Quem é da minha geração, e
principalmente da geração de meus pais, provavelmente conheceu ou já ouviu
falar de Mani Catão.
Mani fora jornalista no Rio de
Janeiro, a arte corria em suas veias; veio parar em Belo Horizonte, aparentemente após uma separação.
Quando minha mãe a conheceu, ela já
arrumava noivas para a cerimônia. Maquiagem, arranjos e afins. Pessoa exótica. Muito. Sempre vestida com seu sari indiano. O arranjo em que colocasse as mãos modificava-se inteiramente, ganhava
vida, movimento. Maquiagens suaves, muito bem feitas. Sofria de asma e se
tratava com meu avô, João Frazão de Castro, que era clínico geral. Tornou-se amiga da
família. Foi ela quem maquiou, fez os arranjos de bouquet e outros detalhes
para minha irmã, quando se casou aos 21 anos de idade; de quebra, foi sua
madrinha de casamento. Foi ela quem maquiou e arrumou minha mãe e minhas tias
Débora e Maria Eunice para o dia do casório. O que poucos devem saber é que
ela e Carlos Drummond de Andrade eram amigos.
Pois bem.
Podia eu contar com
meus 19 ou 20 anos, acabara de ser aprovada para o curso de Medicina, no vestibular
da UFMG. Minha mãe e eu fomos ao Rio, passar uns dias para comemoração. Mani nos fez portadoras de um doce que o poeta muito apreciava - uma compota de bolinhas de queijo, provinda de Araxá. Com
endereço em punho, lá fomos nós, cumprir
a missão.
Como poderia deixar de levar um
livro dele, para que o autografasse? Comprado. Feito.
Acionamos o interfone, ao que fomos
atendidas por quem parecia ser a esposa do escritor, que muito secamente nos
informou que ele não se encontrava no momento e que poderíamos deixar a
encomenda com o porteiro. Este, gentil, educado, solícito, previu, pelos
hábitos do condômino, que provavelmente
voltaria de sua caminhada em cerca de 5 minutos. Felizmente, aguardamos no hall
do condomínio, ao que fomos recompensadas e agraciadas com a presença simples e mineira,
acolhedora, de Carlos Drummond de Andrade, em pessoa! Pele muito branquinha,
quase transparente, chegara de sua rápida caminhada vespertina, a fim de tomar um
pouquinho de sol e exercitar as pernas.
Entregue a encomenda, recados
dados, agradecimentos, recomendações. Perguntou-me o que eu fazia, ao que, do alto de meu nariz empinado, respondi: “sou estudante de Medicina!”. Sequer havia iniciado o curso. Fez-me uma dedicatória, autografou.
Pronto. Para sempre será
lembrado, como se já não o fosse. Alguém que já era imortal.
O livro se denomina “Os dias lindos”, e a
dedicatória, deixo a foto para saborearem.
Tão mineiro!
Como tanta criação e
sensibilidade poderiam caber dentro daquela figurinha mignon, simples, de fala mansa e
empática? Ali residia o mundo.
O presente foi de Mani para Drummond, entretanto, quem saiu mesmo no lucro fomos nós, reles mortais. Obrigada, Mani Catão!
“Somos... O resultado dos livros
que lemos, dos cafés que desfrutamos, das viagens que fazemos e das pessoas que
amamos.” (desconheço autoria).
José Raimundo, mais detalhes para
se somarem à sua crônica! Espero que goste!
Paula Mendes
14/06/2020
Acabei de me lembrar, pelo seu texto, que foi a Mani Catão quem desenhou meu vestido de 15 anos cuja festa não tenho nenhum registro porque o fotógrafo não apareceu.
ResponderExcluirCheguei a conhecê -la. Ela vestia roupas bem coloridas? Estou certa? Rejane
É isso mesmo. Ela era uma figura!
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