As notícias, como em uma espiral, se repetem, mas sempre
avançam um pouco mais; quero saber delas a todo momento. Quero e não quero,
canso-me delas. Vivo num mundo globalizado em que somos notificados sobre tudo
o que acontece nele, digo, no planeta Terra, e fora dele, quase no exato
instante do fato em si. Custa-me acompanhar; por outro lado, há um desejo
irrealizável de fazê-lo, ao mesmo tempo.
Tenho uma lista de livros para ler; não que precise, é que eu
desejo. A lista, no entanto, cresce a cada dia e as páginas iniciais vão ficando
à espera; dou-me a falsa impressão de estar progredindo quando começo a ler cinco
ou seis livros ao mesmo tempo, depois disso o tempo não se faz suficiente.
Quero ler Grande Sertão Veredas, como não li até hoje? Quero ler Mário
Quintana, Fernando Pessoa. É meu desejo, também, chegar ao O Evangelho
Segundo Jesus Cristo, de Saramago. Há ainda Sri Prem Baba, há meu curso de
Ascensão e Cura, há Clarice Lispector, há...
Faço, além disso, um curso na faculdade. Algo que me traz
prazer, amo estudar, e ao mesmo tempo me toma grande parte do tempo do cotidiano;
há provas e prazos, trabalhos. Por vezes acumulam-se ao se misturarem com os imprevistos
que a vida nos apresenta, atropelo-me.
No curso de inglês, me inscrevi; já se passaram três ou
quatro semanas e, com o acúmulo de atividades, não consegui passar da leitura
dos slides da primeira aula. Perco-me. Voltar ao inglês é meu sonho.
Há ainda os cuidados da casa; da filha; há o tratamento
dentário.
Há as horas em que durmo, excessivas; há os seriados na TV,
que não quero deixar de seguir madrugada afora.
Há as pessoas com quem quero conversar, muitas, há as contas
a pagar, assuntos a resolver dentro e fora de casa.
Na vida há que se ter prioridades, não há outro jeito...
Deixar isto ou aquilo de lado. Não há como se ter tudo. Quando escolho um namorado, 'perco' todos os outros. Entretanto, não posso namorar todos ao mesmo tempo. Pássaro na mão. Toda escolha traz uma perda.
Gostaria de me atualizar sobre certos temas em Medicina,
profissão em que nem mesmo atuo, escolhi deixar de lado. A despeito disso, interessa-me. O que há
de novo na Psiquiatria? Na Medicina alternativa?
Quero cinco minutos de meditação, três vezes ao dia.
Que será mais importante? Que deixarei de lado? O que é que é
necessário, mesmo que não queira fazê-lo?
A vida é feita de escolhas. Tomamos decisões a todo momento,
inclusive a decisão de não tomar decisões. O tempo corre, às vezes para. Mas a
vida é curta para coisa tanta. Pra quê tanta correria, pra quê tanto estresse?
Para acompanhar o mundo globalizado?
Se pudesse, faria todos os cursos de extensão que a faculdade
me oferece. Abraçaria o mundo.
Deixa eu me acalmar, respirar e pensar. O que é que é mais importante?
Sem dúvida, a paz comigo mesma; a minha espiritualidade. O
meu crescimento como pessoa. A minha solidariedade.
Sem dúvida, as relações, os afetos. Minha família. Sem sombra
de dúvida.
Minha saúde mental; a saúde do corpo. Boas noites de sono, uma
boa alimentação. A auto-aceitação, o amor próprio e o amor ao próximo. O amor
ao planeta e a tudo o que vive.
O conhecimento, sim; é importante. Mas não vou dar conta de
todo o conhecimento que o mundo oferece. Tenho que escolher, priorizar. Por
onde vou, sem me estressar, e seguindo a linha que desejo?
Muita calma nessa hora.
Existe, ainda, a hora do ócio. É importante. Parece que não
fazer nada é uma perda de tempo, pois o resto do mundo está sempre fazendo,
fazendo, fazendo... ah! Pra quê tanta pressa? A vida corre, sim, mas tenho que
sorvê-la aos poucos, aproveitar cada minuto, estar inteira naquilo que faço ou em que me envolvo. Há que se curtir cada passo. Do contrário, teremos
corrido, teremos feito, refeito, nos perdido na falta de sentido.
Há que se ser genuíno, encontrar a essência, olhar para
dentro; depois para fora, digo, para o outro. Para o mundo, para o planeta, com
um olhar solidário. Estamos adoecidos. A cura está a um passo. Basta escolher. Para tanto, há que se olhar para si mesmo, escutar aquela voz que a
globalização, de tão alta, abafou. Ela, a voz, está bem aqui.
Calo-me. Silêncio!
Paula Mendes
01/07/2021
O que seria ócio mesmo? Meditação é de comer ou de beber? O "trem" globalizou demais... Sem tempo até para dar um tempo. Ótimas reflexões, como sempre. Bjos.
ResponderExcluirKkkkk pra vc, que não pára um minuto!!
Excluir👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirNão sei quem foi, mas obrigada!! Kkk
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