guardar. Qualquer coisa. E que quem te acompanha compreenda a importância dessas pequenas grandes coisas. Essenciais.
Essencial, também, ter o máximo de privacidade possível, o que varia muito de um momento para outro.
Porque a perda da privacidade não é algo fácil de se lidar e é realmente necessário que se preservem ainda que alguns instantes com sua própria intimidade.
Trata-se de um eterno equilibrar-se, um colocar na balança, um adaptar-se a toda hora e a cada prova.
Daí o título do texto.
Pesado!
Mas sigamos sempre tentando “dar um leve” no elefante.
Dumbo voava!
Paula Mendes
20/12/2024
VIRADAS
“O GALO É O TIME DA VIRADA,
O GALO É O TIME DO AMOR...”
Só que não! Não no último jogo.
Quem ganhou foi o Botafogo, alvinegro, para a felicidade de meu pai.
Confesso que fiquei feliz por ele e também pelo time, que nunca havia ganhado uma Libertadores; meu Galo já, e há de vencer outras.
Mas não viemos discutir futebol (nem política, muito menos religião).
Enquanto aguardamos a virada do ano, as viradas de copos de cerveja ou de shots, de taças de espumante, conforme o gosto, na virada da noite, tanta gente esperando a virada do plantão, na espera de ir pra casa celebrar, comemorar ou simplesmente dormir e descansar.
Tem gente que é da pá virada, que tem a cabeça virada.
Tem gente, assim como eu, que descobriu que virada do avesso é seu lado mais certo. Ou virada de ponta-cabeça, a fim de enxergar tudo por outro ângulo, por outro viés. Com isso em mente, vim dar uma virada na vida – eu e muitos mais - no jeito de olhar, no jeito de viver.
É dar uma viradinha e olhar para o outro lado – e enxergar.
Esse é o time da virada.
Tal como aqueles dias em que você amanhece bem fraco, sentindo-se doente, sem energia e termina o mesmo dia com um bem estar, com muito mais força e disposição. Cheio de amor pra dar, isso depois de receber um tanto assim de amor, compreensão e cuidados.
Esse é o time do amor.
O amor que, só ele, muitas e tantas vezes, rege a virada – digo, as viradas na vida.
Sou testemunha disso.
Não querendo falar de mim, mas já falando – pois meu ego se recusa a ficar quieto (nunca quer se calar e parece que só olha pro seu próprio umbigo) – desejo, sinceramente, dar uma virada nos meus valores, ser mais adulta, dar aquela guinada necessária para se ter uma vida mental e emocional saudáveis, mesmo que a saúde do corpo não vá lá muito bem – essa pode até ter uma virada mas, no momento, pés no chão.
As coisas são o que são; a vida é o que é. Assim como o jogo,que foi o que foi. Não adianta querer mudar o passado ou o presente; sequer criar expectativas quanto ao futuro. É aceitar, viver ao máximo, se adaptar. “Aceita que dói meinos”, tipo isso, mesmo!.
Ando sem andar, um pouco fraca, um pouco de dificuldade de respirar e outras cositas más. No entanto, rodeada por anjos como estou, envolvida pelo amor e pelo cuidado, cheia de gratidão, dá pra dar uma vidada nisso tudo. Tal como o Galo, não nesse jogo, mas certamente em tantos outros, passados e futuros (assim diz a atleticana).
Somos o time da virada e o time do amor.
O Amor é o sentido de tudo, dá sentido a tudo e é nosso último e primeiro, único fim de existir. Amar e ser amado, espalhar amor em todas as suas formas, com todas as suas consequências. Transcender é necessário. Deixar de lado a aparêcia física das coisas, aprender a sublimar, sei lá, perceber as subliminares da vida e despertar.
O mundo pede tudo isso, está necessitado, ainda que não o saiba, obnubilado que está pela ilusão de metas e valores a serem cumpridos e seguidos, tal qual a multidão que caminha junto sem saber para onde está indo. Guiados pela mídia, pela tecnologia insana, por ideais de consumo e de beleza impossíveis de se alcançar. Tal qual a Barbie, que se fosse gente de verdade, seria completamente desproporcional. Ilusão, pura ilusão. Desilusão.
Exercitando, no entanto, a tolerância mútua até que se aproxime da empatia e da compreensão, corre-se o risco de experimentar o amor. Tudo muda, então; tudo parece certo, tudo entra nos eixos, tudo dá aquela virada!
Não nego que seja difícil, há um trabalho árduo a se fazer – árduo simplesmente porque nossos egos querem falar mais alto, ter razão, estar sempre certos, ser o centro da atenção. Pobres de nós, mortais.
Temos que aprender a aprender com as situações que a vida nos propõe.
Porque fácil, não é pra ninguém, basta olhar para o lado. Mas olha com um pouquinho de amor!
E mesmo que não dê pra dar uma virada nas circunstâncias, é bom saber que a gente não é quadrado e consegue se virar. Verdade, a gente se vira! Depois do luto, depois das perdas, entre as dificuldades, a gente vai se virando.
Há que se ter em mente a meta, olhar para a frente. Para quê estamos aqui, afinal?
Somos o time da virada, o time do amor.
Só não vale mesmo é permanecer tempo demais com o ovo virado!
E vamos em frente!
Paula Mendes
06/12/2024 (bem perto da virada!)
TRABALHO, DIGNIDADE
(Reedito este texto por não
concordar comigo mesma em certas partes do original, depois de refletir um
pouco. Reelaboro, portanto).
Gostaria de dizer que todo
trabalho é digno.
Infelizmente, não penso que seja
este o caso.
Quem somos nós para julgar quem
quer que seja? Quem sou eu para tanto, se não passei pelos percalços da vida
daquela pessoa, se não lhe conheço a estória? Mesmo que a conhecesse!
Com que intenção a dita pessoa
realiza aquele trabalho? Acho que isso conta muito. Muito mesmo. E isso poderia
lhe devolver a dignidade, sim. (Obrigada, Murilo, por me abrir os olhos).
Tomemos como exemplo um
profissional do sexo. Que situações o levaram até ali? Certamente, uma
conjunção delas. Talvez haja sido a única maneira que tenha encontrado para
sobreviver neste ‘mundo cão’. Muito fácil falar que haveria outras formas - mas
não estávamos ali! Boa parte destes profissionais acabam por se drogar para dar
conta do trampo; com o ‘lucro’, vamos dizer assim, voltam a comprar a droga
para aguentar o tranco. E vai tudo virando uma bola de neve.
Cafetões, traficantes, agiotas e
toda uma rede organizada em torno disso. Este já é o tipo de trabalho não
digno. Assunto sobre o qual não pretendo discorrer no momento, nem em outro,
mas sabe-se do que se trata.
Outro exemplo, e último, seria
aquele vendedor ambulante que repassa produtos falsificados com o nome da marca
original; bem, quem compra sabe, de fato, o que está levando. O vendedor não
quer mais do que sustentar a família. Trabalho digno? Complexo, mas, sim, acho
que sim, levando em conta toda a conjuntura e nuances do nosso país; uma
confluência de fatores.
Por outro lado, existe aquele
falsificador que verdadeiramente tem a intenção de ludibriar, visando apenas o próprio
lucro. Um estelionatário. Este, sob o ângulo em que consigo enxergar, não seria
um trabalho digno. Não falo do sujeito, porque não o conheço; o tipo de
trabalho, no entanto... Volto a pensar: quem somos nós para julgar, mas já
julgando! (Risos). Mantenho todo o respeito e acredito que as pessoas devem ser
olhadas com compaixão e amor em qualquer situação. Tal como num dos filmes
de que mais gosto e que já mencionei em
outra ocasião, ‘Os Últimos Passos De Um Homem’, com Susan Sarandon no papel de
uma freira que faz todo um trabalho (digníssimo) com um prisioneiro condenado à
morte.
Existem, ainda, muitas outras
formas de trabalho 'borderline', vamos dizer assim, que se colocam numa linha
tênue entre a ética, a cultura, a moral, tudo muito polêmico e que não vem ao
caso neste texto, talvez em outro, quem sabe me aventuro? Pano pra manga.
Dito isso, gostaria de
acrescentar que, sob minha ótica, a maioria dos trabalhos são dignos, sim. Não
interessa se se trata de juízes, professores, faxineiros, médicos, ajudantes de
cozinha ou de pedreiro. O trabalho dignifica e há pessoas que trazem ainda mais
dignidade ao próprio labor (retomo, ainda uma vez, a intenção com que é
realizado).
Boa referência disso são os
profissionais da enfermagem, sobre quem quero discorrer especialmente neste
texto e, ainda mais especificamente, os técnicos de enfermagem.
Este mês perfazem vinte e um anos
que adoeci, tendo sido testemunha do trabalho diário destes profissionais que,
tal como os professores, são tão pouco valorizados e trazem consigo uma
importância a que me faltam palavras e me calam fundo.
Muitas internações neste período.
Mesmo em casa, sou acompanhada fiel e carinhosamente por estas pessoas que se
desdobram no atendimento a seus pacientes.
Não me refiro apenas àqueles que
me acompanham, mas também aos que trabalham em serviços públicos de urgência e
de emergência, centros de saúde etc., onde têm que “se virar nos trinta” para
atenderem a uma demanda insana.
Atividade quase que insana
(repito com licença poética, apesar de não se tratar de uma poesia - a não ser
pela labuta diária que eles enfrentam) e que tantas vezes não consegue oferecer
um mínimo de dignidade ao paciente, que dirá ao próprio funcionário em suas
condições de trabalho. Dobram-se plantões, corre-se de um hospital para outro a
fim de manter uma vida digna para si mesmo e seus dependentes.
Não sei o que dizer sobre sua
luta sobre o piso salarial, por pouco conhecimento de causa, de modo que não me
arrisco a opinar. Mas sei que tem sido uma batalha há alguns anos.
Sei ainda que, na rotina da
unidade de internação, os médicos passam, examinam seus pacientes, deixam suas
prescrições e recomendações, assim como os enfermeiros, os fisioterapeutas, os
fonoaudiólogos etc. Passa também o pessoal da limpeza, da rouparia, da copa, da
manutenção, uma infinidade de pessoas e cargos necessários para que toda a
mágica aconteça. Cada qual com seu papel, essencial para o todo.
Na lida direta com o paciente,
entretanto, quem permanece são os técnicos de enfermagem.
Sabem de todos os detalhes do dia
a dia daquele doente. Trocam fraldas, lidam com secreções, dão banho, fazem
curativos, administram medicações, atendem à demanda incessante das famílias e
acompanhantes, aferem dados vitais, correm até a farmácia, conferem
prescrições, são quase que psicólogos; lidam com vida, com urgência, com
emergência, com sobrecargas quando faltam colegas e têm que redistribuir as
responsabilidades ou até mesmo ser remanejados naquele plantão. Correm riscos.
E sorriem.
Trabalham doentes, adoecem
trabalhando.
O que os move? O que os levou a
escolher esta profissão? E o que os leva a querer deixá-la, em alguns casos?
Fazer a diferença, cuidar,
doar-se; é uma vocação, um dom, um verdadeiro chamado, um talento, uma
responsabilidade que toma para si, cada qual com sua estória, seu próprio
caminho, seus próprios motivos; mas, no frigir dos ovos, prestam este serviço
incomparável e literalmente inenarrável à comunidade como um todo e aos
indivíduos em seus momentos mais frágeis e vulneráveis. E isso não é pra
qualquer um.
Trago comigo uma enorme gratidão
por estes seres, não de outro mundo, mas deste, real, com o pé no chão,
espalhados pelos ônibus da vida, de bairro a bairro, molhado de enxurrada, pé na estrada e fé na existência.
Muito mais gostaria de dizer
sobre o valor que carregam consigo estes sujeitos, tantas vezes anônimos, mas
que fazem toda a diferença na vida de outros tantos.
Calam-me a alma, que extravasa
sentimento e admiração.
A vocês, minha homenagem, meu
respeito e o meu MUITO OBRIGADA!
Paula Mendes
17/11/2024 (reedição em
16/03/2025)
AUTOCUIDADO
Cuidado. Cuide-se. Autocuidado. Se cuida direitinho. Cuide de você.
Cuidados externos. Cuidados internos. Cuide de sua saúde. De você para você.
Cuide-se primeiro.
Ame-se em primeiro lugar. Ama o próximo como a ti mesmo. Cuida-te. Sou toda cuidados. Sente prazer. Ama tua vida. Sente-te bem, mesmo que não esteja bem. Ame você mesma. Não por estética. Não pelo outro. Ame por você. Sinta Deus te amar etc.
Encontro-me internada desde 22 de setembro. Hoje, 1° de novembro. Ainda sem previsão de alta.
Nós, mulheres em geral, entendemos muito bem a sensação de ver os pelos crescendo no rosto, nas sobrancelhas e em muitas outras regiões sem poder nada fazer.
Horripilante, eu diria.
Vaidade pura? Será?
Fiquei pensando nas mulheres que enfrentam a quimioterapia, por exemplo, e que testemunham a queda dos próprios cabelos sem ter como evitar. Há, no entanto, oficinas de autocuidados em que aprendem a se maquiar, por exemplo, ou a usar lenços e acessórios de uma forma e de outra, sempre na intenção de se tratar com carinho e amor próprio.
É também cuidar de si a pessoa fazer uma caminhada, exercícios físicos, tomar um solzinho, relaxar num dia de folga, amar, conviver, trocar afetos... Amar a si mesma e ao outro.
Pensar em si, não se autossabotar, resolver ter paz, pedir ajuda, tudo isso é cuidar de si mesma.
Sentir prazer, sair com as amigas, com o namorado, com a família, sair pra dançar, fazer amor, viajar, sair sozinha, ir ao cinema, contemplar a natureza, sentir-se parte do Universo, da humanidade, é sentir-se parte de algo.
E também tomar decisões.
É rir pra burro, até de nervoso; e é chorar também, de medo, de raiva, de tristeza, de saudade, de alegria, é deixar as emoções fluírem sem represá-las. Mas é também deixar passar, dentro da impermanência da vida.
Amor próprio é respeitar os próprios limites e princípios.
Falar 'não'. É falar 'sim' também.
Tudo isso não passa de um autocuidado.
Mas, voltando à vaca fria, o que fazem as pessoas internadas há tanto tempo, neste quesito? Além de tratar da saúde, é claro?...
Não dá pra ficar cortando o cabelo, mas dá pra passar um batonzinho, um perfuminho. Um creme na pele. Não se pode fazer as unhas pela possibilidade de abrir uma 'porta de entrada' para infecções, caso se 'tire um bife'. Não dá pra se depilar, nem ficar tirando pelos, pelo mesmo motivo. 'Porta de entrada para bactérias'.
Cheguei então à conclusão de que o autocuidado, neste caso, seria 'não se cuidar'. Evitar fadiga. Se não me depilar, estarei me cuidando. Se não tiro pelos das paredes visíveis e se não faço as unhas, isso é amor próprio.
Se não uso acessórios no hospital para que não se 'colonizem' com bactérias hospitalares, isso é me cuidar, e também do meu próximo.
Autocuidado pelo avesso, porém pertinente, genuíno, legítimo. Tudo parece de cabeça pra baixo, mas não está. Tudo está em seus devidos lugares.
O maior autocuidado, de verdade, é se amar e respeitar a si mesma, perdoar-se pelo que foi e já era. É começar de novo, de onde quer que se esteja. É se deixar amar.
Mas sem olhar muito para o ego e sim, para a alma, para o ser, para a pessoa.
O resto é consequência. Estética ou não.
Viver é uma arte. Tudo isso faz parte.
Paula Mendes
1°/11/2024
T O X I C I D A D E, P O S I T I V I D A D E. T Ó X I CA
Já pincelei sobre o assunto em outros textos, mas tanto me incomoda que resolvi escrever sobre ele, quiçá fazer um brainstorm.
Redes sociais. A quê ou quem têm servido, afinal?
Volto a citar, porque vale a pena: “A vida que não se posta nas redes dá um trabalho danado” (ou algo assim, mas é o que corresponde à mensagem).
Problemas, quem não os têm?
Viver não é tão fácil e exige coragem, resignação, digo, resiliência, paciência, bom senso, atitudes naquilo que se pode mudar, aceitação do que não se pode, amor, compreensão, empatia, respeito às pessoas exatamente como elas são. Tarefa difícil; mesmo que não se consiga amar logo de cara, então que se respeite.
Calçar os sapatos do outro e não ser o dono da verdade a ponto de querer mudá-lo.
Mal conseguimos transformar a nós mesmos, a começar por um pequeno hábito ou ‘defeito’, que dirá ao outro.
Posta-se propagandas. Absurdo. Sei que são patrocinadas ou patrocinadoras, o que seria ‘necessário’ para manter a rede.
Posta-se vitórias; tudo bem, até certo limite.
A vida é cheia de altos e baixos, e é bom compartilhá-los com quem se ama; divide-se as tristezas, as dificuldades, somam-se as alegrias com aqueles que realmente se importam.
Mas com todos? O que exatamente pretendo com isso?
Aguardo as curtidas como um vício e, com elas, produzo neurotransmissores. O negócio chega a ser físico, não apenas mental, psíquico ou psicológico. Alguém poderia até tratar como dependência. Dependência de curtidas. Volto por ali inúmeras vezes a fim de conferi-las, ler os comentários.
Submeto-me à aprovação alheia, como se fosse verdade. Até mesmo inveja eu causo. “Chego causando.” Consegui isso ou aquilo, sou isso ou aquilo; meus filhos, igualmente. Sou um sucesso total.
Não sou um ser dividido, dual, cheio de dúvidas e cantos escuros. Sou de outro planeta; aparentemente; um ET. Humano, não – difícil demais.
Fora a mídia que me golpeia - e me convence - de que tenho sonhos de consumo importantíssimos e necessidades absolutas, imediatas e que me cobra comportamentos, aparência e posturas estereotipados.
Sou quase um robô, uma marionete nas mãos dos bárbaros.
Faço caminhadas, vou à academia, sigo dietas desmesuradas, a da bola da vez, não necessariamente visando minha saúde, mas para ficar malhado, bombado, postar-me. Apenas o lado “positivo”. Nada de dores e afins.
Por vezes, o contrário da saúde física e mental. Cedo aos apelos externos.
E quanto aos internos, guardados, escondidos no fundo das gavetas? Quem sou eu, na verdade? Admito minha vulnerabilidade? Meu lado não tão bom assim? Mas o que é bom? O contrário de mau? Não sou normal?
Será que sou um mau sujeito? Tenho sentimentos ruins e impensáveis, inadmissíveis? Eu? Respondo com um sonoro não! Sou bom o tempo inteiro e ponto. Admitir dá muito, muito trabalho.
Mas, ao mesmo tempo, precisaria admiti-lo para o outro que me lê? Eu mesma retruco, e ainda pergunto: sendo assim, porque teria necessidade de mostrar ao outro apenas o meu lado 'positivo'? Digo, ao outro distante; ao outro que não me conhece; ao outro que me julga de lá - e eu de cá, esperando por uma resposta, aguardando ansiosa suas curtidas, ainda que não correspondam à realidade do que pensam sobre mim. Sou uma linda, sou gente boa, sou nova ainda etc.
Ao meu ver, entretanto, alma, sou espírito, sou mente, sou corpo, tudo junto e misturado; sou um só, sem separações. Sou matéria e sou energia. Eu Sou. Porque a dificuldade em entender?
A própria medicina não o faz, estamos divididos em partes, tal como os animais que consumimos, a orelha direita e depois a esquerda o pé direito e depois o esquerdo. Para tudo, uma especialização diferente, com doutorado acompanhando e complementando, trazendo status também...
Foi daí que surgiram as terapias holísticas, a medicina alternativa, cuja eficácia não se comprova por meio de pesquisas e estudos duplo-cegos. Não tem valor algum..
E ai de mim se ainda trago comigo um dos transtornos mentaais, então! Sou doida de pedra.
Em verdade, doída. Estigmas.
Medo de admitir meus próprios transtornos, olhar para mim mesmo, projetando no outro o julgamento que faço de mim mesma e as expectativas frustradas sobre mim, sobre o que deveria ser, sobre o que deveria ter alcançado a este ponto da vida?
Tenho pontos fracos? Eu? Euzinha?
Quem não os tem? Estamos aqui de passagem e para aprendermos, admitir erros e não repeti-los – e as circunstâncias voltam em ciclos até que aprenda a lição e se possa seguir em frente, errando e caindo e se reerguendo, assumindo que se precisa de ajuda – às vezes sim, por vezes não. Mas que seja verdadeiro.
Que medo de conseguir a ajuda e me jogarem na lata minhas próprias necessidades e fraquezas!... Ou de me fazerem – me deixarem - descobri-las por mim mesma...
Meus pontos fortes e aqueles não tão fortes assim, penso que devo selecionar a dedo com quem compartilhar. O coração do outro é sagrado, o meu também e caminhar por eles exige respeito e sensibilidade, cuidado, tolerância e compreensão. É pisar em ovos. Isso, não encontro em qualquer bar da esquina.
Por outro lado, sei que as redes sociais cumprem um papel importante para todos nós, tanto pessoalmente, como em sociedade.
Quero postar minha opinião sobre certo assunto; congratulações por isso ou aquilo; até mesmo comunicar falecimentos, velórios, sepultamentos etc. Quero postar poesias e escritos cheios de arte, outros tipos de arte, desejar bom dia, boa noite, compartilhar algum conhecimento, perguntar sobre alguma dúvida...
Sim, as redes sociais cumprem um fim. Finalizo negócios, inclusive.
Minha opinião é de que realmente não vivemos sem elas, não mais. Podem facilitar e simplificar muito nossa vida e a dos outros.
No entanto, que sejam utilizadas com inteligência e bom senso, inteligência emocional, inclusive.
Para falar a verdade, não sei usar o Instagram e em todas as vezes que tentei me deparei com propagandas e mais propagandas. Tudo bem se as pessoas querem divulgar seus trabalhos e afins. Que seja feito com um mínimo de sensatez, no entanto, e que se preserve aquilo que é pessoal
E que minha positividade não seja obrigatória nem tóxica, a nenhum de nós, e que sirva aos devidos fins.
Não preciso me gabar de nada, apenas e somente buscar meu autoconhecimento, meu próprio crescimento como ser humano, assumindo senão para mim e para muito poucos aquilo que é pessoal e intransferível, aquilo que me faz ser eu mesma.
As redes sociais que se adaptem; às redes sociais, que ocupem seus respectivos lugares e que possam enriquecer a todos, não apenas a alguns.
Não sou de frases de efeito, mas já que o texto se viu repleto delas, termino com uma que muito aprecio:
“Meu amigo me chamou para cuidar da dor dele; botei a minha no bolso e fui”. (Especialmente para Deborah Secchin).
Paula Mendes
13/10/24
SOBRE CÃES, CAHORROS E GATOS
Muito mal comparando, são como filhos. Porque filhos, não há amor igual.
São, no entanto, completamente dependentes; podem ser hamsters, corujas, calopsitas e outros tipos de aves, cágados e jabutis, porcos e porquinhos da índia, miquinhos, enfim. Uma infinidade de possibilidades, até cobras e lagartos. No bom sentido.
A intersecção dos conjuntos é que são todos pets. Família.
Parecem com seus donos, cara de um, focinho do outro.
Dizem que não se deve confiar em pessoas que não gostam de cães; ao mesmo tempo, que se pode confiar plenamente num cão quando ele não gosta de uma pessoa. O dizer é mais ou menos assim.
A maioria dos cachorros é confiável, fiel, também é o que corre por aí.
Menos a Kelly, primeira cadela da mamãe, que era uma 'cachorra': mordeu todo mundo lá de casa, na mão, e ainda tentou abocanhar o pezinho da Stella, bebezinha ainda, no colo do meu pai, que teve reflexo suficiente e a tempo.
Foi doada, voltou pela braveza e, por fim, foi para uma fazenda onde aproveitou muito bem a vida.
Já a Lola, segunda cachorrinha deles, era um 'doce de pessoa'!
Animou-nos a todos a termos um cão, exceto pelo Henrique, que somente há pouco acedeu aos repetidos apelos dos meninos.
Há filmes baseados em fatos reais, tal como 'Sempre ao seu lado', com Richard Gere, em que, após a morte do dono, seu cão continua indo diariamente à estação de trem a esperar por ele. Há filmes como 'Marley e Eu' e outros, ficção (quem sabe, não), tipo 'Quatro Vidas de um Cachorro', todos fazendo jus ao amor e à alegria que nos proporcionam, apesar das traquinagens.
Há ainda aquelas estórias anônimas verdadeiras porém, de cães que esperam durante dias na porta do hospital, por exemplo, pela alta de seus donos, muitas vezes em situação de rua.
Há cachorros maltratados que, ainda assim, voltam de rabo abanando para os seus tutores, que definitivamente não os merecem.
É muito amor, uma paixão, uma gratidão que trazem consigo. Nada como chegar em casa e ser recebido com aquela 'festa', mesmo que se tenha saído só por meia hora.
Protegem, muitas vezes até demais, brincam, dão e pedem carinho e atenção.
Minha Mel tem seus repentes, se acha que lhe vão roubar os restinhos de ovos mexidos que sempre reservo pra ela. Obediente e desobediente. Inteligente. Logo entendeu que não podia ter mais contato físico comigo, por causa da esporotricose. O contato é feito por olhares, esperas, poucos latidos; nunca vi tão expressiva. Temos, além disso, a guarda compartilhada, eu e meus 'rimãos' a Deborah e o Celestino. Nunca vi tão mimada!
O Max é o bonzinho da família; a Estrela, um furacão. A Nina, ainda não sei dizer.
Há, ainda, aqueles que não são exatamente pets, treinados que são para conduzirem deficientes visuais, trabalhar com a polícia ou trazendo conforto e alegria para pacientes hospitalizados. Aumentam a longevidade, fora a companhia.
O que não podem é passar o dia sozinhos, presos ou abandonados, uma judiação. Têm sentimentos, sim. Mas esquecem. Nada de rancor. Amor.
Infeliz de quem os treina para brigas, apostas etc., ainda inconscientes. Há de haver um despertar. Infeliz, ainda, aquele que os têm apenas para o fim de procriar.
Felizes aqueles que os resgatam, cuidam deles, arranjam-lhes pais adotivos, apadrinhamento - tal como um dom, uma missão.
Felizes os veterinários.
Felizes aqueles que socializam com sua ajuda e anuência. Cumprem também este papel na vida, fundamental para certas pessoas.
São vira-latas e também aqueles com pedigree, txuxucas que latem, grandes que mordem e vice-versa. Muitas vezes não se dá nada por eles, mas seus donos sabem: não há dinheiro que pague.
Tenho em mim todos os cães do mundo; resta saber quais alimento (dize-me com que cão andas, que te direi quem és).
Ao passo que, se tivesse uma gata, coisa que não pretendo, ela se chamaria Ágatha. Christie.
Quanto aos gatos, dou preferência àqueles humanos.
Paula Mendes
1°/10/24
[13:10, 01/10/2024] Paula Mendes: P.S.: Ouvi agora há pouco e pela primeira vez, que os cachorros nos ensinam o amor incondicional e os gatos, o amor próprio...
UM ANJO ENTE NÓS - (LUTO)
Ainda não consegui elaborar sua perda.
Coisa demais acontecendo ao mesmo tempo, isso ficou dentro de uma gaveta, aguardando.
Agora 'és' a bola da vez.
Que dizer, meu querido, meu amado irmão? Anjo de todos nós.
Cuidei de você, meio que mãe. Você cuidou de mim, Amigo e Irmão, com letras maiúsculas. Contava comigo e eu, com você.
Cuidou de nossos pais e eles, de você. Puro carinho.
Reclamããoo!!! (risos). Tudo da boca pra fora. A verdade é que tinha o coração enorme, não cabia no peito. Queria agradar, mas amava genuinamente.
Ao mesmo tempo, não tinha ‘papas na língua’, falava o que lhe viesse à telha. Colocava apelido nas pessoas conforme suas características, sempre com bastante humor, muito engraçado.
Não há como não lembrar de você sem dar umas boas risadas. Simples assim. Doces lembranças.
Recolhido a seu mundinho todo próprio, música, cinema, séries, gastronomia. E como tinha bom gosto para todos acima!
Tenho medo de esquecer suas feições, o tom alto com que falava e o timbre da sua voz, o seu sorriso, os seus espirros, sempre exagerados! Fico tentando me lembrar da última vez em que o vi vivo, da última vez que o vi morto, sem acreditar. Acesso em minha mente aquele momento. Fui sem poder ir. Tinha que me despedir. São Tomé.
Que saudade! Pouco ou nada pranteei, tudo guardado no peito a me adoecer. Guardado. Hoje entreabro a gaveta. Não sei bem o que há ali.
Sempre recorria a mim. Eu gostava.
Sempre viajava com a Flávia e o Alex, amigo e companheiro não só de viagens, mas também de filmes de terror no cinema.
Stella viajava um pouco menos em sua companhia, mas também com frequência. Davam-se bem. Dava-se bem com a família, compreensivo e compreendido, coisa que nem sempre foi. Muito perdeu quem não o conheceu de verdade.
Sem sombra de dúvidas, verdadeiro Anjo em nossas vidas que hoje brilha no céu como uma estrela a nos alumiar o coração.
Fizemos tantos planos!
Morou comigo durante um ano, fugia de casa durante minhas 'TPMs', voltava em cinco dias a reclamar. Responsável por fazer o pagamento das contas e até mesmo lavar louças, coisa que detestava. Um copo diferente para cada nova ingestão de água. Voltou para a casa de meus pais com a justificativa de que queria conviver com a primeira cadelinha deles, a Kelly.
Muito amor pelos animais.
Antenado quanto às pessoas,à sua volta, muito sensível. Ao mesmo tempo, ingênuo.
E um tanto direto, aquilo ficava escrito na sua testa.
Tinha que ter seus momentos em sua própria companhia, viajava sozinho ou refugiava-se em seus aposentos, recolhido em si mesmo.
E ao mesmo tempo, tão presente!
Maurício, você foi um grande PRESENTE para todos nós! Que privilégio o nosso!
E faz-se presente em todos os momentos.
Agora consigo chorar. Desanuviar. Custei, meio que anestesiada e tomada por circunstâncias a elaborar.
‘Mauzinho’, como você faz falta!
Lembro-me como se fosse hoje quando mamãe me ligou na casa da Débora, comunicando que havia escolhido seu nome, que persevera, retunde, reverbera em minha mente. Não há como não lembrar de você todos os dias, como não citar você todos os dias sem sorrir.
No final de minha agenda, um papelzinho à parte com a ‘receita’ do sanduíche da Subway que você gostava. Lugarzinho sagrado.
Sei que está muito bem acompanhado aí em cima. Fica bem. Nós também ficaremos.
Sua,
‘Raimundinha’.
26/09/24, antevéspera do que seria seu aniversário.
Vivo o luto, finalmente.
Parabéns, meu lindo!
INCONSCIENTE COLETIVO
Sempre gostei muito de assistir a filmes policiais; séries, então!...
Há o enigma, o desafio, o suspense, a ação.
Nos últimos tempos, todavia, tenho me percebido cada vez mais sensível a eles. Há episódios e séries a que já não dou conta de assistir, dada a violência exposta que cada vez mais me incomoda.
Tenho preferido ultimamente séries médicas, programas veterinários, de culinária e de viagens.
Viajo na maionese.
Conheço e me transporto a lugares a que nunca fui nesse 'mundo de meu Deus', quanta maravilha!
O fato é que, dada minha pouca movimentação, não passo sem uma televisão, apesar da profusão de episódios e programas repetidos.
Planejo todos os dias voltar a ler, hábito que acabou se perdendo com toda essa história de internações, afecções do olho etc.
Mas para quê o 'kindle'? Posso configurar o tamanho das letras, o brilho, a fonte mais adequada.
Proponho-me a voltar com as meditações, coisa que fazia diaria e facilmente há anos.
Tenho achado dificuldade em retomar atividades dissipadas pela perda do costume. Iniciar e pegar o ritmo não é fácil e sempre há uma desculpa, uma 'urgência' qualquer.
A Joana D'Arc, uma de minhas fiéis escudeiras e a quem muita admiro não só, mas principalmente, pelo desapego (assunto para um outro texto), tem no quarto um dizer que é o seguinte:
"Ninguém é expulso de sua própria história.
Sinto-me parte disso?
Que estou fazendo aqui?
Será que estou fazendo o que vim fazer?
Para este lugar melhorar, o que devo fazer?
Será que estou esperando que alguém faça a minha parte?
Será que estou me auto corrompendo cada vez que falo: 'não posso, não sei, vou pensar etc.?'
Lamentação é preguiça.
Trinômio da decisão: aqui-hoje-já".
Achei forte. Pensando bem...
Elucubrações à parte, voltamos à vaca fria:
Fiquei pensando em como a violência exposta na mídia não apenas reproduz uma realidade, como também a incentiva e ensina.
Há ainda as intrigas das novelas, BBB etc. Reprodução e incentivo.
Cada um de nós olha para o próprio umbigo, querendo ter e 'ser' mais.
Ser é, numa das acepções do dicionário, "a natureza íntima de uma pessoa; sua essência"...
Não há nada externo, sim, interno. O externo não passa de uma ilusão.
Véu que cobre nossas almas. Acabamos por querer 'ser' mais ricos, mais bonitos, mais competentes que.
Há uma cultura, um verdadeiro inconsciente coletivo.
Pense nas guerras etc. Que mundo este que habitamos?
Onde o 'humano' da humanidade?
Visto por outro ângulo, quanta gente vemos despertar, entra as quais me incluo, com cuidados com o planeta, com o próximo e consigo mesmo, no sentido genuíno da palavra! A espiritualidade, a religiosidade e não a religião. A busca do 'ser' verdadeira.
Estou à procura de emitir boas vibrações, seja do jeito que for, para meu lar, o próximo de todos os dias, mas também o próximo tão distante que não conheço e nem imagino. Há muito a se despertar em nós e na humanidade como um todo.
Ainda não consegui pensar nos pobres animais que consumimos, apegada que sou. Mas já consigo agradecer por sua vida e seu sacrifício. Já é um pequeno passo.
Acredito, realmente, na união de boas vibrações para mudança deste inconsciente coletivo,
de fato.
Voltando àquelas frases: "Será que estou fazendo o que vim fazer? Para este lugar melhorar, o que devo fazer?"
"É perto das almas boas que a nossa fica melhor" - desconheçoautoria, mas vem pipocando por aí.
Aprendamos com elas, espalhadas como anjos disfarçados, todos os dias trombando em nós, a todo momento. Tenhamos ouvidos e percepção apurada.
Somos, sim, capazes de mudar o mundo, acredite.
Convocados!
Paula Mendes
24/09/24
TRANSCENDER
Fico pensando em coisas infinitas,
Em coisas sem fim.
Na plenitude daquilo que nunca acaba e que tudo transcende.
Na impermanência das coisas, da vida, das estrelas que morrem e ainda enxergamos sua luz depois de longos períodos...
E em coisas infindas,
Reticências...
No além e no para além de tudo.
Entrelinhas.
Nada com ponto final; muitas vírgulas e outras pontuações, talvez.
Penso nos limites e no ilimitado.
Nada se pode afirmar com um ponto no final.
Nada sabemos, essa a verdade.
Costumo assistir com frequência a programas de natureza selvagem, em que a natureza não se impõe, mas flui, simplesmente flui através dos instintos, da renovação da vida, das idas e vindas do clima, das migrações, da vegetação.
É o Universo, perfeito em si mesmo, apresentando as singularidades de cada um dentro de sua própria espécie tal como uma impressão digital e ao mesmo tempo, todos os aspectos em comum que os une.
Há sempre um líder.
E há cooperação.
E há disputas, no caso, com fins à seleção natural, preservação das espécies.
Há a cadeia alimentar.
Assim como também permeiam a humanidade (os instintos); os homens se caçam, no melhor e no pior dos sentidos. Instintos.
A seleção talvez não seja tão natural. Nossa alma reclama, sofredora; o planeta reclama, todos os seres vivos e todo o universo respondem, em reação. Consequência da inconsequência.
Ao mesmo tempo, há paisagens tão dissonantes umas das outras e tão lindas que teimam em encher a vista de beleza e êxtase, da dádiva, do gozo do existir simplesmente por poder assistir.
E pensar.
Transcender.
O que há no final do arco-íris? Ou será que ele não tem fim?
Onde o buraco negro?
Faço listas sem fim. Quero - ou tento - me organizar; com minha finitude, elas também chegarão a um termo, matéria que são - e são também matéria mental, com um pouco mais de vibração de energia, elipticamente falando, mas simplesmente matéria.
Fico pensando nos leitos de vida e nos leitos de morte. E do quanto não nos permitem falar sobre ela, a morte. Parte da vida. Partir da vida matéria, assim como a conhecemos.
Já nos leitos da vida, tudo pode acontecer.
Leitos dos rios que correm em nós.
Medo.
Medo do intocável, do inimaginável, do desconhecido.
Queremos (ou podemos) controlar o que pretendemos?
Apenas tentar organizar o pensamento diante e dentro de uma impermanência sem fim, e também dentro do caos interno, paralelamente, externo; este, reflexo daquele.
Ao mesmo tempo, tudo não é mais do que natural.
Aprender a deixar a própria natureza fluir dentro de mim e através de mim; o que é, é - e não deixa de ser, até que seja o momento. As coisas se repetem de maneiras diversas até que aprendamos.
Não seria isso para o quê viemos aqui? Deixar fluir Deus, ou como se queira chamar, em nós e através de nós, através de todos os nossos dons, cada um em sua singularidade.
Estive conversando com o Murilo sobre isso, o deixar fluir, viver e fazer no presente.
Como as coisas fluem ao exercemos nossos talentos, nossos dons! Não vemos o tempo passar, não nos preocupamos com o passado, sequer com o futuro, somos apenas tomados pelo prazer de fazer, seja lá o que for.
Esse o maior presente da vida: Viver!
Simples assim.
Parece difícil?
Se puder complicar, pra quê simplificar? Afinal, somos humanos, neuróticos, de carne e osso, cada um com seus traumas e estórias, para contar ou não - e não os espíritos purificados vestidos em trajes brancos, que ajudam a curar a humanidade.
Talvez, digo, certamente, chegaremos lá, elipticamente vivendo, indo e voltando, indo e vindo, indo e voltando...
Curando a humanindade como um todo, mas também a humanidade dentro nós, e digo não no sentido dos mais admiráveis.
Somos o que somos e o que damos conta de ser. É isso, cada um dá o seu melhor, o que pode, sem julgamentos. Cada qual só dá o que tem para dar.
Melhorar, mudar, correr atrás, ninguém irá fazer por nós.
Entretanto, estamos aqui para aprender, superar e transcender.
Deixar fluir aquilo que vem de nossa 'natureza natural', que seja chamado como for, como quiser, Deus, o Universo, o Divino, as Leis Universais etc.
Ou nenhuma das opções acima, mas que tenha por essência o Amor.
Não é para isso que estamos aqui?
Aprendamos com nossos cães, suspeita para falar que sou, porque tenho a Mel para cuidar e também para cuidar de mim.
Amor incondicional.
Meta.
E deixa a vida rolar!!
Paula Mendes
09/09/24
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