Estudo.
As disciplinas se impõem
no tempo. O texto, quase que um intruso em meus pensamentos, se sobrepõe há mais de um
dia. Entretanto, ele sai de minhas entranhas. Insinua-se, inarredável. Sedução.
Silêncio, a não ser pelo tiquetaquear
dos relógios da parede da sala. Compõem toda ela, a parede; ideia de minha filha.
Cada um, em seu próprio ritmo, marca um horário diverso. Paradoxo. Os relógios
não deveriam seguir o mesmo ritmo, apontar para uma hora convergente? Mas não. Seguem
a seu bel prazer.
Enquanto isso, o tempo; ah, o tempo!
Ontem foi réveillon, amanhã já é Natal. Estranhamento. O tempo corre
desmedido, imperceptivelmente. Seria a globalização? O eixo da Terra? Os
afazeres que se acumulam? Já não sei que dia é. Se já passou uma semana, ou
mais.
Nos EUA, time flies; aqui,
o tempo corre, ou voa, igualmente; além disso, ele pode andar e até parar; aqui o tempo escorre. Na China, Índia, Japão, Polônia, no Zimbábue, o que será que o tempo
faz? O que se faz com o tempo por lá?
E o texto sussurra: “Escreve!”
Ouço meus pensamentos,
silenciosos. O que querem dizer? Nada. Apenas o momento. Apenas o tempo.
Isolamento. Há uma pandemia lá
fora. Que fez o homem?
Hoje Israel bombardeou mais uma
vez a faixa de Gaza. Há pessoas, muitas, morrendo de fome; crianças
desassistidas e desnutridas. Violência. Ganância. O ambiente natural, já se
foi. Vai-se viver de quê, depois de hoje? A TV me pede ajuda humanitária.
Sim, há ajuda, felizmente. Há
solidariedade. Há consciência da necessidade da mudança, da necessidade alheia. Há mangas arregaçadas,
em contraposição à inércia preponderante. Vibrações de amor.
Há o trabalho precário, a falta
de trabalho, mas há o trabalho solidário. Tudo se justapõe. Se contrapõe.
Ouço o som de meus dedos teclando, silenciosos. Os dedos se impõem sobre as teclas que, sozinhas, não escrevem nada.
Invoco a Divina Presença, várias vezes; e outras tantas, me
esqueço de invocá-la. Somos livres dentro dela. Porém, Deus não se impõe. Deus É.
Somos prisioneiros do tempo, e do
espaço. No entanto, há o espaço sideral, há o universo, o infinito, há Deus. O homem se
esqueceu?
Podemos tudo. Livre arbítrio.
Curiosamente, só podemos tudo diante da presença divina. Enganamo-nos, repetidas
vezes. Quero mais que você; tenho mais direito, sou melhor na hierarquia...
Há uma hierarquia de anjos,
arcanjos, querubins e serafins, que desconheço (não essa nossa hierarquia perversa). Ouço o sussurro de um anjo,
silencioso; aquele que me guarda.
Sim, tenho dois lados, ou mais.
Prefiro, melhor, escolho, ouvir o meu melhor. A vida é feita de escolhas, assim
se diz. Sou vítima, sou ator/autor da história? O que tenho vivido? Somos co-autores.
Escolho, na correria do tempo, não ouvir meu sentimento. O que há de maior em mim. Não tenho vinte minutos para ouvir meu próprio silêncio; e ali mora Deus. Não, o relógio vai bater nove horas e tenho que estudar.
Como somos divididos!
Como chegamos a este ponto? Como
evoluir genuinamente? Sem fome, sem guerras, sem degradação do meio? Como
gritar, sem o fazer, que o amor é a única solução para o mundo? Pergunto, como
se eu mesma não tivesse deixado de amar, por tantas vezes... Mas sei que podemos.
Sonho com isto. Aqui, no meu
silêncio. Aqui, neste texto que se esvai. No meu âmago.
O mundo tem solução. Nós rugimos para o tempo, e o tempo ruge de volta.
O tempo urge.
Paula Mendes
15/06/21
Que legal Paulinha. Qualquer hora vou aterrar (como dizem meus patrícios) meu tempo na sua janela para um cafezinho e um dedo de prosa. Bjs
ResponderExcluirObaaaaa!! Tô esperando!!
ExcluirAh o tempo... qto tempo temos? O tempo todo.
ResponderExcluirIsso!!
ResponderExcluirO tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem o tempo que o tempo tem.
ResponderExcluirConheço alguém que gosta de trava-linguas!!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir