"Eu não sou o que escrevo e tampouco o que penso. Isso são devaneios.
Sou
o que vivo e vivo uma vidinha absolutamente normal com contas a pagar,
tarefas acumuladas, preguiça, sono, apatia, alegria provisória e
saudades que promovem às vezes dor, às vezes angústias. Nem purpurina,
nem glamour. Estou mais para o trivial, corriqueiro e comum que não
causa susto e nem gera expectativa. Arroz e feijão também saciam a fome.
Sei bem disso!
Sou a pressa atropelada para realizar sonhos. A
teimosia encharcada de razões. Tarja preta que proíbe dúvidas. O drama
das lágrimas. O monólogo sentimental. Não gravei a senha da felicidade.
Perdi a caderneta com as anotações básicas para escrever minha história.
É sério que não sou poeta. Verdadeiro, que não tenho talento para
romancista. Faço alguns riscos que por acaso combinam, mas na maioria
das vezes tenho diálogos imprecisos, prosa pouco fluente, escrita de
meios rabiscos com ausência de regras.
Numa análise mais
apurada, eu oscilo entre a literatura banal e corriqueira, o exagero de
romantismo e a exaustiva conversa sobre o amor. Misturam-se tudo numa
desafinada melodia de um violino que geme querendo viver e para não
ficar muito banal, invento essa coisa mística de pessoa entendida. E
quem me conhece melhor, acerta em cheio na leitura das minhas
normalidades e no meu status puramente simples. Essa é a fiel casinha
que habito.
Faço dessas minhas palavras, o meu diário de bordo
que está sendo escrito no meio de tantas tarefas por fazer. Nada disso
me impede de querer resolver minhas questões, escrevendo, apagando e
refazendo a um custo sem promoção.
Com dois pares de
confiança, nenhuma credibilidade, sonhos saindo pelas goteiras, uma
légua de imaginação, algumas passadas de coragem, meio metro de bondade,
eu sou diariamente, destemperada sentimental. Nos feriados, sou chata,
impaciente. Cheia de toxinas da normalidade. Tudo bem! O que me sustenta
é a permanência de minhas mudanças.
Essa sim é a minha
verdadeira bagunça interna. E sem nenhuma dose exagerada de otimismo,
respeito as minhas lágrimas. Desaponto minha tristeza. Aceito os meus
dramas. Pertenço aos meus sonhos. Exibo minhas marcas. Mutilo minhas
dúvidas, sigo caminhando e absolutamente fiel ao conceito de que não
possuo nenhuma experiência significativa para ajudar a quem quer que
seja. Ainda não me conclui. Não me entendi e tampouco me terminei. Pelo
andar da carruagem, devo cometer outros tantos delitos. Fico até afoita
por isso, pois me disseram que o amor acontece nesses descompassos. E se
ele esbarrar em mim, vou olhar bem nos olhos e dizer: aceite se quiser,
mas sem sustos. Sou essa bagunça organizada. Na maioria do tempo sou
normal, exceto nos dias que enjoo de mim."
Ita Portugal
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