quarta-feira, 24 de setembro de 2025

TEMPO, TEMPO, TEMPO

Dia desses, parei para observar as pessoas ouvindo seus respectivos áudios no WhatsApp, numa velocidade acima daquela em que foram gravados. Pode-se ouvi-los com uma vez e meia de aumento desta velocidade e até com o dobro dela.
Fiquei pensando, depois de não conseguir entender nada do que foi dito de forma tão veloz: “que loucura é essa, minha gente?”
Que tempo é esse que estamos vivendo e que tempos são esses?
Temos que bater ponto, bater metas, produzir, correr, correr atrás disso ou daquilo, chegar a tempo, numa cultura em que “tempo é dinheiro” e em que “não se pode perder tempo”. Esperar é uma tortura.
Sociedade industrializada, carregada de ansiedade e preocupações com o que há de vir, com o que temos que fazer a seguir.
Já notaram, tenho certeza, que ultimamente a sensação de que o tempo está passando muito rápido, mais do que anteriormente, está se tornando cada vez mais comum e frequente. Tem-se perdido a noção de que dia da semana é, que dia do mês estamos vivendo. 
“Quando se vê, já é sexta-feira”, disse alguém.
Pesquisei sumariamente sobre esta sensação e me deparei com diversas explicações.
Uma delas é de que a percepção do tempo está ligada a fatores psicológicos e biológicos, tais como o nível de satisfação com o que se está fazendo, situação em que o tempo parece ‘voar’ ou como o envelhecimento, o adoecimento físico e mental, por exemplo. Ou, ainda, a repetição da rotina diária, assim como o tédio, em que se conta no relógio o passar lento das horas.
Segundo o Jornal da USP, o tempo é imutável, o que muda é a percepção do mesmo. 
Outras explicações são de que o tempo de rotação da Terra não é assim tão exato e que depende de diversos fatores, tais como “abalos sísmicos, formação ou derretimento de geleiras, erupções vulcânicas e movimentação de fluidos no interior e até na superfície terrestre e na atmosfera, como correntes marítimas e atmosféricas(...)”
Esses fenômenos acabariam provocando certa redistribuição da massa na Terra e afetando a rotação do planeta, afastando-o de seu eixo ou aproximando-o. 
Um exemplo disso seria o aumento da quantidade de água nos oceanos, o que dificultaria a rotação da Terra e, por outro lado, fenômenos tais como a formação de geleiras ou abalos sísmicos de grande magnitude, que podem acabar aumentando a velocidade de sua rotação.
Há explicações biológicas, psicológicas, filosóficas, científicas, culturais e outras mais.
Dependem da sociedade em que se vive, inclusive. Nas grandes cidades, o tempo parece passar bem mais rápido do que nas do interior, onde parece que se vive com um ritmo mais lento. 
Ou em outras culturas, tais como nas sociedades budistas, em que a meta é viver o tempo presente, sem se preocupar com o passado ou com o futuro.
Além disso, há os métodos de medição do tempo, que variam ao longo dos séculos.
Outra explicação seria de que estimulantes como o café, o cigarro e o uso de drogas ilícitas como a cocaína acelerariam a percepção da passagem do tempo.
A sensação seria uma percepção individual. 
Diante dessas várias vertentes, a pergunta é: o que estamos fazendo com nosso tempo, com nossa vida, com nossa qualidade de vida? 
Você está satisfeito com o ritmo de vida em que está vivendo? Sente-se sobrecarregado e sem tempo? Entediado, com tempo demais?
Temos esta vida. Não se sabe se teremos outras, mas o importante é que o agora conta. O tempo passa para todos nós. Um dia chegaremos a um ponto final. 
O que faremos ou o que estamos fazendo durante este tempo?
Preocupando, ansiosos, com o futuro? Deixando de viver e de ‘curtir’ o caminho, o tempo presente?
Como diria Rubem Alves: 
“Resta quanto tempo? Não sei.
O relógio da vida não tem ponteiros.
Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge.
Não há tempo para tudo.
Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo.
É necessário aprender a arte de “abrir mão” – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial.”
Sim, sabiamente, estabelecer prioridades, escolher viver aquilo que vale a pena. O que levaremos daqui? O que realmente vale a pena para você?
Já Quintana, diria:
" . . . E, quando o trem passa 
por esses ranchinhos à beira da estrada, 
a gente pensa que é ali 
que mora a felicidade. " 
Quem já não pensou assim? Ali, o ritmo é outro e parece que se vive melhor. Ou não. Depende da percepção de cada um.
Há os acelerados, urbanos, os que vivem em ritmo frenético e que aparentemente se satisfazem vivendo assim.
Cada um é cada qual e deve viver da maneira que mais lhe apraz. 
Mas será que estamos vivendo mesmo da maneira que mais nos apraz ou estamos simplesmente nos deixando levar pelas demandas externas, da mídia, do trabalho, do outro, da sensação de que não se pode ficar ‘à toa’, perceber o próprio interior, o presente, ouvir uma música, ‘olhar para o tempo’, sem focar sempre no minuto a seguir, no dia, na semana, nos meses que estão por vir?
O que levamos desta vida, afinal?
“Sua alma, sua palma”...
Deixo a reflexão.

Paula Mendes
17/07/2025 (já!)

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