"Caro Tonzinho, estou em Paris, num hotel com sacada sobre uma praça, que dá para toda solidão do mundo e diz:
Procura-se
um amigo. Não precisa ser homem, basta ser humano, ter sentimento, ter
coração. Precisa saber falar e saber calar no momento certo. Sobretudo,
saber ouvir.
Deve gostar de poesia, da madrugada, de
pássaros, do sol, da lua, do canto dos ventos e do murmúrio das brisas.
Deve sentir amor, um grande amor por alguém, ou sentir falta de não
tê-lo. Deve amar o próximo e respeitar a dor alheia. Deve guardar
segredo sem sacrifício.
Não precisa ser puro, nem
totalmente impuro, porém, não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e
sentir medo de perdê-lo. Se não for assim, deve perceber o grande vazio
que isso deixa. Precisa ter qualidades humanas. Sua principal meta deve
ser a de ser amigo. Deve sentir piedade pelas pessoas tristes e
compreender a solidão.
Que ele goste de crianças e
lastime as que não puderam nascer e as que não puderam viver. Que goste
dos mesmos gostos. Que se emocione quando chamado de amigo. Que saiba
conversar sobre coisas simples e de recordações da infância.
Precisa-se
de um amigo para se contar o que se viu de belo e triste durante o
dia; das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas
desertas, de poças d’água, de beira de estrada, do cheiro da chuva e de
se deitar no capim orvalhado.
Precisa-se de um amigo que diga que a
vida vale a pena, não porque é bela, mas porque já se tem um amigo.
Deve ter um ideal e medo de perdê-lo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário