sábado, 20 de junho de 2020

Cuidados



Deparei-me com esta foto na internet.
Remete-me a tantas coisas, que não posso deixar de registrar.
Dizem que quando nasci, chorei durante dois anos seguidos. Tinha dores de ouvido, diarreia, constipação... O fato é que tiveram que se organizar, entre cinco, para fazerem rodízio a fim de cuidar de mim. Morávamos em um apartamento conjugado com o de meus avós paternos. Desse modo, dei muito trabalho a meus pais, meus avós e à tia Genita, irmã de meu avô, que se revezavam em uma cadeira de balanço a me embalar, na esperança do choro cessar.
Logo pela manhã, os vizinhos do prédio da rua Santa Rita Durão comentavam com minha mãe, para seu constrangimento:
- A neném chorou esta noite, hein?!
Nada a responder.
Era muito amor envolvido. Convivemos lado a lado com vovó Stella e vovô Arnaldo até meus seis anos de idade, quando nos mudamos para o Cruzeiro, bairro onde meus pais ainda residem.
Houve época em que eu pulava na cama de meus avós, entre os dois, às cinco da manhã; comprávamos balas e chocolates no armazém do Sr. Mozart, não sei se se escreve assim, na conta de meus avós. Nesta época, tinha um caderninho em que se anotavam as compras, para no fim do mês se acertarem. 
Comíamos pão sovado, que tinha a forma de um "B", e o chamávamos de "pão de Batmann". E, assim, tantas outras lembranças. Este amor se propagou por toda a vida, permeou minha adolescência, minha juventude, até que Stella nasceu, nome de minha avó, que carinhosamente a chamava de "xarazinha". Ainda hoje Stella usa um jogo de toalhas que vovó havia ganhado, com seu nome bordado, e presenteou minha filha com ele.
O amor dos avós costuma ser parte importantíssima e essencial na vida de muitos de nós. O casal era um exemplo de amor, minha avó era meu exemplo de vida.
Tudo isso me faz pensar na atualidade, em que as mães saem de casa para trabalhar e deixam os filhos com os avós, durante este período. Minha mãe optou por criar os filhos, retomando as aulas de inglês quando já estávamos "maiorzinhos", aos seus 39 anos. Muitas vezes, porém, as mães não têm como bancar uma babá e necessitam sair para trabalhar; outras, escolhem a confiança e os cuidados amorosos, ao invés dos cuidados de outrem. Stella mesmo permaneceu por dois anos na casa de D. Célia e Sr. Vicente, meus sogros, no período em que estive internada por mais tempo. Foi carinhosamente cuidada, amada. Eterna minha gratidão e amor por eles. Meus pais se desdobraram para cuidar de minha filha, igualmente. E de mim.
Com o advento do COVID-19, corre-se o risco dos netos serem portadores, sem perceber, do vírus a seus avós. Os idosos são grupo de risco. Que fazer?
Não se pode abraçar, não se pode beijar. Como evitar tudo isso diante de uma criança?
Há que se atentar e cuidar dos idosos.
Em outros países, como o Japão, os idosos são muito mais respeitados, considerados e ouvidos. Mais do que isso, são valorizados. Por aqui, no ocidente, costumam ser menosprezados, não se tem paciência para ouvi-los, para cuidar deles, e muitas vezes vão parar em casas de repouso desnecessariamente ou deixados sob a responsabilidade de cuidadores, com a falsa impressão de que se está fazendo sua parte.
Sem julgamentos. Há casos em que isso se faz necessário, por circunstâncias várias. Entretanto, falo dos casos em que isso não é preciso, em que se pode cuidar, amar, respeitar, ouvir, curtir a presença deste membro essencial da família.
Um dia, também seremos velhinhos.
Meus pais estão confinados em casa. Isolamento social total. Só saem para atendimento médico, tratamento de saúde. Há meses não os vejo, que saudade!!! Conversar todos os dias não é o bastante; no entanto, é o que temos para hoje.
O amor implícito naquela foto tudo fala. Que seja recíproco, sempre!
"A vida é feita de ciclos, portanto, viva todos, sabendo que nenhum deles é definitivo." (Desconheço autoria).
Cada fase tem sua magia.
Cuidemos de nós mesmos, em primeiro lugar, para assim podermos cuidar dos outros; cuidemos de nossos filhos, cuidando por tabela dos avós. Cuidemos de nossos pais. Cuidemos de nosso país.
Fique em casa! Muita calma nessa hora!

Paula Mendes
20/06/2020















8 comentários:

  1. Que lindo Paula!!! Obrigada por compartilhar conosco está história de vida ... de amor!!!👏👏👏

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  2. Que lindo querida. Como sempre seus textos são imperdíveis. Acho que vc deveria escrever um livro sobre sua família. É sério. Não estou brincando. Mesmo antes de nós duas nos aproximarmos mais, eu já conhecia suas estripulias.
    Eu seria a primeira a comprá- lo.
    Emocionante a história dos seus avós e de uma família mto feliz.
    Rejane

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  3. Boa tarde. Agora em meu horário de descanso frente ao enfrentamento ao COVID-19 m acalento com seus textos. Na vida é preciso desacelerar e aproveitar o momento. Reavivar a lembranças e suas palavras caem bem como sempre. 👏👏👏🌹

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