quarta-feira, 30 de junho de 2021

À minha tia, Verinha

 


 

O que escrever neste dia de hoje? Parece que não há nada a dizer. Mas há, com toda a certeza...

Dia triste para nós, mas, como disse a Patrícia, o céu está em festa. E sabemos que Deus sabe de todas as coisas. Entregamos a vida da Verinha em Suas mãos e Seus braços misericordiosos.

E como diz a Maria Cristina, só temos a agradecer pela sua vida e pela oportunidade que tivemos de conviver com ela.

Os outros primos que me perdoem, mas Paula Grande é minha prima do coração. Mas sei que eles, os primos, sabem do meu amor por eles também, e que hão de me perdoar. Isso porque tivemos o privilégio de conviver muito, desde quando morávamos no mesmo prédio, o prédio da vovó Stella e do vovô Arnaldo. Arnaldo, Verinha e sua família, Nena, Paulo e sua família, e meus avós paternos – época de que trago muitas lembranças! E sua mãe, Paula, parte no dia em que comemoramos o seu nascimento e a sua vida.

Hoje honramos também a vida dela.

Muitos irmãos de meu pai residiram também naquele apartamento conjugado com o de meus avós.

Minha mãe e a Verinha conviveram muito e ficaram amigas. As duas foram inclusive colegas no Instituto de Educação, coisa que minha mãe não lembra, mas Vera, sim, se lembrava. Mamãe fazia festinhas de aniversário para nós, e sempre contava com a ajuda dela, descia para o primeiro andar e ajudava a fazer sanduíches e outros quitutes. Era sempre muito disponível, alegre.

Aliás, essa era uma de suas virtudes, a alegria, além da bondade e disponibilidade.

Sempre foi muito despachada, decidida, falava o que pensava, não ficava com nada ‘atravessado’. Era uma pessoa intensa. Nas festas da família, provocava a todos com suas brincadeiras e sua alegria.

Certa vez ficou comigo no hospital, na época em que eu estava mais grave, e resolveu me colocar no sol. Para isso, moveu a cama até a janela. Neste dia eu não estava nada bem, acabei dando trabalho para ela, tivemos que chamar um médico etc.

Verinha sempre me telefonava, não só nos aniversários, sentia que ela gostava de mim, e a recíproca é certamente verdadeira. Fazia cachecóis para nós e as meninas, Stella e Diana; fazia lindas caixas para elas guardarem maquiagem ou o que quisessem.

Tinha uma veia artística inquestionável. Aprendia técnica, com o que fez um oratório para cada uma das famílias; lindos!! Sua casa era cheia de quadros e ornamentos. Além disso, cozinhava muito bem, fazia um fios de ovos como ninguém! Mas foi trocando a cozinha por outro tipo de arte.

Gostava também de muitos brincos e anéis, de se enfeitar.

Verinha vai deixar muita saudade, uma saudade que no começo, agora, dói, dói, dói; mas com o passar do tempo, sei que se tornará uma saudade gostosa, com muitos casos pra contar. Sua vida se perpetua nas filhas, nos netos, na sua arte.

Esperamos que os corações de sua família, Olguinha e filhos, Arnaldo, por cujo restabelecimento oramos, Paula e Paulinho, Gabriel, Ruth e Patrícia, sejam confortados, assim como os nossos próprios. Nossa fé nos sustenta e nos dá a certeza de que agora ela está na casa do Pai, em companhia de D. Vera e os demais familiares que já se foram.

Sim, hoje tem mesmo uma festa no céu, Patrícia!

Vá em paz, querida tia!!

Paula Mendes, a ‘Paulinha’, Paula Pequena, como ela me chamava.

30/06/2021

terça-feira, 29 de junho de 2021

Muito pertinente, Thiago de Melo

 



Para os que virão

"Como sei pouco, e sou pouco,

faço o pouco que me cabe

me dando inteiro.

Sabendo que não vou ver

o homem que quero ser

Já sofri o suficiente

para não enganar a ninguém:

Principalmente aos que sofrem

na próxima vida, a garra

da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido

no meu bolso de palavras.

Sou simplesmente um homem

para quem já a primeira

e desolada pessoa

do singular – foi deixando,

devagar, sofridamente

de ser, para transformar-se

- muito mais sofridamente -

na primeira e profunda pessoa

do plural.

Não importa que doa: É tempo

de avançar de mão dada

com quem vai no mesmo rumo,

mesmo que longe ainda esteja

de aprender a conjugar

o verbo amar.

É tempo sobretudo

de deixar de ser apenas

a solitária vanguarda

de nós mesmos.

Se trata de ir ao encontro.

(Dura no peito, arde a límpida

verdade dos nossos erros.)

Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,

e saber serão, lutando."


Thiago de Mello

quarta-feira, 23 de junho de 2021

O espírito de gentileza podia salvar o mundo. O que nos falta é isso: espírito de gentileza. Boas maneiras de homem para homem, de povo para povo.

Érico Veríssimo

Amor, luz e felicidade




"Quando vemos o resplendor da felicidade no rosto de um ser que amamos, 
sabemos que não pode haver outra vocação para um homem que não seja a de suscitar essa luz nos rostos que o rodeiam". 

Rubem Alves

terça-feira, 22 de junho de 2021

Orações e poemas




"Gosto de ler orações. 
Orações e poemas são a mesma coisa: palavras que se pronunciam a partir do silêncio, pedindo que o silêncio nos fale. 
A se acreditar em Ricardo Reis, é no silêncio que existe no intervalo das palavras que se ouve a voz de “um Ser qualquer, alheio a nós“, que nos fala. 
O nome do Ser? Não importa. Todos os nomes são metáforas para o Grande Mistério inominável que nos envolve. 
Gosto de ler orações porque elas dizem as palavras que eu gostaria de ter dito mas não consegui. As orações põem música no meu silêncio."

Rubem Alves 

Construções




Construa-se. Desconstrua-se..
Só você tem a capacidade de modificar-se se preciso...
Faça da sua casa seu altar sagrado. 
Descubra-se dando oportunidades a si mesmo. 
Continue sonhando e acreditando..
É daí que as realizações mais bonitas virão. 
E tudo se torna possível.
____Sil Guidorizzi

terça-feira, 15 de junho de 2021

O tempo, o silêncio e Deus no meio das coisas

 



Estudo. 

As disciplinas se impõem no tempo. O texto, quase que um intruso em meus pensamentos, se sobrepõe há mais de um dia. Entretanto, ele sai de minhas entranhas. Insinua-se, inarredável. Sedução.

Silêncio, a não ser pelo tiquetaquear dos relógios da parede da sala. Compõem toda ela, a parede; ideia de minha filha. Cada um, em seu próprio ritmo, marca um horário diverso. Paradoxo. Os relógios não deveriam seguir o mesmo ritmo, apontar para uma hora convergente? Mas não. Seguem a seu bel prazer.

Enquanto isso, o tempo; ah, o tempo! 

Ontem foi réveillon, amanhã já é Natal. Estranhamento. O tempo corre desmedido, imperceptivelmente. Seria a globalização? O eixo da Terra? Os afazeres que se acumulam? Já não sei que dia é. Se já passou uma semana, ou mais.

Nos EUA, time flies; aqui, o tempo corre, ou voa, igualmente; além disso, ele pode andar e até parar; aqui o tempo escorre. Na China, Índia, Japão, Polônia, no Zimbábue, o que será que o tempo faz? O que se faz com o tempo por lá?

E o texto sussurra: “Escreve!”

Ouço meus pensamentos, silenciosos. O que querem dizer? Nada. Apenas o momento. Apenas o tempo.

Isolamento. Há uma pandemia lá fora. Que fez o homem?

Hoje Israel bombardeou mais uma vez a faixa de Gaza. Há pessoas, muitas, morrendo de fome; crianças desassistidas e desnutridas. Violência. Ganância. O ambiente natural, já se foi. Vai-se viver de quê, depois de hoje? A TV me pede ajuda humanitária.

Sim, há ajuda, felizmente. Há solidariedade. Há consciência da necessidade da mudança, da necessidade alheia. Há mangas arregaçadas, em contraposição à inércia preponderante. Vibrações de amor.

Há o trabalho precário, a falta de trabalho, mas há o trabalho solidário. Tudo se justapõe. Se contrapõe.

Ouço o som de meus dedos teclando, silenciosos. Os dedos se impõem sobre as teclas que, sozinhas, não escrevem nada.

Invoco a Divina Presença, várias vezes; e outras tantas, me esqueço de invocá-la. Somos livres dentro dela. Porém, Deus não se impõe. Deus É.

Somos prisioneiros do tempo, e do espaço. No entanto, há o espaço sideral, há o universo, o infinito, há Deus. O homem se esqueceu?

Podemos tudo. Livre arbítrio. Curiosamente, só podemos tudo diante da presença divina. Enganamo-nos, repetidas vezes. Quero mais que você; tenho mais direito, sou melhor na hierarquia...

Há uma hierarquia de anjos, arcanjos, querubins e serafins, que desconheço (não essa nossa hierarquia perversa). Ouço o sussurro de um anjo, silencioso; aquele que me guarda.

Sim, tenho dois lados, ou mais. Prefiro, melhor, escolho, ouvir o meu melhor. A vida é feita de escolhas, assim se diz. Sou vítima, sou ator/autor da história? O que tenho vivido? Somos co-autores.

Escolho, na correria do tempo, não ouvir meu sentimento. O que há de maior em mim. Não tenho vinte minutos para ouvir meu próprio silêncio; e ali mora Deus. Não, o relógio vai bater nove horas e tenho que estudar. 

Como somos divididos!

Como chegamos a este ponto? Como evoluir genuinamente? Sem fome, sem guerras, sem degradação do meio? Como gritar, sem o fazer, que o amor é a única solução para o mundo? Pergunto, como se eu mesma não tivesse deixado de amar, por tantas vezes... Mas sei que podemos.

Sonho com isto. Aqui, no meu silêncio. Aqui, neste texto que se esvai. No meu âmago.

O mundo tem solução. Nós rugimos para o tempo, e o tempo ruge de volta.

O tempo urge.

 

Paula Mendes

15/06/21

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Festa no céu

 Hoje o céu amanheceu em festa! D. Célia foi se encontrar com Sr. Vicente.

As palavras que ficam são saudade, gratidão, missão cumprida. Eterna gratidão.

D. Célia foi uma segunda mãe para minha filha, quando não pude estar. E como cuidou dela, como a amou!

Mesmo na pandemia, não perdemos contato. Pelo Whatsapp, o qual ela não sabia usar direito (risos), era mais frequente. Mas também por telefonemas e até uma visita ou outra; na verdade, uma visita e outra, apenas.

Tínhamos uma forte amizade, um laço de amor que nos unia; foi ela a primeira a ler meu livro, ainda no rascunho, antes da publicação.

Diplomata é a palavra que a define, a meu ver.

Uma costureira de fino trato, delicada, fazia amizade fácil com todos a sua volta, seja no seu condomínio, seja na fisioterapia, na igreja São Vicente de Paula, da qual participava ativamente (pra não dizer religiosamente), ou onde quer que fosse e estivesse.

Muito positiva, alegre, trazia consigo uma energia muito boa que contagiava o ambiente. Sensível.

Eu sempre dizia que tinha um ex-marido (o Júnior, meu querido amigo), mas que tinha uma sogra, e não uma ex-sogra. Sogra com ‘S’ maiúsculo, de Super Sogra e de tanto amor envolvido. Uma Sogra que todo mundo quereria chamar de Sua.

Uma guerreira que sobreviveu a um infarto, cuja revascularização testemunhei, a uma troca de válvulas cardíacas e a outros percalços da vida.

Hoje meu peito está apertado, estou triste. A pandemia tem levado pessoas próximas de todos. A maioria de nós conhece a dor desta perda, seja por um familiar ou um amigo. Não tenho palavras.

Minhas palavras são uma vibração, um silêncio, uma energia que envolva o universo, o planeta, a humanidade, para que nos curemos, não apenas da pandemia, mas que nos tornemos mais solidários uns para com os outros, uns países para com os outros, para que transformemos essa mentalidade individualista em uma coletiva, em prol do bem comum. Esse é o meu sonho, e sei que muitos compartilham dele. Esperança que nunca acaba.

Não quero deixar de parafrasear este autor desconhecido, cuja frase minha amiga Deborah Secchin me enviou: neste momento, “só uso as palavras para compor o meu silêncio”... Porque um minuto de silêncio é muito pouco para honrar a sua memória. Ela permanecerá em mim, no meu âmago, e em todos os que tivemos o privilégio de conviver com ela.

Boas vibrações para os filhos, Vicente Jr., Eduardo, Claudine; os netos, Pedro, Sara e Stella, minha filha; e também a todos os familiares e amigos que sofrem neste momento. Sei que nossos corações hão se ser confortados e que teremos força para continuar na caminhada, até um dia... 

E a saudade que dói vai se transformando em uma saudade mais gostosa, com o tempo. Porque só temos coisas boas a relembrar.

Sem mais, com muita emoção, termino este texto, juntamente com Santo Agostinho:



Que Deus a receba carinhosamente em Seus braços misericordiosos, e nos traga a paz de que necessitamos.


Paula Mendes

09/06/2021

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Sonhos

 



"Quem é rico em sonhos não envelhece nunca.

Pode até ser que morra de repente.

Mas morrerá em pleno voo..."


Rubem Alves

Bailarina

 






"Quando observamos a graciosidade da bailarina que se equilibra numa pose absolutamente perfeita e admiramos a beleza e o rigor dos seus movimentos, nada mais vemos do que aquilo que os nossos olhos permitem. Não vemos os pés ensanguentados. As horas infindáveis de trabalho. O sofrimento. O sacrifício. Olhamos para a bailarina com a distância que nos dá a certeza das coisas que nunca conseguiremos fazer. Achamos que a facilidade com que não fazemos as coisas é a mesma com que a bailarina se move à nossa frente. Pensamos que para ela é fácil. Não lhe custa nada, ela consegue. Esquecemo-nos do esforço que faz com que a bailarina execute naturalmente os seus passos. Esquecemo-nos porque nem sequer o conhecemos. Esquecemo-nos de que a facilidade dá muito trabalho. Esquecemo-nos de que, para parecer fácil, foi muito difícil."

Costurando a vida! – Fica-te tão bem o dia que trazes. Onde é que o arranjaste? – Fui eu que fiz. Já me aborreciam os dias sempre iguais, se...