Percorrendo o caminho que leva a mim mesma, e a você também!! Na vida, é fundamental acreditar!!!!
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010
Para Minha Comunidade do Orkut
Uns dias são melhores que outros
O tempo vai, o tempo vem
Urge ou assim pretende sobre nós
Já não corro porém
Ando devagar com as pernas que tenho
Sorrio pra vida
Com as fraquezas que tenho
Delas tiro forças
Pra sorrir ainda mais
Eu rio da vida
E dos desarranjos que ela me traz
Rio um riso franco
De quem sempre espera amar
Amo de um amor desarmado
De quem se deixa enternecer
E se rende simplesmente
Aos que nunca se deixam esmaecer
Paulinha
nov/10
Do Pecado, Salvação e Vigilância
I Timóteo, 1:15
“Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores; dos quais eu sou o principal.”
Salvar
1. Tirar ou livrar de um perigo.
2. Dar saúde a (um doente).
7. Livrar da morte.
8. Relig. Livrar do Inferno ou do Purgatório.
v. pron.
12. Obter a salvação eterna.
13. Acoitar-se; abrigar-se. – (lembrei-me do salmo 17:8, “Guarda-me como à menina dos olhos, esconde-me à
sombra de tuas asas”)
Dar a salvação a, livrar da danação eterna.
Trata-nos o Senhor realmente como a menina de Seus olhos, a cada um de nós, individualmente. Ninguém é menos significativo.
Cristo veio a nós propor uma revolução: do Amor, do Perdão (perdoar “setenta vezes sete” vezes – Mateus, 18:22), da doação de si mesmo. Sua maior doação, para além de seu Amor infinito, foi sua própria vida.
Falava de ‘Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo’ (Mateus, 22:37-39). Ousou sair da referência do ‘olho por olho’ como o verdadeiro revolucionário. Imagine como não deve ter sido para as pessoas daquela época ouvir proposições como esta, se ainda hoje, dois mil anos depois, chegamos a achar absurdo desculpar certas pessoas por esta ou aquela ofensa...
Com o toque do exemplo e da palavra, veio promover a renovação do semblante moral dos povos. Veio senão para nos salvar.
Paulo neste versículo se intitula o principal pecador. Perseguira a Cristo. Tinha conhecimento de que havia sido perdoado, no entanto sabia-se ainda pecador. Que dirá de nós outros, então?
Confesso que tenho certa dificuldade de reconhecer meus próprios pecados; daqui desta caminha, parece até que pouco os tenho. Deus, que me sonda, sabe bem quantas omissões com minha filha, quantas palavras não ditas, ou quantas ditas de modo inapropriado aos de minha convivência, quantos pensamentos indevidos, quantos atos, enfim, até mesmo o pecado da gula venho cometendo bastante.
Sim, com o arrependimento somos salvos. Pela fé e pela Graça, pelo amoroso perdão do Senhor somos salvos.
E, claro, perdoar a si mesmo é igualmente muito importante. Imagine se formos perdoados, mas não conseguimos fazê-lo por nós mesmos; isto poderia causar verdadeiros estragos na vida de um cidadão. Afinal de contas, o mandamento é: amar ao próximo como a si mesmo! Este perdão é fundamental na vida de uma pessoa, inclusive para que consiga seguir adiante depois de um erro, tantas vezes grave. Erros, todos cometemos.
Ainda assim, há que se tomar cuidado, a meu ver, para que não se incorra em outro: no de “achar que pode”, já que amanhã seremos novamente perdoados. Não se trata de dieta, que na próxima segunda a gente recomeça. Não se trata de auto-indulgência inadvertida, relaxando na disciplina consigo mesmo. Tenho visto isto por aí. Vigiai e orai, diz o Senhor (Marcos, 13:33). Faz-se mister permanecermos atentos para com nossas próprias atitudes em cada situação que o cotidiano nos coloca.
Jesus nos traz a oportunidade de mudarmos nossa vida; o grande lance é não deixar para amanhã; é mudar hoje. Mudar amanhã também, mantendo ritmos de auto-aperfeiçoamento e, apesar dele, seremos sempre pecadores. Justificados pela fé, é verdade (Romanos, 3:24-25). Contudo, pecadores.
A humildade é um grande dom.
Em nossa maioria ‘favoritistas religiosos’, inclusive nós da IPU - ecumênicos - acreditamos que não existe salvação em outras religiões, muito menos fora delas; pecamos pela intolerância e até mesmo pela maledicência, dentro e fora da igreja. Esquecemo-nos de tantos que vivem uma vida de retidão, de amor e de caridade, movidos tão somente pelo amor ao próximo. Esquecemo-nos de que “quem não é contra nós, é por nós” (Lucas, 9:50). Esquecemo-nos da possibilidade de salvação também para estas pessoas, muitas vezes até mais merecedoras do que nós mesmos...
Parte de nosso legado, sim, é converter-se ao trabalho incessante do bem, seja de que forma for. De minha cama, trabalho também; faço parte da diretoria da Abrami (Associação Brasileira de Miastenia Grave). Minha tarefa é responder às perguntas do grupo do Yahoo e da comunidade do Orkut, tudinho via internet. Parece coisa muito médica, científica, sei lá, mas se você fala de tratamento, fala também de esperança; se fala de esperança, como não dizer da alegria de viver, como não contagiar meus amigos com este dom que Deus me deu? E assim a gente acaba falando de Deus!
O trabalho do amor podem ser palavras, orações que sejam; pode ser um sorriso. Pode ser um silêncio. Levantar, iluminar, ajudar e enobrecer; educar-se alguém para educar os outros. Respeitar. Ser um intérprete da Boa Nova. Instrumento da Salvação, pois quem salva é somente Deus.
Finalizo retomando o Salmo 17, de que tanto gosto, em seu versículo 5: “Dirige meus passos no Teu caminho, para que as minhas pegadas não vacilem” – que esta seja nossa constante oração.
Queridos, Graça e Paz!
Paulinha Mendes
Paulinha Mendes
05/11/10
Painho
Não sei quando nem como passei a chamá-lo assim; acho que foi por brincadeira do Mauzinho.
Lembro-me dele chegando em casa depois do trabalho, já à porta se agachava para que pudéssemos correr e abraçá-lo. Ainda hoje, bem crescidinha, sinto ímpetos de fazê-lo, tal a alegria de vê-lo “toda segunda”, recebê-lo em minha casa.
Homem de caráter firme e modos serenos, discreto como ele só – como muito poucos – respeitador genuíno da individualidade e idiossincrasia alheias.
Sorriso franco disposto a doar. Paciência disposta. Se o vi nervoso em minha vida, foram três ou quatro vezes, todas graças a mim! Disposto a perdoar.
Teimoso, porém adapta-se a mudanças; com elas muda também, cresce como pessoa, deixa-se aprender. Entretanto os princípios permanecem, guiados pelo amor, filho fiel de meus avós. Filha fiel também é o que almejo ser, exemplo vivo que não se pode ignorar.
Inteligência inigualável simplesmente, muito respeitado por isso e também pelo bom senso.
Alegre, de poucas palavras, objetivas e bem humoradas. Fácil de conviver.
Companheiro incansável das horas menos fáceis.
Que mais posso dizer? Este é meu pai!!
Parabéns, Painho, obrigada por você existir!!
Paula
08/08/10
Viver para Transcender
Dizem que é fibromialgia; bom, o que sei é que venho sentindo dores demais. Demasiado. (Queria escrever esta palavra, legal, né?). No começo eram devido ao rituximab, disseram. Ah, como é
que se vai saber?
Porém, com isso tive que olhar pra mim mesma e resolvi, assim, iniciar uma psicoterapia. É muito bom quando paramos pra olhar para nós mesmos... Sou muito alegre, mantenho a casa sempre cheia, movimento os meus dias e, mesmo na cama, estou sempre ocupada – vejam só, a psiquiatra negligenciando o olhar lá pra dentro!! Fazendo isto agora, tantas coisas guardadas...
Não falei da época em que estive mais grave, com intensas dores, sem me mexer, sem respirar direito, incontáveis passeios ao CTI; tá certo que escrevi bastante, sobre as fraldas e tudo o mais, foi meu jeito de lidar com a situação, com um palm topzinho que a Flávia me emprestou; digitava uma letra e descansava, era assim. Olhando ainda um pouco mais pra trás, as dores do casamento acabado – de que afinal não cheguei a falar com ninguém, adoeci e isto na época ficou menos importante, menos urgente... Às vezes a gente acha que dá conta de tudo, não é mesmo?!
Agora pensem bem, quer dizer, não precisa nem pensar muito: de onde é que poderiam vir estas dores?
Tudo, tudo, de algum jeito tem que sair, isto é certo!!
MAS PRA QUE FOI QUE FALEI TUDO ISSO???
É porque fiquei pensando na transcendência, na leveza de alma e de espírito, na maneira “certa” de
processar os acontecimentos da vida, sejam eles tristes ou alegres; gente, é claro que a gente tem que falar
deles!!!
Dividir a alegria, doá-la, é uma missão, até.
Por outro lado, compartilhar a dificuldade com alguém é um dever para conosco mesmos, uma forma de manter a saúde. Garanto que o outro escolhido para isso se sentirá gratificado, até lisonjeado, tanto por ter sido escolhido quanto por poder ajudar; porque ouvir – apenas ouvir – não deixa de ser uma das formas de ajudar!! Da minha parte, sinto-me assim. Também, não tem melindres para procurar um profissional pra isso – faço sem problemas.
O Murilo veio aqui esses dias, pra olhar o Fofo, nosso canarinho. Ele é veterinário, mas na verdade trabalha
com Reiki, e com gente; sabe aquelas pessoas sensitivas, iluminadas, que estão aqui pra poder ajudar as outras? Pois é. Sentiu minha ansiedade, e a do Fofo também; sentiu minha dor nas costas, e a do Fofo também... Dá pra acreditar??? Os animais de estimação parecem compartilhar os sentimentos e o humor de seus “donos”, dizem ser uma das missões destes pequeninos.
Conversamos então sobre a transcendência, a energia da alegria, o compromisso de presentear o próximo com ela. Deixar transbordar o copo. E enquanto ele fazia Reiki em mim (não ia perder a oportunidade, né?!), veio-me a idéia de escrever sobre este assunto. A transcendência... Sinceramente, não tenho sequer noção do que poderei escrever - enfim, vamos em frente...
Lembrei-me de duas coisas: de um livro do Pietro Ubaldi e de uma poesia em forma de prosa, que é mister colocar aqui.
Vamos começar assim: pensando nesta mesa sobre a qual estou digitando neste momento; matéria que é feita de quê? De átomos, não é mesmo?
Pois bem, passemos a visualizar, a seguir, este átomo: um núcleo, com prótons e nêutrons, rodeado de elétrons.
Só tem espaço vazio, não
é mesmo?
Elétrons girando em torno de um
quase nada...
Juntando espaço vazio com espaço vazio, o que é que dá???!!!!!
Ou seja, esta mesa – um acúmulo, ou uma aglomeração de átomos, organizados é claro - na verdade não existe, é quase que uma ilusão (se eu não a estivesse palpando neste momento!).
Pois bem: Pietro Ubaldi falava da respiração do universo, como expansão e contração de uma mesma substância...
Tomo agora uma espiral, para explicar melhor o que queria dizer:
Falava do espaço-matéria, da Beta-energia e da substância alfa; do espaço-substância, da energia-substância e do pensamento-substância, respectivamente – todos, diferentes aspectos da mesma substância (dependendo dos graus de expansão e contração da mesma), fazendo assim uma contraposição entre espírito e matéria.
Bom, dizia da evolução do ser, pois acreditava, vamos simplificar assim, na “queda dos anjos”, o anjo que caído do céu (por um ato ou pensamento equivocado, vulgo pecado) virou matéria, corpo físico, como o nosso; e que a partir daí recomeçaria sua própria evolução até o retorno à forma de espírito ou pensamento somente...
Parece complicado, mas é tudo muito simples, na verdade. Independente das crenças de cada um, sejam católicos, espíritas, protestantes, budistas, etc, o fato é que (assim creio eu) todos acreditamos no ideal da evolução do ser, de uma forma ou de outra, não é mesmo?
Afinal, estamos aqui para quê? Espíritos “presos” neste corpo físico até, um dia, o inevitável encontro com a morte. A partir daí, ninguém sabe ao certo.
A meu ver vivemos, entretanto, para nos superarmos a nós mesmos enquanto seres humanos, seres de vivência interna e de con-vivência. Criados pelo Amor e para o amor, em suas diversas formas e todas as suas nuances, dada a individualidade de cada qual. Todos feitos de uma mesma substância que, reunida, forma uma só: Deus!!
Daí o com-partilhar das vivências, da alegria, da tristeza, da ansiedade; daí a amizade, a família, a comunidade, o bem comum, o bem viver... Aqui estamos para transcender; com a energia do corpo, presentear o espírito – o nosso e o alheio.
As dores, desta forma, vão-se transformando em algo cada vez mais leve, enquanto atinge um estado de saúde, de leveza de alma - enquanto alcança a maneira “certa” de processar os acontecimentos da vida...
Para finalizar, gostaria de presenteá-los com algo precioso, como forma de lhes dedicar todo o meu amor:
(Re)citando Frei Cláudio, em seu livro TRANSBORDAR, profunda leitura que recomendo a todos:
“Reconhece-te carne e osso da humana dignidade revestida de limitações e virtudes, o que te possibilita sentir o amor de Deus em tudo o que és e fazes. Dessa forma, sê portador de uma paz interior com boa atração, ajudando outros a beber de uma fonte benfazeja. Experimenta Deus como alguém que te ama em tua fragilidade com grande compaixão. Descobre-te a ti mesmo, move-te em tua identidade; desenvolve teu auto-respeito e cuida bem de tua realização. Sê uma pessoa de fé, aproveita as oportunidades, aprende de toda experiência e não sejas responsável demais. Faze a teu próximo o que podes esperar para ti mesmo.
Vive de coração aberto e acolhe solidário os que de ti se aproximam. Considera-os oferta divina para ti.
Sê tolerante para com todos que se mostram agressivos, aprende a criar boas amizades e te mostra feliz na partilha. Cuida de teu bem estar, releva tuas fraquezas, confia nas próprias energias e nunca te julgues salvador de quem quer que seja. Não deixes de amar um conto de fada, uma música, uma
poesia, uma obra de arte, uma prece. Respeita os mais sofridos. Tece e curte bons encontros. A melhor maneira de honrar teu existir neste mundo é dispor-te para, de forma gratificante, gozar de boas amizades. Só isto. Tudo isto. Vive no amor e floresce em um clima de alegre jocosidade. Para abrir a porta da vida e da felicidade, não é preciso perder-te em negações com severidade. Reflete o jogo alegre de amantes que se divertem e abraçam, alegrando-se no prazer de conviver. No desempenho de afazeres, evita cansaço, pressa e solidão; resolve ou torna suportáveis os problemas de teu ir e vir. Amplia a visão, supera preconceitos e não sejas prisioneiro do egoísmo.
Agarra-te a teu próprio núcleo, enfrenta situações desafiantes e cultiva um processo contínuo de crescimento interior. Evoluir é a lei. Procura ir além. Visita, de vez em quando, um lugar desconhecido, empreende algo diferente ou de risco e partilha uma dor. Admira as maravilhas da natureza, cresce na arte de curtir a cultura e saboreia as conquistas da história. Foge de todo apego e confirma-te na individualidade sem negligenciar tua pertença ao todo, a fim de não pesares na convivência.
Em paz contigo, leve-a para outros. Enfim, extrai de cada dia o que tem para oferecer. Assim, farás Deus reinar e poderás experimentar, em tudo, a gratuidade de dádiva. No esforço de transcender-te, faze que teu corpo seja a harpa de tua alma.”
Um grande abraço.
Paulinha.
11/05/10
Sem Título
Encontrei um texto que havia escrito em 95, imaginem...
Estava à procura de uns escritos que fiz sobre Pietro Ubaldi, na época em que o estudei. Acreditava então na reencarnação. Resolvi transcrevê-lo, então:
Estava à procura de uns escritos que fiz sobre Pietro Ubaldi, na época em que o estudei. Acreditava então na reencarnação. Resolvi transcrevê-lo, então:
Como um oceano de calmas superfícies e revoluções profundas. O interior. Penso no quão difícil é perceber o próprio, que dirá do alheio?!! Tarefa difícil.
Porque exige de si mesmo burilamento interior; um conhecimento interior. Um equilíbrio que possibilite superar a própria impulsividade, as próprias tendências. Em crescimento contínuo, mesmo que não retilíneo; melhor se o fosse. Exige tamanha paz interior, naquele momento em que se calam as angústias do ser, para que se possa se doar. Se entregar ao momento de ouvir e perceber o outro, ao movimento de sentir, bem mais do que materialmente, o sofrimento daquele que se lho apresenta. Entrelinhas que sempre presentes. O silencio interior deve saber falar e ouvir o bastante.
Desafio é constantemente caminhar, mantendo ritmos de auto-aperfeiçoamento; de vigilância interior. De doação verdadeira ao amor da tarefa em que você acredita. Sem atalhos, sem desvios, sem descanso.
E assim mesmo, a vida é pouca; parece-me que ao final dela é quando sabemos um pouco apenas a mais. Quem sabe na próxima e na próxima, elipticamente saberemos cada vez um pouco mais. Quem sabe um dia, livres de impulsividades terrenas, nos doaremos por completo à felicidade suprema de amar, simplesmente. Veículos, apenas, do Amor do Pai – que nos guia, nos acolhe, nos orienta. Quem sabe, um dia Seremos... Plenamente...
Feitos apenas do Amor a que fomos criados!
PCMendes
Jun/95
Da Tolerância e Respeito Mútuo
É bem sabido que sou presbiteriana.
Convivo, porém, com amigos das mais diversas denominações da igreja protestante, hoje ditas “evangélicas”, com muitos católicos, outros espíritas, poucos budistas, alguns sem religião específica (crentes em Deus, entretanto) e talvez um ou outro que acredite apenas em princípios, éticos na verdade, mas nada mais do que isso; uma “mistureba”, para usar o nome de um desenho animado que a Stella assistia outro dia.
Tenho amigos que bebem, tenho aqueles que não bebem nem café; tenho aqueles solteiros, outros casados, amigados, separados, divorciados, namorando, “ficando”, enrolados; de orientação homo e heterossexual; aqueles que, independente da orientação, são celibatários.
Todos, é claro, escolhidos a dedo – e a recíproca, às vezes, chega a ser verdadeira: já fui escolhida também,
recebi esta graça.
Com esta profusão de “identidades”, ou identificações, digamos assim, acabei me deparando com o seguinte pensamento:
O que aconteceria se me visitassem à mesma hora um amigo evangeliquíssimo e duas amigas espíritas?!
Um amigo padre, uma amiga freira e dois amigos homossexuais “assumidos”?!
(estou brincando assim, mas aqui vou fazer um aparte: não posso deixar de dizer que penso que (quase) todo homossexual deveria, sim, sair do armário o quanto antes. Apesar da discriminação na sociedade, o sofrimento, creio, ainda seria bem menor do que aquele enfrentado desde a adolescência para ocultar da família, de pessoas da sua convivência uma coisa que na verdade não pôde “escolher” – ao se ver púbere, a atração já se fez daquele jeito. Teve que lidar com isso da melhor maneira que conseguiu – e isso não significa falta de respeito pela orientação alheia, nem crime, nem “sem-vergonhice”. Esta pessoa é capaz de amar e ser amada, tanto quanto qualquer um, e não ousemos (quem somos nós?) querer mudá-la...)
Bem, mas conseguiram entender o X da questão, não é mesmo?
Não que meus amigos sejam intolerantes, pelo contrário, estou na verdade querendo me referir a um contexto mais amplo, ambientes em que de uma forma ou de outra vivo ou de que ouço falar, muitos inclusive religiosos, vejam bem...
Falemos então do amor, que seria o tema central de toda e qualquer religião;
do amor, em suas múltiplas facetas e desdobramentos;
de amar ao próximo como a si mesmo...
Queria falar do respeito profundo que devemos a todo e qualquer ser humano, incondicionalmente. Independente daquilo em que ele acredita ou deixa de acreditar, do que faz ou deixa de fazer.
Citei um exemplo assim, simplesinho, mas então vamos complicar mais um pouquinho: o que dizer do amor e
respeito profundo que devemos aos seres humanos que se tornam serial killers, aos perversos, aos criminosos e estupradores, e assim por diante?!
Lembro-me de um filme em que a Susan Sarandon e Sean Penn atuaram, “Os Últimos Passos de um Homem”. Ela fazia o papel da freira que o visitava na prisão, que lhe deu todo o amor cristão e o levou à confissão e redenção final, apesar da pena de morte que sofreu...
E o que dizer da pena de morte?!
Que direito temos de fazer o papel de Deus, ainda por cima em uma sociedade em que prevalece uma justiça
altamente falha e parcial, em que a impunidade é regra para os poderosos, em que os que não o são dificilmente têm direito a uma defesa razoável?!
Amar quem é próximo da gente, assim como a nós mesmos, é muito, muito fácil; mas o que fazer, o que sentir pelas pessoas que são verdadeiramente diferentes da gente, por aqueles que inclusive violam os nossos direitos?!
O que fazer com a raiva e a repulsa que eles nos despertam, com a vontade que temos até de matá-los, algumas vezes?! Não que não possamos ter estes sentimentos – eles são humanos, inerentes a nós. Mas há que se lidar com eles, de processá-los aqui dentro.
Não que tenhamos de conviver com criminosos – amar nem sempre significa isso. A prisão, diga-se, existe porque se precisa dela. Entretanto, deve ser possível enxergar naquele ali um ser humano, que talvez tenha sofrido abusos, violência, abandono na infância, talvez não, porém algo aconteceu na formação de sua estrutura que o levou até ali... Como nós, não deixa de ser humano. Como julgar algo que nos escapa?
Desejar-lhe o bem, a evolução espiritual se esta for passível de acontecer, perdoar-lhe a falta setenta vezes sete vezes...
O que é isto que Jesus Cristo quer ensinar?
Surpreendemo-nos com as picuinhas do cotidiano, com a intolerância recíproca por motivos mínimos, diferenças que podem simplesmente e muito bem ser respeitadas, ao invés dessa mania de querer convencer
ou modificar o outro.
São as diferenças que enriquecem o convívio, são elas que dão idéias, que abrem os horizontes e colorem de
diversos tons a vida, que nunca deve ser cinza. São elas que impulsionam o crescimento individual e coletivo, a minha mudança como pessoa em cada circunstância, e graças a Deus pelas diferenças e pelos “pitacos” que os outros dão!!
Conviver não é fácil, amar nem sempre é fácil, quem disse que é?
Entretanto, é este o convite que o Cristo nos faz e, creio, o mesmo de tantas outras denominações religiosas que semeiam o amor e a tolerância.
Examinemo-nos, então: temos vivido aquilo que pregamos?
O desafio é interior e diário, não se enganem...
Viver é lindo!!!
Paulinha.
28/02/10
Frei Cláudio, Homem de Deus
Conheço Fr. Cláudio desde meus 15 ou 16, época de turbilhões adolescentes; conto hoje 43 e continuo recebendo a Graça de sua amizade.
Comportamento, atitude, atos, humildade, postura, sentimentos, Fé e cultura dignos de se espelhar, para alguém que esteja à procura de um exemplo de vida.
Homem à frente de seu tempo, em termos de Igreja Católica. Revolucionário, Jesus também foi; e Fr. Cláudio nunca deixou de falar Deste e, principalmente, VIVER seus ensinamentos – para os quais não mede palavras.
Pessoa afável, de fácil contato, até hoje ajoelha-se frente aos “baixinhos” como eu, dada sua altíssima estatura. Disponível e interessado, conversa mansa que vai enveredando pelos caminhos das manifestações mais simples e pelos Mistérios de Deus, tentando ao mesmo tempo descomplicar e comungar com o Universo. Embora às vezes possa soar complicado aos ouvidos menos avisados...
“A transformar sonhos em obras e colheita” (tomei emprestado aos versos de Uard Mahmed Lauar de Barros).
Sua obra traduz-se em livros, “PPSs”(Power Points), poesias, ao lado de uma extensa (obra) social: a Paróquia conta hoje com ambulatórios com médico, dentista, psicólogo, além de oferecer Reiki, farmácia, assistência à Comunidade do Morro do Papagaio, missas em dias e horários variados em que há um afluxo de pessoas de múltiplas idades, curso de noivos, Encontro de Casais, Encontro de Jovens, bazar, curso de crisma, catecismo, alfabetização de adultos, isto que eu saiba, talvez um pouco mais.
Em tempo de proliferação de denominações religiosas, traz a característica de acreditar no ecumenismo, creio eu, no diálogo e respeito mútuo entre os diversos movimentos em torno daquilo que possa representar o Amor e a Ética, numa tentativa de desvendar o significado da Essência Divina, coisa que em última instância não alcançaremos.
Comete a ousadia de desmistificar mitos e rituais em prol de uma Fé verdadeira e genuína de forma singular, ora artistica e poeticamente, ora inflamado questionador.
Por essas e outras, muitas outras, é que este frei e psicólogo erradicado da Holanda ocupa um lugar todo especial em meu coração e minha vida e de minha família. Um amigo à parte.
No mais, não passo de (mais) uma admiradora deste dinâmico propagador da Palavra, do Mistério e da Verdade que pairam sobre todos nós.
Guardadas as devidas proporções, é claro, Paulo também foi injustiçado – e, igualmente, nunca ocupou o lugar de vítima...
Paulinha
03/05/10
Paula de Castro Mendes é médica
psiquiatra aposentada em BH, de profissão de fé Presbiteriana (IPU).
Páscoa
Momento de renovação.
Cristo ressuscitou. Renasceu da morte, no terceiro dia.
Há quanto temos vivido esta ou aquela situação de morte, qualquer que seja ela, qualquer tempo que seja? É certo que estes “três dias”simbólicos, quer durem um ano ou mais, muitas vezes são imprescindíveis ao indivíduo para que passe por todo um processo de “digestão”, vamos dizer assim, em que possa compreender, analisar, concluir e assimilar tudo aquilo. Este tempo é diferente para cada um de nós.
Mas chega Cristo para nos reafirmar a possibilidade do milagre; renascer em espírito, dar uma guinada, fazer uma reviravolta na vida, ventilar os pensamentos e ações, o modo de viver, de relacionar, de lidar com as diversas circunstâncias que se nos apresentam, tudo isto é possível. Perdoar é possível.
A Páscoa, inclusive, é possível vivê-la todos os dias. O dia de hoje passa a ser apenas um dia para celebrá-la, celebrar a possibilidade da transformação, o aprender de cada dia, com o aprendizado a coragem de arriscar um passo diferente, uma nota musical mais aguda no caminho da serenidade, de subir um degrau do templo da felicidade ou da sabedoria.
Que esta possibilidade seja o chocolate que adoça toda a vida.
Pode-se optar por quebrar a casca e renascer.
Dia para relembrar e agradecer a vinda e o exemplo Daquele que se fez Homem para nos ensinar a essência do verdadeiro amor. Tão fácil e natural para Ele, por vezes tão difícil para nós. Por que será?
Cabe perguntar, e cabe fazer a revisão íntima daquilo o que nos move na direção contrária...
Cabe, também, a mudança, a quebra do que está cristalizado, imóvel. Cabe abrir a janela e deixar o sol bater, renovar o ar, fazer a troca.
É Páscoa, afinal!!
Quer convite maior?
Celebremos então a Esperança e a certeza da renovação, e de que as misericórdias de Deus se renovam a cada manhã!!
Muito bom dia a todos!!!!
Paulinha
04/04/10
00:04
Vó Stella II
Não satisfeita com o primeiro texto, este me trouxe tantas recordações, que decidi escrever o próximo.
Lembrei-me do armazém do Sr. Mozar, na esquina com a Rio Grande do Norte; a gente morava ali, e quando ia comprar alguma coisa pra mamãe, punha na conta do papai – mas quando era bala, chocolate ou coisa que o valha, como os biscoitos gostosos que não estavam no “programa”, então ia tudo pra conta do vovô. Vó Stella não se importava, achava até graça.
Lembrei-me da vovó rezando todos os dias de mãos dadas com o Vô Arnaldo, na ante-sala do apartamento, até o finalzinho da vida dele, quando ele já não entendia muita coisa; acendiam a luz dali às 18:00 diariamente, para N. Senhora, quando o terço era “desfiado” invariavelmente.
Esposa dedicada, carinhosa e paciente, certa vez a surpreendi se apresentando ao telefone como a “Sra. Arnaldo Mendes”... Muitas vezes trocavam beijinhos carinhosos.
Em todos os momentos de dificuldade, nunca a vi se queixar de nada, creio que fazia tudo para ser o mais
discreta possível.
Discreta também quanto a tudo o que lhe confiavam, nunca a vi fazer qualquer comentário a respeito da vida
alheia, mesmo que fossem com pessoas íntimas, sobre pessoas também de sua intimidade.
À igreja, fazia questão de ir todos os dias, e comungar.
Se bem me lembro, chegou até a fazer aulas de dança ou de ginástica na igreja, eu achava um show!
Quando me apresentei pela primeira vez no coral da minha igreja, mesmo sendo presbiteriana, vovó foi assistir com carinho. Disse-me que o importante era estar no caminho de Jesus Cristo.
Fomos ao cinema, o último filme que vimos foi “Billy Elliot” (não sei se é assim que se escreve); viajamos para o Rio, Niterói, São Paulo; pensando bem, eram muito corajosos, levando os netos assim para viajar. Hoje sei o trabalho que dá!
Mais adolescente, à época do cursinho pré-vestibular, dormia em sua casa assiduamente, ao que era sempre
muito bem acolhida, assim como o Marcelo, da Maria Cristina. Estava sempre disponível, ocupava-se dos mínimos detalhes, não se cansava de oferecer isto ou aquilo.
Chegamos a nos mudar um tempinho para a casa dela, eu e o Geraldo, para ajudá-la com o vovô. Uma convivência sempre pacífica, cheia de paciência, cuidados e amor. Vovó era inigualável!
Quando me mudei para a rua Tremedal, no Carlos Prates, não tinha um armário sequer; as coisas guardadas nas caixas, minhas e do Maurício. Ela então me emprestou um bom dinheiro para mandar fazê-los, por prazo indeterminado. Demorei um pouquinho para restituir-lhe o empréstimo e, quando o fiz, disse “esse dinheirinho veio numa boa hora!!”. Entretanto, acredito que nunca tenha pensado em cobrá-lo.
Falando nisso, difícil ver tamanha facilidade para lidar com números. Fazia contas num piscar de olhos, sabia os telefones de Deus e o mundo, impressionante.
Uma das coisas a que dava mais valor era a família, a união da gente, fazia muita questão disso no Natal, que
era quando a casa ficava cheia e, apesar do cansaço, aquilo a fazia feliz.
Dava atenção carinhosa a todos, tia Nelly, tia Inês, tia Zezé, à Conceição, irmã do vovô Arnaldo, só para citar alguns. Tinha os afilhados, as amigas da igreja e do prédio, incluindo o Pérsio e a Baby, tão queridos.
Antes da cirurgia do coração, fomos levá-la ao aeroporto para ir a São Paulo; o José Maurício também foi. Despediu-se com aquele “medinho” nos olhos, nunca me esqueço disso.
Recordo agora seus pezinhos de “bolinha”, sempre tão inchadinhos, punha-os para cima para assistir às novelas (coisa que sempre dizia que ia parar de fazer, mas nunca parava).
Adorava palavras cruzadas, e às vezes telefonava para a Débora, minha madrinha, perguntando uma palavra ou outra, sempre apressada, tanto que nem a cumprimentava ou se despedia direito, era uma graça!
Tem certos detalhes que ficam guardados pra sempre.
A bengalinha com cara de pato, que hoje está comigo; a sopa de aspargos, que fazia como ninguém, apesar de não gostar muito de ir pra cozinha; as visitas à casa da mamãe, mesmo com aquele tanto de escadas; um fim de semana que passou em minha casa, quando os passava na casa de um ou outro filho.
Vovó era sábia ao lidar com as pessoas. Bem humorada, solícita, teimooosa que só ela! (coisa que meu pai
herdou – e eu, dele!). Tinha alergia a queijo, e mesmo assim comia; depois, tinha asma. Mas tinha vez que não resistia.
Só coisas boas!
Que essas boas lembranças nos encham o espírito de uma saudade alegre e leve, como ela própria sempre foi, e que nossa família se mantenha sempre unida no amor, conforme seu desejo mais
genuíno!
Paulinha.
23/02/10
Vó Stella
Engraçado. Escrevi sobre o Vô Arnaldo com certa facilidade, e tínhamos uma ligação bastante forte; agora
estou há mais de mês para escrever sobre a Vó Stella, e com esta dificuldade. Não sei exatamente o porquê. Possivelmente pelas emoções que me desperta.
Bom, era ela o meu exemplo de vida, é até hoje. E apesar de nossa convivência ter escasseado no final, pois
eu já me achava também adoentada, mesmo assim, creio, nunca deixamos de estar próximas. Muito amor nos unia, e também certa cumplicidade, depois da experiência do falecimento do vovô. Referindo-se a este momento, ela sempre me agradecia, parece que nunca se esquecia de tocar no assunto, era quase como uma necessidade para ela.
Quanto a minha ausência física nos últimos tempos, já estando ela acamada, um dia mamãe decidiu lhe contar a razão; parece-me que ficou grata, dizendo que “gosto que me contem a verdade!”
Achava que eu andava muito ocupada...
Vovó vivia de amar as pessoas.
Preocupada com os filhos, fazia e tudo para eles, e que se sentissem importantes, visto daqui do meu ponto de vista.
Quanto aos netos, que são muitos, sabia os gostos de cada um em particular, queria saber da história e da vida de um por um. Se um neto vinha almoçar, o menu era sempre aquilo que ele gostasse, isso não falhava.
Quanto aos bisnetos, não sei muito bem, mas claro que posso facilmente imaginar; à Stella, chamava carinhosamente de “xarazinha”, e foi a primeira visita que teve no hospital ao nascer – parece que vovó ficou esperando alguém para levá-la ao Felício Rocho e, não tendo aparecido ninguém naquele momento, pegou um táxi sozinha e foi. Assim era ela.
Preocupada também com pessoas que nem conhecia direito, fazia tanta questão de ajudar que às vezes até abusavam dela e de sua boa fé. Ela não se importava, via nas pessoas aquilo que geralmente não vemos, e amava-as respeitando seu jeito e seus possíveis defeitos.
Sempre um pouco ansiosa, muito ligada a horários, queria fazer tudo certinho e à hora.
Gostava de jogar “buraco” durante horas a fio, e ai de quem a fizesse perder; ficava uma fera!
Sua fé inabalável sem dúvida alguma deu base a minha estrutura como pessoa, convivendo com seu exemplo desde quando morávamos no apartamento conjugado ao lado, mas também por todos os anos de relacionamento próximo, coisa que nunca deixamos de ter; já chorei no seu colo, ela também já chorou no meu. Para mim, isso foi uma graça, um privilégio.
Ás vezes, com minhas dúvidas a respeito de religião, telefonava para ela, perguntando “vovó, se Deus só faz a vontade Dele, então pra que é que a gente tem que rezar?”
Ela me respondia de acordo com sua fé, e me indicava livros para ler.
O mais interessante, acho, é que apesar de ser muito tradicional e católica, também não deixava de ter a cabeça muito aberta, sempre atualizada com o mundo moderno e com o que os netos, por exemplo, estavam vivendo, sempre num respeito profundo e um amor incondicional.
Digo sempre que se conseguir chegar pelo menos “aos pés” do que foi a Vó Stella, poderei me sentir um pouco mais evoluída. Minha filha, não é à toa que ganhou este nome.
Sinto com freqüência muita falta dela, uma saudade gostosa, na certeza de que de alguma forma está sempre
presente em todos os momentos da minha vida, seja pelos princípios que me ensinou no decorrer dela, seja por estas formas misteriosas que a gente nunca tem certeza, mas nunca nega - e imagina que devam existir.
A vida da vovó foi um precioso presente, creio que para todos que tiveram a oportunidade conhecê-la.
Que ela viva dentro de nós, perpetuando este ideal de amor cristão, independente do nome da religião que cada qual escolher; pois o que vale, no fundo, é a essência, e isso ela soube transmitir com sabedoria e muito
bem.
Basta olhar sua família.
Paulinha Mendes
Vovô Arnaldo
Não é sempre que o recurso da palavra consegue traduzir os fatos, menos ainda os sentimentos que os acompanharam ou os promoveram. Não sei se faço jus a meu avô. Se não, que se façam deduzíveis as entrelinhas, ao menos.
Desde que me entendi por gente até os seis, por aí, morávamos em apartamentos conjugados, um ao lado do outro, "separados" por esta porta eternamente aberta da convivência, da intimidade, do amor, ou sei lá mais o quê. Sei, sim, que por volta das cinco e meia da manhã tomava eu meu impulso diário, com a ajuda amiga do corredor do apartamento e -PUM!!!- fazia sempre questão de pular no meio deles, do casalzinho que vi até velhinhos rezarem juntos, de mãos dadas, e darem beijinhos na boca quando a senilidade começou a fazer cosquinhas à lucidez ou à consciência daquele que era o chefe da casa.
Austero, a mim me parecia brincar de ser bravo, ou se fazer de sério. Que nada, coração mole, mole, igualzinho ao azeite com que ele me ensinou a fazer piscinas, lagoas e até mares em cima do arroz e do
feijão.
Se sei um algo suficiente de inglês, até hoje, isso se deve ao fato de ter começado a pagar minhas aulas, à segunda série primária.
Passeávamos, viajávamos. Fomos de "Vera Cruz" para o Rio enquanto apostávamos Cr$1,00
depois de cada túnel que passava, que haveria um outro e ainda um próximo. Cheguei rica ao Rio de Janeiro.
Durante o cursinho pré-vestibular, dormia inúmeras vezes em sua casa, e era quando de vez em
quando mandava algum colega meu para fora de casa, sem explicações.
Já adoecido, dormimos eu e meu primeiro marido durante algum tempo em seu apartamento; como se desse mais segurança à vovó, por eu ser médica ou estudante.
Tínhamos muito carinho, uma cumplicidade, comíamos o pão sovado como "pão de Batman", porque fazia a letra B no seu formato. Tocava violão para ele gostar. Beijava-o com amor. Fazia-lhe carinhos à cabeça.
Já internado, ao finalzinho da vida, bem finalzinho mesmo, tive a oportunidade única de poder acompanhar a vovó no hospital, e enquanto ela dormia confesso que lhe fiz carícias ao rosto, aos cabelinhos, às mãos: "pode morrer, vovô, não tem problema, está tudo bem, pode ir..."
Eu e vovó acompanhamos seus últimos suspiros,mãos dadas, não sem antes ter que argumentar firmemente com a residente de plantão e afirmar que "minha avó dava conta!" Este, momento só nosso, vínculo inesquecível, morada no coração.
Ficou o exemplo, o caráter, a honestidade, a religiosidade; modelo do homem de bem, pai responsável, carinho doce mal disfarçado de firmeza e severidade.
Para saber, basta olhar os filhos.
Saudade sem fim.
Paulinha.
02/11/2006
Sobre o Dom de Falar em Línguas
I Coríntios, 9:20-23
E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivera debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei.
Para os que estão sem lei, como se estivera sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei.
Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.
E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele.
Meu irmão viajou para o Chile e eu, talvez de saudade, acabei sonhando em espanhol.
Não sei falar em espanhol, sei ler, mas estando hospitalizada, eu e meu pai acabamos criando o hábito de ouvir na TV o jornal nas mais variadas línguas, um dia em espanhol, outro em italiano, outro no português de Portugal, outro ainda em francês. Só mesmo ao alemão é que não dá para o ouvido se acostumar, mesmo se tentar bastante. Enfim, o ouvido acaba se deixando impressionar e a gente até entende alguma coisa.
Fiquei diante das notícias do papa, do que faleceu e do que o substituiu, e pensando no punhado de línguas que eles falam. São muitas. Assim fazem se entender em diversos países e culturas. Fiquei pensando no estrangeiro, tentando se comunicar em país estranho, em língua estranha, cultura estranha. Uma dificuldade.
Ocorreu-me em seguida o fenômeno que, usualmente parece, acontece nas igrejas pentecostais e neopentecostais e que não sei bem caracterizar, mas que se caracteriza pelo “falar em línguas”, manifestação do Espírito. Fala-se em hebraico, aramaico, pelo que me disseram, coisas ininterpretáveis. Não sei ao certo, este fenômeno não me é familiar. Sei que se trata de um dom espiritual.
Resolvi então abrir em I Coríntios e ler um pouco sobre os dons espirituais, especialmente sobre aquele de falar em línguas. No capítulo 14, 9 a 11, Paulo nos diz: “Assim vós, se, com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis ? Porque estareis como se falásseis ao ar. Há, sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo, nenhum deles, contudo, sem sentido. Se eu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala e ele, estrangeiro para mim”.
Pois bem. E temos nossa responsabilidade cristã da pregação, de falar do amor desse Pai misericordioso e trazer esperança, consolo, edificando e exortando. Sem mandar quem está ouvindo embora, criando resistências e antipatias que mais tarde só farão prejudicar o entendimento dadivoso disso que é o amor incomparável que só o Senhor nos proporciona.
Então, em nosso próprio e reles portuguezinho, que tantas vezes deixa tanto a desejar, fiquei pensando que poderíamos também falar em “línguas” diversas.
Imaginem se fôssemos dar uma palestra para jovens da idade do Sr. Venésio, utilizando a
linguagem do Pablo ou da Carol. Assim por diante, imaginemos em que “língua” deveríamos falar para uma platéia de analfabetos ou de drogaditos, ou de eruditos. Ou, ainda, para pessoas de uma denominação cristã diferente da nossa. Ou se o ouvinte fosse de uma outra religião, que não tivesse a referência cristã … E se a platéia fosse uma turma de ateus ?
Se a gente só fala na própria língua, sem sair um pouquinho de si para chegar ao outro, na referência dele, talvez a gente acabe é não se comunicando. E, se bobear, mesmo assim acha que está pregando.
Resolvi então propor a revolução do conceito de falar em línguas. E orar e pedir que o Santo Espírito de Deus possa ter em nós esta forma de manifestação, este dom de falar em línguas, na língua e na referência de quem ouve, para que nos façamos entender, para que também possamos ouvir e dialogar. E fazer a nossa parte como os cristãos responsáveis e sensatos que somos.
Assim diz Paulo, ainda no capítulo 14, 18 e 19: “Dou graças a Deus porque falo em outras línguas mais do que todos vós. Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua”. E, ainda, e mais importante: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver Amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine”. (I Cor 13, 1)
Lembrando que o AMOR e o EXEMPLO são línguas muito mais universais do que qualquer Esperanto.
Que o Senhor nos abençoe em mais esta esperança, e nos conceda os mais diversos dons, cada um conforme Lhe aprouver, na unidade orgânica que é nossa Igreja, e que saibamos fazer bom uso deles.
Graça e Paz a todos, no amor de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Paulinha
29/ABR/05
Toda Novela Tem Final Feliz
Novela mexicana, claro!!
A (longa) história do rituximab.
Queridos, que fique bem claro: vou ter que contar a novela desde o comecinho. O Paulo Roberto, meu neurologista, como todos nós, seres humanos, estava passando por um momento muito difícil, com o pai grave no CTI, e que acabou por falecer logo depois. Trata-se de um médico admirável, que tenho elogiado desde o início do meu tratamento. Ele optou por continuar trabalhando, apesar da situação pela qual passava, e deu o máximo de si naquele momento.
Acompanhamo-nos há anos, ele me conhece como a palma da mão e a recíproca também pode ser verdadeira, visto que já o vi nervoso, stressado, preocupado, choroso, feliz, vitorioso, esperançoso, aliviado e o que mais possam imaginar...
Foi quem fez meu diagnóstico e quem suou a camisa com todas as dificuldades de uma evolução incomum para a miastenia gravis. Há seis anos converso com ele no mínimo semanalmente, e continuo confiando minha vida a ele.
Dito isto, vamos lá.
Em meados de novembro passado, enfim, depois de termos esgotado todas as possibilidades terapêuticas para um quadro refratário da miastenia, decidimo-nos, eu, o Paulo Roberto, o Rogério (meu clínico e meu primo querido), acompanhados de perto pela torcida da Hilda, minha hematologista, a tentar o tratamento com o rituximab.
Droga relativamente nova no mercado, aprovada pelo FDA, até então, para tratar o linfoma e a artrite reumatóide.
Há relatos de muitos casos bem sucedidos do uso desta substância em outras doenças auto-imunes, inclusive a que eu tenho; estes casos foram publicados na literatura médica e são bem conhecidos, mas não têm aquele estudo duplo-cego, etc, exigidos como comprovação científica, por se tratarem de casos relativamente raros, pois é indicada somente para os quadros que não respondem às terapias usuais, e estes são em número pequeno em relação aos diagnósticos realizados.
Depois de muita ponderação, colocando na balança as vantagens e os possíveis riscos de tal terapia, pediu-me o Paulo Roberto um tempinho para estudar melhor o medicamento e rever meu caso, até podê-lo prescrever com segurança.
Alertou-me o Rogério para o fato de que os planos de saúde vinham negando a cobertura deste tratamento com alguma freqüência, e que possivelmente teríamos que recorrer à justiça para consegui-lo.
Assim sendo, poucos dias antes do Natal pedi ao meu neuro que fizesse um relatório para enviar ao meu plano de saúde e solicitar o tratamento, depois de um contato telefônico com o médico responsável, Dr. Marcelo.
O neurologista, aparentemente um pouco a contragosto, concordou em fazê-lo, argumentando porém que, estando eu à época internada, não haveria o convênio de negá-lo – no que sinceramente acreditava.
Passou o Natal, o Ano Novo, e nada do relatório.
Meus pais estavam viajando com a Stella para Ipatinga e, assim como vários tios que me deram todo o apoio na ausência deles, a Débora, minha madrinha, vinha me visitar assiduamente. Numa dessas visitas, sugeriu que marcássemos uma consulta com ele, e assim pediríamos novamente o relatório. Liguei para a sua secretária, que me disse que ele iria viajar e que vaga, só para o dia 25 de janeiro; diante da minha observação de que ligaria para ele, me diz: “Tem uma vaga para hoje, às 16:30...”
Nesta terça-feira, pouco antes do horário da consulta, me liga o Paulo Roberto: “Paula, eu estou sem jeito com você, com esta confusão toda, meu pai doente, não tive realmente tempo de fazer seu relatório; mas você vem aqui hoje só para isso? Porque se for, não precisa vir, eu faço o relatório agora, você pede para alguém vir buscar... Veja bem, não me entenda mal, se você quiser vir, estou à disposição, com muito prazer, mas estou querendo te poupar o esforço de pegar a cadeira, um carro, ter que sair de casa, etc...”
Acabou que fui assim mesmo, junto com a Débora e o Maurício, pois não estava me sentindo bem, a quimioterapia que me era administrada já não fazia o efeito desejado, e eu vinha numa piora progressiva desde setembro. Argumentei que até poder tomar o rituximab em fins de janeiro, para quando estava previsto, precisaríamos de uma “forcinha” a mais para agüentar até lá, lançar mão de outra medida.
A consulta foi uma maravilha, mais de uma hora durou, saí de lá com o tão sonhado relatório e uma prescrição do myfortic, como terapia adjuvante. Até o dia 20, no máximo, tomaríamos a nova medicação proposta.
Passamos para a fase seguinte: mando o relatório ao Saúde-Asttter.
Daí a dois ou três dias, não me lembro bem, recebo um telefonema da Solange, relatando que havia um regulamento no plano, número tal tal tal, que não autorizava tratamentos que não tivessem comprovação científica ou que estivessem em fase números tais e tais de aprovação ou experimentação, sei lá...
Bom. Paulo Roberto viajou.
Peço a minha secretária que busque o relatório no Saúde-Asttter e ao Rogério que faça a solicitação do tratamento para a Unimed. Juntamos os dois e o encaminhamos a este novo plano.
Negaram, pelo mesmo motivo. Que mandassem por escrito, a pedido do Rogério. Então pedi ao primeiro convênio que também mandasse por escrito o motivo da negativa.
Durante a viagem, entretanto, o pai do Paulo, que já tinha recebido alta do CTI e estava em casa, volta para o CTI, muito grave. Resultado: o coitado passou três dias tentando vôo de volta pela LAN Chile; em vez de descansar, só mais stress! Minha secretária me diz que só de olhar para ele, estava até “branco”, parecia que nem comia, nem dormia, de tanto cansaço.
Próxima fase: solicitar ao Paulo Roberto o preenchimento de toda aquela papelada exigida pela secretaria de saúde do estado para requerimento de um medicamento, e levantamento de meus documentos. Mais alguns dias de espera, novo relatório, formulários em não sei quantas vias, procuração, reconhecimento de firma, essa coisa toda que vocês já sabem.
Tudo sabendo que iriam indeferir o pedido, já que o rituximab não fazia parte do rol de medicamentos de alto custo disponibilizados pela SES. Apesar de já saberem disso de antemão, para o indeferimento, pedem uma semana. Este sai na sexta à tarde.
Agora, para entrarmos na justiça, com mandado de segurança, seria levar toda a documentação para meus advogados na segunda. Não sei o que faltou, mas isso foi feito na terça, pelo meu pai. Aos advogados do setor jurídico da Asttter, os mesmos que conseguiram para mim todos os outros remédios de que necessitei.
Aí vem procuração para eu assinar. Coisa que fiz chegando de um exame de radiografia, pois estava tossindo muito e com um pouco de secreção. O resultado desta “saída” aventureira foram microfraturas nas vértebras, depois de permanecer pouco tempo sentada; já estava sem forças para manter a coluna ereta.
Daí, vem a dor, ambulância para o pronto atendimento, ortopedia, radiografia, retorno para casa, repouso absoluto, consulta com o especialista em coluna, meu colega de faculdade, o Léo, que fez o imenso favor de me atender em casa e dar todas as orientações possíveis e necessárias.
Porém, depois de uma leve melhora das dores, a fraqueza piorou e tive que começar a tomar banho de leito, pois realmente não conseguia me manter assentada, e vinha com alguns espasmos na musculatura das costas, o que acarretou mais dores e novo telefonema para o Paulo Roberto que, preocupado com a progressão da fraqueza, me pedia para ligar na manhã seguinte; se tivesse piorado, deveria me internar e tentaríamos o rituximab “na marra”, com o juiz de plantão, que sempre tem um no fórum, com relatório de piora progressiva, risco de vida, etc.
No dia seguinte, o Rogério prefere me internar, para tomar uma medicação mais forte para dor, a fim de monitorar a parte respiratória, que podia piorar como efeito colateral desses analgésicos opióides na miastenia (tipo durogesic, um adesivo de fentanil).
Dito e feito. De noite, com o tal adesivo, lá vem depressão respiratória. Bendito Rogério! Chama-se o plantão, tira-se o adesivo; dia seguinte, nova medicação oral. Dipirona, paracetamol, ibuprofeno, tramadol, tudo alternado, até melhorar a dor. E sair a resposta ao mandado de segurança: INDEFERIDO por um desembargador aí...
Ah, meu Deus, e agora?!
A fraqueza piorando, como eu ia voltar para casa assim, até a resposta ao novo mandado de segurança??? Desiste-se do prazo recursal e entra-se com outro processo. Para tanto, o tal desembargador, há que assinar...
Nesse meio tempo, descansa o pai do Paulo Roberto, depois de muito sofrimento, dele e de toda a família...
Enquanto isso, muitos amigos e parentes já se dispunham – e insistiam até – a fazer uma vaquinha para pagar a medicação; mas 32.000 reais???!!
Por fim, decidimos aceitar. Muitos tios, muitos amigos, a igreja se dispôs a ajudar, as meninas começaram a fazer campanha no Felício Rocho, para arrecadar qualquer pouquinho que fosse.
Olhem, independente do resultado, a tocante demonstração de amor e solidariedade, a disponibilidade de tanta gente querida a se desdobrar em afeto e ação valeram mais do que tudo na vida. Que emoção maravilhosa e milagrosa!! Os olhos se enchem de água, o coração de alegria e gratidão eternas. Que Deus os abençoe e lhes retribua em dobro!!
Tomaríamos portanto o rituximab, mesmo sem o deferimento na justiça. Isso foi na quarta. Chegou a noite, e não consegui falar com o Paulo Roberto; o Rogério foi lá, ficou sabendo da decisão, ligou para ele, mas também não conseguiu localizá-lo.
Quinta de manhã, ligo para ele lá pelas 10:00 ou 11:00, relato a decisão, e mais tarde, por volta das 18:00, chega ao apartamento argumentando que “não seria melhor voltar para casa, esperar o carnaval, mais uma semana, visto que já havia esperado tanto tempo, até que a justiça decidisse novamente?...”
Nada disso: “Pode fazer a prescrição”.
Ficou de vir no dia seguinte cedinho, para prescrever.
Sexta de manhã, e nada do Paulo; por fim, fiquei sabendo que ele já havia preenchido a prescrição, porém, no formulário errado – tinha que ser o da quimioterapia!!
Chega-me na tarde de sexta feira, transtornado, dizendo que eu morreria de raiva, mas que não havia a medicação no hospital!!!!! Teria que pedir para comprarem, mas com o carnaval, só na próxima sexta...
Só pude fazer: rir!! “Só pode estar brincando!!”
Enfim, tinha UM frasco reservado para outro paciente, da oncologia, mas ninguém sabia que dia ele ia tomar...
Procura-se o coordenador da farmácia do hospital – já tinha saído, para o carnaval. Liga-se para a diretora do Felício Rocho, muito amiga, e o anjo da minha vida; mas aparentemente, ela também já havia saído. O Jefferson, entretanto, seu secretário, estava lá, e mamãe liga pra ele, pede para localizar o Marconi, aquele coordenador. Uma telefonação, ninguém imagina!! Em vinte minutos, aconteceu de tudo!! Raiva, agitação, ansiedade, pressa, papai e mamãe buscando a Stella na escola, minha mãe sem o celular, só o do meu pai, e não sabia informar o número para o Jefferson, que afinal ia me ligar diretamente no quarto para dar um retorno.
Ninguém mais do que a própria Alda, diretora do HFR, me liga então, dizendo que já tinha resolvido tudo, que eu ficasse tranqüila, que no sábado tomaria o remédio pela manhã...
Enquanto isso, ligo para o Paulo, confirmando, e o telefone toca no quarto, era do jurídico da Asttter, procurando meu pai com urgência, que estavam com a liminar na mão, autorizando a medicação, e que ele deveria pegar lá até as 18:00, ou seja, daí a 10 minutos.
E o telefone fora de área, cai na caixa postal, dá ocupado, ligo pro da mamãe, o Maurício é que atende na casa dela, e ela no carro, com o papai e as meninas... Ah, meu Deus!!!
Por fim, consigo falar no tal celular, papai busca a liminar, leva à SES, que já está fechada!!!
Enfim, foi autorizado pelo juiz de plantão do fórum, que foi abordado pela estagiária do jurídico da Asttter, já dentro do elevador, com a pastinha debaixo do braço, saindo também para o carnaval.
Isso depois de serem avisadas, minha advogada e a estagiária, que ele costumava negar medicamentos, em geral... Mas decidiram tentar com ele mesmo, assim mesmo!... E assim foi: sei que nos relatórios constava que eu estava internada, um do Paulo Roberto, outro do Rogério, e sei lá se ele ficou com medo de eu piorar, e lá vinha uma semana de carnaval, voltou ao seu escritório e autorizou o danado do remédio!!
Com isso tudo, no sábado tomei a primeira dose, durante a qual estavam presentes o Paulo, a enfermeira chefe e a técnica da quimioterapia, todos de olho para alguma possível reação – o que, graças ao bom Deus, não ocorreu.
No dia seguinte, olha eu sentada na sala, durante mais de quatro horas, comemorando com todo mundo!!! Na segunda, voltei a tomar banho de chuveiro e tudo o mais.
Ontem tomei a segunda dose e recebi alta hoje. As duas, financiadas pela generosidade incalculável daqueles que amamos e que nos amam.
Para a próxima semana, esperamos contar já com os frascos da secretaria de saúde, que hão de sair até na terça feira, se tudo correr bem.
Bom, chega de novela, né?!
Para a sexta, estão programadas as duas doses de uma só vez, já que o hemograma está bom e não tive reações ao tal rituximab.
Que tudo corra bem, depois desta demonstração das mãos de Deus atuando de forma cronometrada e surpreendente em cada pequeno detalhe, e nos mostrando que o que vale na vida, acima de tudo, é o AMOR e nada mais – com todos os desdobramentos por que pode se traduzir.
E que a união realmente faz a FORÇA, literalmente!!
Paulinha.
20/02/10
Resiliência, Dom de Deus
"Senhor, muito obrigada pelo dia de hoje. Do que preciso, Tu sabes bem melhor do que eu... Mas tua graça me basta!"
Explico-me. Encontro-me numa situação de convivência com a doença há pouco mais de seis anos. Meu quadro atual, para evitar especulações, é o seguinte: tenho uma doença crônica que se chama miastenia gravis, que provoca uma grande fraqueza nos músculos, e às vezes chega a ser realmente grave.
Com o tratamento, desenvolvi uma baixa imunidade, com bastante facilidade para pegar infecções, o que às vezes acontece; desenvolvi também uma osteoporose intensa, com fraturas de várias vértebras da coluna, e a inversão das curvas desta última. Além do risco aumentado de fraturas, estou acamada, inclusive para o banho, e sinto dores, ora bastante fortes, ora nem tanto. Resumo, para terem uma idéia daquilo que quero dizer com tudo isto.
Quero dizer da minha GRATIDÃO a Deus, em todos os momentos, por tudo o que Ele tem trabalhado dentro de mim, por todo o apoio que tenho recebido dos familiares , da igreja, de TANTOS amigos, pelo carinho de minhas enfermeiras, verdadeiros anjos do Senhor...
Quero dizer da ALEGRIA com que vivo, e que só pode ser dom de Deus!
Quero dizer da minha ESPERANÇA em dias melhores e que tenho feito a minha parte do tratamento para isso; os médicos fazem a deles, as enfermeiras, a delas. Os juízes fazem a parte deles, na liberação ou não dos medicamentos que foram requisitados e negados em outra instância.
Cada um faz a sua, o Senhor faz a Dele...
Nunca temos que questionar os Seus caminhos. Da doença, faz parte o aprendizado da paciência e da aceitação. “Tudo posso naquele que me fortalece!!”
Outro dia, dizia ao Rev. Sandro que me sinto resignada. Quero melhorar, sim, peço isso, sim, mas estou plenamente adaptada às minhas limitações, feliz, criando minha filha do jeito que posso, mantendo a convivência social também do jeito que posso, e graças a Deus pela internet, neste ponto.
Ele ponderou comigo, então, que achava que eu era resiliente... A palavra resignada podia dar a impressão de uma falta de ação, por assim dizer.
Então fui pesquisar o que seria resiliência: é a capacidade do metal, parece, de se adaptar a altas “tensões”, tipo uma “elasticidade”- vamos colocar assim. Este conceito, inclusive, está sendo utilizado por empresas, para adaptação dos funcionários às pressões do dia a dia.
Acabei concordando com ele, neste sentido da adaptação: sim, sou uma adaptada que “se mexe”- se entendem o que quero dizer- uma resignada que faz a sua parte, feliz da vida...
Temos o compromisso com nossos atos e atitudes.
Mas o que quero enfatizar com isto é que a RESILIÊNCIA vem de Deus, é dom de Deus, assim como a alegria, a paciência, a aceitação, tudo produto do enorme AMOR que Ele nutre por nós e que nos ensina em cada circunstância da vida.
Se posso dar hoje este testemunho, então é somente para a Honra e Gloria deste Pai maravilhoso, e dou graças por isto!
Com muito amor aos queridos irmãos e também muitas saudades, me despeço, orando para que os verdadeiros dons do espírito reinem sempre em nossa amada igreja, com união, harmonia, respeito mútuo, profunda compreensão, apoio, amor e crescimento espiritual a cada dia, a cada novo aniversário!
Um grande abraço,
Paulinha Mendes
07/02/10
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