quarta-feira, 24 de setembro de 2025

ONDAS E MARÉS

Já visitei praias em que as ondas eram tão pequenas, tão curtas, tão baixas que quase nem se notavam. Tinha que se andar dezenas de metros dentro d’água para poder mergulhar e molhar todo o corpo. 
Bem adequado a crianças, a quem não sabe nadar e tem medo de aprender, a quem tem medo de água. Sem muitas ameaças. 
Quanto à emoção, depende de como cada um vive a experiência.
Frequentei praias – essas, na maioria – em que as ondas do mar eram, digamos, medianas, dependendo da maré, naturalmente. Nesses casos, dá para entrar e ficar por ali durante horas a fio com a água até o pescoço, pulando ondas, com uma sensação gostosa, um sentimento agradável, batendo papo. Obviamente, usa-se chapéu, protetor solar e todos os cuidados a mais.
Que aventura gostosa viver assim! Passear de barco; comer frutos do mar...
Na maré cheia, nessas praias, já não dá para se ter tanta tranquilidade, bate um bocado de insegurança, um frio na barriga, algo desconfortável.
Quando fui a Copacabana, as ondas eram bem maiores do que aquelas de João Pessoa, conhecidas desde a infância; cheguei a entrar no mar, mas logo saí, com um misto de satisfação e receio, falhando-me um pouco a coragem, mas ao mesmo tempo, uma vontade de enfrentar as ditas ondas. 
Eram férias, talvez. Comemos biscoito de polvilho doce e milho verde cozido.
No Rio, quando é maré cheia, como em tantos outros lugares, ela invade o calçadão e até um pouco mais. 
Agora, então, com o aquecimento global, várias passagens vêm sendo isoladas e não permitidas, por questão de segurança.
Mudanças profundas no clima, no tempo, no meio ambiente, na vida selvagem, no planeta e em nossas próprias vidas.
Penso agora nas ondas do Havaí, por exemplo, onde se pode surfar. Esporte. Nem imagino a adrenalina e a comoção. O contentamento de se conseguir uma boa performance, de vencer o desafio, vencer a si próprio.
Finalmente, volto meus pensamentos para os tsunamis, destruidores de tudo, repentinos, impetuosos, tempestuosos. Ai de todos, desavisados, ameaçados, mortos, perdidos.
Há, ainda, as correntes que passam por dentro do mar; pode-se estar numa praia em que a superfície esteja aparentemente tranquila, ondas suaves; quando se entra, acontece que se é arrastado pela força da água, uma corrente.
Acho que a vida é assim.
Momentos de falta de ondas, simples e fáceis de se viver; em que talvez se deseje um pouco mais de movimento, apesar da quietude e transparência do mar trazerem um tanto de paz. Um pouco menos de marasmo e tédio, um pouco mais de aventura.
Há momentos em que se deleita com as ondas no ponto certo, nem mais, nem menos, com aquele ínfimo de incerteza que dá o tempero exato a todo o resto. 
Já na maré alta, há certo perigo, medo, ansiedade e há que se tomar cuidado; talvez sair do mar por um instante e esperar que abaixe novamente. 
Viver não é fácil. Há que se lidar com cada momento, com cada dia, cada situação, cada circunstância de acordo com as marés e com as praias que se escolheu frequentar. Com a cidade onde se optou por morar.
A praia, a cidade, não são mais que nossos pensamentos, os sentimentos em que escolhemos focar, o ângulo sob o qual decidimos enxergar. Porque tudo não passa de  uma escolha.
Há ondas em que se pode querer surfar, com adrenalina e tudo, mas há que se ter o aparato para isso. Uma estrutura, um preparo, pois pode-se afogar facilmente.
Existem experiências duais, aquelas em que aparentemente há ondas tranquilas, mas correntes mais profundas, fortíssimas, que podem te arrastar e que, sem ajuda, te levam ao limite da própria vida. É preciso pedir socorro.
Os tsunamis, devastadores; perdas, luto, adoecimento, separações, conflitos, situações que dão uma reviravolta na vida, inesperadas, inusitadas e repletas de desafios para depois se juntar os cacos e se reconstruir, a partir daí, toda uma cidade. 
Nesses casos, usa-se a solidariedade e a empatia como ferramentas essenciais. Momentos humanos. Calor humano.
Já em Copacabana, há quem ame. Praia cheia, ondas maiores, um pouco de estresse misturado ao medo e ao contentamento. A correria da vida, os desafios dos relacionamentos, profissionais e pessoais e aquela voz que diz: “Vá com mais calma, aproveite a caminhada!”
O fato é que nem sempre podemos escolher a praia, as ondas, as marés, o imponderável, o imprevisível. Não detemos controle sobre quase nada.
O que podemos fazer é aprender a nadar e agradecer aos professores de natação; agradecer aos salva-vidas, em casos de afogamento. 
Quiçá, aprender a surfar. 
Podemos também aprender a boiar.
Contamos com a solidariedade e a empatia alheia naqueles momentos em que tudo foi destroçado e a vida simplesmente virou do lado do avesso.
E a resiliência, a persistência, o amor próprio.
Aos meus olhos, o segredo da felicidade é a gratidão. Muitas vezes temos que usar óculos.
Gratidão por todos os momentos, por todas as ondas, por todas as marés e por todas as saídas e alternativas existentes. Por nossa criatividade e pela do outro, próximo de nós.
Gratidão pelas boias, pelos barcos e navios, pelas pranchas, equipamentos de mergulho e afins.
Viver é um esporte, uma arte, uma aventura, uma partilha; desafiantes.
Impermanente é a vida.
“Como uma onda no mar...”
Qual a sua praia? Bora mergulhar?

Paula Mendes
10/09/2025

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