terça-feira, 15 de junho de 2021

O tempo, o silêncio e Deus no meio das coisas

 



Estudo. 

As disciplinas se impõem no tempo. O texto, quase que um intruso em meus pensamentos, se sobrepõe há mais de um dia. Entretanto, ele sai de minhas entranhas. Insinua-se, inarredável. Sedução.

Silêncio, a não ser pelo tiquetaquear dos relógios da parede da sala. Compõem toda ela, a parede; ideia de minha filha. Cada um, em seu próprio ritmo, marca um horário diverso. Paradoxo. Os relógios não deveriam seguir o mesmo ritmo, apontar para uma hora convergente? Mas não. Seguem a seu bel prazer.

Enquanto isso, o tempo; ah, o tempo! 

Ontem foi réveillon, amanhã já é Natal. Estranhamento. O tempo corre desmedido, imperceptivelmente. Seria a globalização? O eixo da Terra? Os afazeres que se acumulam? Já não sei que dia é. Se já passou uma semana, ou mais.

Nos EUA, time flies; aqui, o tempo corre, ou voa, igualmente; além disso, ele pode andar e até parar; aqui o tempo escorre. Na China, Índia, Japão, Polônia, no Zimbábue, o que será que o tempo faz? O que se faz com o tempo por lá?

E o texto sussurra: “Escreve!”

Ouço meus pensamentos, silenciosos. O que querem dizer? Nada. Apenas o momento. Apenas o tempo.

Isolamento. Há uma pandemia lá fora. Que fez o homem?

Hoje Israel bombardeou mais uma vez a faixa de Gaza. Há pessoas, muitas, morrendo de fome; crianças desassistidas e desnutridas. Violência. Ganância. O ambiente natural, já se foi. Vai-se viver de quê, depois de hoje? A TV me pede ajuda humanitária.

Sim, há ajuda, felizmente. Há solidariedade. Há consciência da necessidade da mudança, da necessidade alheia. Há mangas arregaçadas, em contraposição à inércia preponderante. Vibrações de amor.

Há o trabalho precário, a falta de trabalho, mas há o trabalho solidário. Tudo se justapõe. Se contrapõe.

Ouço o som de meus dedos teclando, silenciosos. Os dedos se impõem sobre as teclas que, sozinhas, não escrevem nada.

Invoco a Divina Presença, várias vezes; e outras tantas, me esqueço de invocá-la. Somos livres dentro dela. Porém, Deus não se impõe. Deus É.

Somos prisioneiros do tempo, e do espaço. No entanto, há o espaço sideral, há o universo, o infinito, há Deus. O homem se esqueceu?

Podemos tudo. Livre arbítrio. Curiosamente, só podemos tudo diante da presença divina. Enganamo-nos, repetidas vezes. Quero mais que você; tenho mais direito, sou melhor na hierarquia...

Há uma hierarquia de anjos, arcanjos, querubins e serafins, que desconheço (não essa nossa hierarquia perversa). Ouço o sussurro de um anjo, silencioso; aquele que me guarda.

Sim, tenho dois lados, ou mais. Prefiro, melhor, escolho, ouvir o meu melhor. A vida é feita de escolhas, assim se diz. Sou vítima, sou ator/autor da história? O que tenho vivido? Somos co-autores.

Escolho, na correria do tempo, não ouvir meu sentimento. O que há de maior em mim. Não tenho vinte minutos para ouvir meu próprio silêncio; e ali mora Deus. Não, o relógio vai bater nove horas e tenho que estudar. 

Como somos divididos!

Como chegamos a este ponto? Como evoluir genuinamente? Sem fome, sem guerras, sem degradação do meio? Como gritar, sem o fazer, que o amor é a única solução para o mundo? Pergunto, como se eu mesma não tivesse deixado de amar, por tantas vezes... Mas sei que podemos.

Sonho com isto. Aqui, no meu silêncio. Aqui, neste texto que se esvai. No meu âmago.

O mundo tem solução. Nós rugimos para o tempo, e o tempo ruge de volta.

O tempo urge.

 

Paula Mendes

15/06/21

7 comentários:

  1. Que legal Paulinha. Qualquer hora vou aterrar (como dizem meus patrícios) meu tempo na sua janela para um cafezinho e um dedo de prosa. Bjs

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  2. Ah o tempo... qto tempo temos? O tempo todo.

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  3. O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem o tempo que o tempo tem.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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