quinta-feira, 11 de abril de 2019

Texto grande dá preguiça de ler, né?! Mas este vale a pena. Ita Portugal.

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"Eu não sou o que escrevo e tampouco o que penso. Isso são devaneios.
Sou o que vivo e vivo uma vidinha absolutamente normal com contas a pagar, tarefas acumuladas, preguiça, sono, apatia, alegria provisória e saudades que promovem às vezes dor, às vezes angústias. Nem purpurina, nem glamour. Estou mais para o trivial, corriqueiro e comum que não causa susto e nem gera expectativa. Arroz e feijão também saciam a fome. Sei bem disso!
Sou a pressa atropelada para realizar sonhos. A teimosia encharcada de razões. Tarja preta que proíbe dúvidas. O drama das lágrimas. O monólogo sentimental. Não gravei a senha da felicidade. Perdi a caderneta com as anotações básicas para escrever minha história. É sério que não sou poeta. Verdadeiro, que não tenho talento para romancista. Faço alguns riscos que por acaso combinam, mas na maioria das vezes tenho diálogos imprecisos, prosa pouco fluente, escrita de meios rabiscos com ausência de regras.
Numa análise mais apurada, eu oscilo entre a literatura banal e corriqueira, o exagero de romantismo e a exaustiva conversa sobre o amor. Misturam-se tudo numa desafinada melodia de um violino que geme querendo viver e para não ficar muito banal, invento essa coisa mística de pessoa entendida. E quem me conhece melhor, acerta em cheio na leitura das minhas normalidades e no meu status puramente simples. Essa é a fiel casinha que habito.
Faço dessas minhas palavras, o meu diário de bordo que está sendo escrito no meio de tantas tarefas por fazer. Nada disso me impede de querer resolver minhas questões, escrevendo, apagando e refazendo a um custo sem promoção.
Com dois pares de confiança, nenhuma credibilidade, sonhos saindo pelas goteiras, uma légua de imaginação, algumas passadas de coragem, meio metro de bondade, eu sou diariamente, destemperada sentimental. Nos feriados, sou chata, impaciente. Cheia de toxinas da normalidade. Tudo bem! O que me sustenta é a permanência de minhas mudanças.
Essa sim é a minha verdadeira bagunça interna. E sem nenhuma dose exagerada de otimismo, respeito as minhas lágrimas. Desaponto minha tristeza. Aceito os meus dramas. Pertenço aos meus sonhos. Exibo minhas marcas. Mutilo minhas dúvidas, sigo caminhando e absolutamente fiel ao conceito de que não possuo nenhuma experiência significativa para ajudar a quem quer que seja. Ainda não me conclui. Não me entendi e tampouco me terminei. Pelo andar da carruagem, devo cometer outros tantos delitos. Fico até afoita por isso, pois me disseram que o amor acontece nesses descompassos. E se ele esbarrar em mim, vou olhar bem nos olhos e dizer: aceite se quiser, mas sem sustos. Sou essa bagunça organizada. Na maioria do tempo sou normal, exceto nos dias que enjoo de mim."

Ita Portugal
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