quinta-feira, 1 de julho de 2021

Globalização

 



As notícias, como em uma espiral, se repetem, mas sempre avançam um pouco mais; quero saber delas a todo momento. Quero e não quero, canso-me delas. Vivo num mundo globalizado em que somos notificados sobre tudo o que acontece nele, digo, no planeta Terra, e fora dele, quase no exato instante do fato em si. Custa-me acompanhar; por outro lado, há um desejo irrealizável de fazê-lo, ao mesmo tempo.

Tenho uma lista de livros para ler; não que precise, é que eu desejo. A lista, no entanto, cresce a cada dia e as páginas iniciais vão ficando à espera; dou-me a falsa impressão de estar progredindo quando começo a ler cinco ou seis livros ao mesmo tempo, depois disso o tempo não se faz suficiente. Quero ler Grande Sertão Veredas, como não li até hoje? Quero ler Mário Quintana, Fernando Pessoa. É meu desejo, também, chegar ao O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de Saramago. Há ainda Sri Prem Baba, há meu curso de Ascensão e Cura, há Clarice Lispector, há...

Faço, além disso, um curso na faculdade. Algo que me traz prazer, amo estudar, e ao mesmo tempo me toma grande parte do tempo do cotidiano; há provas e prazos, trabalhos. Por vezes acumulam-se ao se misturarem com os imprevistos que a vida nos apresenta, atropelo-me.

No curso de inglês, me inscrevi; já se passaram três ou quatro semanas e, com o acúmulo de atividades, não consegui passar da leitura dos slides da primeira aula. Perco-me. Voltar ao inglês é meu sonho.

Há ainda os cuidados da casa; da filha; há o tratamento dentário.

Há as horas em que durmo, excessivas; há os seriados na TV, que não quero deixar de seguir madrugada afora.

Há as pessoas com quem quero conversar, muitas, há as contas a pagar, assuntos a resolver dentro e fora de casa.

Na vida há que se ter prioridades, não há outro jeito... Deixar isto ou aquilo de lado. Não há como se ter tudo. Quando escolho um namorado, 'perco' todos os outros.  Entretanto, não posso namorar todos ao mesmo tempo. Pássaro na mão. Toda escolha traz uma perda.

Gostaria de me atualizar sobre certos temas em Medicina, profissão em que nem mesmo atuo, escolhi deixar de lado. A despeito disso, interessa-me. O que há de novo na Psiquiatria? Na Medicina alternativa?

Quero cinco minutos de meditação, três vezes ao dia.

Que será mais importante? Que deixarei de lado? O que é que é necessário, mesmo que não queira fazê-lo?

A vida é feita de escolhas. Tomamos decisões a todo momento, inclusive a decisão de não tomar decisões. O tempo corre, às vezes para. Mas a vida é curta para coisa tanta. Pra quê tanta correria, pra quê tanto estresse? Para acompanhar o mundo globalizado?

Se pudesse, faria todos os cursos de extensão que a faculdade me oferece. Abraçaria o mundo.

Deixa eu me acalmar, respirar e pensar. O que é que é mais importante?

Sem dúvida, a paz comigo mesma; a minha espiritualidade. O meu crescimento como pessoa. A minha solidariedade.

Sem dúvida, as relações, os afetos. Minha família. Sem sombra de dúvida.

Minha saúde mental; a saúde do corpo. Boas noites de sono, uma boa alimentação. A auto-aceitação, o amor próprio e o amor ao próximo. O amor ao planeta e a tudo o que vive.

O conhecimento, sim; é importante. Mas não vou dar conta de todo o conhecimento que o mundo oferece. Tenho que escolher, priorizar. Por onde vou, sem me estressar, e seguindo a linha que desejo?

Muita calma nessa hora.

Existe, ainda, a hora do ócio. É importante. Parece que não fazer nada é uma perda de tempo, pois o resto do mundo está sempre fazendo, fazendo, fazendo... ah! Pra quê tanta pressa? A vida corre, sim, mas tenho que sorvê-la aos poucos, aproveitar cada minuto, estar inteira naquilo que faço ou em que me envolvo. Há que se curtir cada passo. Do contrário, teremos corrido, teremos feito, refeito, nos perdido na falta de sentido.

Há que se ser genuíno, encontrar a essência, olhar para dentro; depois para fora, digo, para o outro. Para o mundo, para o planeta, com um olhar solidário. Estamos adoecidos. A cura está a um passo. Basta escolher. Para tanto, há que se olhar para si mesmo, escutar aquela voz que a globalização, de tão alta, abafou. Ela, a voz,  está bem aqui.

Calo-me. Silêncio!

 

Paula Mendes

01/07/2021

4 comentários:

  1. O que seria ócio mesmo? Meditação é de comer ou de beber? O "trem" globalizou demais... Sem tempo até para dar um tempo. Ótimas reflexões, como sempre. Bjos.

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