Uma das acepções do dicionário sobre a palavra, me diz:
CLÍNICA MÉDICA
meio e modo de se examinar um doente, esp. de se verificarem os sinais e
sintomas; propedêutica, semiótica, sintomatologia.
Pode ser saudosismo.
Antigamente, havia os médicos de família, que atendiam em
casa, aplicavam injeções, faziam toda a anamnese e o exame físico e até mental
do paciente, para estabelecer uma hipótese diagnóstica e começar um tratamento
adequado. Não havia essas tecnologias de hoje, exames de imagens e muitos dos
exames de sangue etc. Era necessário fazer um bom exame, colher uma boa história,
tudo muito bem detalhado.
Há uma técnica por detrás disso tudo. Examina-se as mucosas,
as ‘canelas’ do paciente, a pele, a musculatura, a vascularização dos dedos, as bulhas cardíacas, faz-se a
ausculta pulmonar, não sem antes se observar a expansibilidade torácica durante
a respiração, o frêmito tóraco-vocal, aquele em que o paciente diz “33”.
Examina-se o abdome, palpa-se o fígado, o baço, as alças intestinais, a pelve,
a região dos rins... Há que saber interpretar a percussão do abdome...Há igualmente uma técnica para se colher a história,
sabendo direcioná-la, conforme a necessidade, para um sistema ou outro.
Valorizar alguns sintomas, outros, nem tanto. Valorizar algumas falas, interpretá-las a busca de algum sintoma mental: ansiedade, depressão, delírios etc. Tudo, agora conjugado, fará um
sentido no final.
Era preciso ter o conhecimento geral de todos os sistemas
fisiológicos do corpo humano, e a correlação entre um e outro. Tinha-se também
um feeling, muito mais do que se tem hoje.
Meu avô foi um desses médicos. O número do seu CRM, em Minas
Gerais, era 11. Minha mãe aplicava injeções em vários de seus pacientes, que às
vezes, muitas vezes, pagavam com galinhas e outros tipos de animais e tudo o mais
que se pode imaginar. Sim, você me dirá, era uma outra época...
Hoje, de alguma forma, tenta-se resgatar aquilo tudo, com a
especialidade do Médico de Família.
Com a tecnologia, as pesquisas, o conhecimento, tornou-se
impossível saber de tudo. Com isso, aumentou o número de especializações e
dividiu-se o homem em pedaços. Há especialistas em cirurgia do lóbulo da orelha
direita.
Exageros à parte, há atualmente uma profusão de exames
disponíveis, não só de imagens e de sangue, como outros tantos. Há uma
corrida contra o tempo, pois há muitos pacientes para poucas horas de trabalho,
digo, menos que o necessário – pois trabalha-se muito. Cobra-se produtividade,
como se o homem fosse relegado a um produto, uma mercadoria...
Nesse ínterim, a meu ver, foi que a semiologia se perdeu em
meio a tudo; ao invés de examinar detalhadamente meu paciente, peço os
mais variados exames, colho a história meio que pela metade e ainda poderei me
perder dentre todas as possibilidades de medicações e marcas, laboratórios que
fazem sua propaganda me oferecendo amostras, seminários, viagens e outras
coisas mais.
Diante de todo este contexto, a medicina alternativa e
holística cresce, pois que volta seu olhar para o ‘todo’ do homem, inclusive o
mental e o espiritual, a energia vital e tudo o mais. Já se reconhece as
especialidades de acupuntura, homeopatia e outras. Seguem uma outra lógica.
Pecam, a meu ver, também pela falta de um exame físico bem realizado como
citado no início do texto e também pela falta de conhecimento clínico, o que
pode ter o potencial de não se diagnosticar doenças que poderiam ter sido
diagnosticadas em outras circunstâncias.
Não seria o caso de se reinventar a medicina atual? Um lado
complementando o outro, mas o fundamental, o básico, a semiologia médica, não
pode ser esquecido de forma alguma. Há que se dar um passo atrás. Olhar para a
história, para o passado e para o futuro simultaneamente, há que se olhar para
o homem, que nunca é só uma orelha, um corpo, um pedaço de carne, nem somente
um espirito e uma mente.
Bem faz a minha cunhada, a Flavinha, que de certa forma
deixou a clínica de lado em prol da educação dos novos médicos, lecionando o
que hoje se chama Habilidades e Atitudes Médicas, antes, Semiologia Médica...
tenho a certeza de que não é à toa que ela é sempre homenageada pelas diversas
turmas que passam por ela.
Já não clinico há vários anos, não sou mais uma médica, no
entanto, guardo ainda comigo o livro de Semiologia Médica, como uma relíquia.
Não me esqueço dos dias de estágio na Santa Casa, em que meu professor nos
mandava fazer a anamnese de 5 pacientes por dia, aleatórios, e o exame físico.
Foi assim que aprendi semiologia. Já quase desconheço esta arte – porque é uma
arte!
Nada como um profissional que olhe por nós como um todo, e
valoriza os detalhes e as técnicas aperfeiçoadas durante tantos anos! Quem não
quer ser atendido por um profissional assim?
Pois que a semiologia volte a ser valorizada como deve, e
então os pedidos de exames até diminuirão e o raciocínio clínico poderá ser
feito de uma forma realmente completa.
É o que penso, em não sendo mais médica.
Que os novos profissionais sejam educados de uma maneira
inovadora e completa, nunca se esquecendo do lado humano da profissão, que
deve, imprescindivelmente, ser posta em prática com amor, acima de tudo.
Continuo achando que a Medicina é um sacerdócio.
Muito sucesso, Flavinha, que você se realize nesta
empreitada!
Paula Mendes
01/07/2021
Parabéns Flavinha e Minha 🌹 que texto lindo❤
ResponderExcluirObrigada, querida!!
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