domingo, 28 de setembro de 2025

PIQUITITIM

"Se eu fosse um passarim

Destes bem avoadô
Destes bem piquititim
Assim que nem beija-flor
Avoava do gaim e assentava sem assombro
Nas grimpinha do seu ombro
Mode beijá seus beicim


E se ocê deixasse as veiz
Com um fio do seu cabelim
No prazo de quaiz um mês
Eu fazia nosso nin
Aí sei que dessa veiz
Em poquim tempo dispoiz
Nóis largava de ser dois
Pra ser quatro, cinco ou seis."

CARNEIRO, H.; MORAIS, J. E. Disponível em: www.palcomp3.com.br. Acesso em: 3 jul. 2019.

ENTRE O DIZER E O SENTIR

Em português, dizemos: “Eu não sei o que fazer com a saudade.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Vago pelos espaços vazios onde a tua ausência repousa,  
e deixo que o silêncio se transforme em grito dentro de mim.”  

Em português, dizemos: “Quero esquecer.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Enterrei as tuas promessas no fundo da minha alma,  
mas a terra nunca soube tapar o eco das palavras que nunca se disseram.”  

Em português, dizemos: “Sinto-me partido.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“As fraturas do meu ser não se fecham,  
e cada pedaço quebrado carrega a marca da tua ausência.”  

Em português, dizemos: “Eu só queria que tudo fosse mais simples.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Dei corda a relógios que não sabem contar o tempo,  
e esperei que as horas se acomodassem ao ritmo do nosso amor que já se desfaz.”  

Em português, dizemos: “Espero que a vida te sorria.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Que o vento que toca o teu rosto seja suave,  
como o último suspiro que trocámos, nas sombras do lugar onde já não somos.”  

Em português, dizemos: “Não sei como perdoar.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Cravei-te no peito a dor de um amor que se despedaçou,  
e agora, cada batimento é um pedido de paz que nunca chega.”  

Em português, dizemos: “Eu queria voltar atrás.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Fiquei na fronteira entre o que desapareceu e o que jamais existiu,  
uma sombra no teu horizonte que permanece invisível.”  

Em português, dizemos: “Estou a tentar seguir em frente.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Cada passo que dou é um espelho quebrado,  
e a minha sombra ainda carrega o peso do que me foi arrancado.”  

Em português, dizemos: “Eu vou superar.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Juntei os pedaços da minha alma como se fossem fragmentos de vidro,  
sabendo que, por mais que tente, há partes de mim que nunca cicatrizam.”  

E assim, entre o português comum e o português poético,  
há uma linha ténue que se estende entre o dito e o não dito.  
O português comum diz o que a boca sabe de cor,  
enquanto o poético diz o que o coração aprendeu a esconder.  

O português comum se limita ao imediato, ao simples,  
mas o poético busca a alma das palavras,  
além daquilo que se vê, do que se toca, do que se sente.  
É na poesia que a saudade ganha peso,  
onde o silêncio se torna mais barulho que a palavra,  
onde o amor não cabe no corpo,  
e as feridas falam mais alto que os sorrisos.  

O português comum é prisioneiro do tempo,  
mas o poético vive entre os espaços,  
onde o passado e o futuro se tornam fragmentos  
e o presente se dissolve em metáforas.  
Porque, na poesia, a verdade nunca é só uma,  
é sempre o reflexo de todas as possíveis versões de nós mesmos.  

E é nessa diferença que encontramos a beleza:  
o português fala para ser entendido,  
o poético, para ser sentido.  

Poeta Estrábico

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Manoel de Barros

...Eu queria aprender
o idioma das árvores.
Saber as canções do vento
nas folhas da tarde.
Eu queria apalpar os perfumes do sol...

*Manoel de Barros.

Imagem via: Pinterest.

TEMPO, TEMPO, TEMPO

Dia desses, parei para observar as pessoas ouvindo seus respectivos áudios no WhatsApp, numa velocidade acima daquela em que foram gravados. Pode-se ouvi-los com uma vez e meia de aumento desta velocidade e até com o dobro dela.
Fiquei pensando, depois de não conseguir entender nada do que foi dito de forma tão veloz: “que loucura é essa, minha gente?”
Que tempo é esse que estamos vivendo e que tempos são esses?
Temos que bater ponto, bater metas, produzir, correr, correr atrás disso ou daquilo, chegar a tempo, numa cultura em que “tempo é dinheiro” e em que “não se pode perder tempo”. Esperar é uma tortura.
Sociedade industrializada, carregada de ansiedade e preocupações com o que há de vir, com o que temos que fazer a seguir.
Já notaram, tenho certeza, que ultimamente a sensação de que o tempo está passando muito rápido, mais do que anteriormente, está se tornando cada vez mais comum e frequente. Tem-se perdido a noção de que dia da semana é, que dia do mês estamos vivendo. 
“Quando se vê, já é sexta-feira”, disse alguém.
Pesquisei sumariamente sobre esta sensação e me deparei com diversas explicações.
Uma delas é de que a percepção do tempo está ligada a fatores psicológicos e biológicos, tais como o nível de satisfação com o que se está fazendo, situação em que o tempo parece ‘voar’ ou como o envelhecimento, o adoecimento físico e mental, por exemplo. Ou, ainda, a repetição da rotina diária, assim como o tédio, em que se conta no relógio o passar lento das horas.
Segundo o Jornal da USP, o tempo é imutável, o que muda é a percepção do mesmo. 
Outras explicações são de que o tempo de rotação da Terra não é assim tão exato e que depende de diversos fatores, tais como “abalos sísmicos, formação ou derretimento de geleiras, erupções vulcânicas e movimentação de fluidos no interior e até na superfície terrestre e na atmosfera, como correntes marítimas e atmosféricas(...)”
Esses fenômenos acabariam provocando certa redistribuição da massa na Terra e afetando a rotação do planeta, afastando-o de seu eixo ou aproximando-o. 
Um exemplo disso seria o aumento da quantidade de água nos oceanos, o que dificultaria a rotação da Terra e, por outro lado, fenômenos tais como a formação de geleiras ou abalos sísmicos de grande magnitude, que podem acabar aumentando a velocidade de sua rotação.
Há explicações biológicas, psicológicas, filosóficas, científicas, culturais e outras mais.
Dependem da sociedade em que se vive, inclusive. Nas grandes cidades, o tempo parece passar bem mais rápido do que nas do interior, onde parece que se vive com um ritmo mais lento. 
Ou em outras culturas, tais como nas sociedades budistas, em que a meta é viver o tempo presente, sem se preocupar com o passado ou com o futuro.
Além disso, há os métodos de medição do tempo, que variam ao longo dos séculos.
Outra explicação seria de que estimulantes como o café, o cigarro e o uso de drogas ilícitas como a cocaína acelerariam a percepção da passagem do tempo.
A sensação seria uma percepção individual. 
Diante dessas várias vertentes, a pergunta é: o que estamos fazendo com nosso tempo, com nossa vida, com nossa qualidade de vida? 
Você está satisfeito com o ritmo de vida em que está vivendo? Sente-se sobrecarregado e sem tempo? Entediado, com tempo demais?
Temos esta vida. Não se sabe se teremos outras, mas o importante é que o agora conta. O tempo passa para todos nós. Um dia chegaremos a um ponto final. 
O que faremos ou o que estamos fazendo durante este tempo?
Preocupando, ansiosos, com o futuro? Deixando de viver e de ‘curtir’ o caminho, o tempo presente?
Como diria Rubem Alves: 
“Resta quanto tempo? Não sei.
O relógio da vida não tem ponteiros.
Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge.
Não há tempo para tudo.
Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo.
É necessário aprender a arte de “abrir mão” – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial.”
Sim, sabiamente, estabelecer prioridades, escolher viver aquilo que vale a pena. O que levaremos daqui? O que realmente vale a pena para você?
Já Quintana, diria:
" . . . E, quando o trem passa 
por esses ranchinhos à beira da estrada, 
a gente pensa que é ali 
que mora a felicidade. " 
Quem já não pensou assim? Ali, o ritmo é outro e parece que se vive melhor. Ou não. Depende da percepção de cada um.
Há os acelerados, urbanos, os que vivem em ritmo frenético e que aparentemente se satisfazem vivendo assim.
Cada um é cada qual e deve viver da maneira que mais lhe apraz. 
Mas será que estamos vivendo mesmo da maneira que mais nos apraz ou estamos simplesmente nos deixando levar pelas demandas externas, da mídia, do trabalho, do outro, da sensação de que não se pode ficar ‘à toa’, perceber o próprio interior, o presente, ouvir uma música, ‘olhar para o tempo’, sem focar sempre no minuto a seguir, no dia, na semana, nos meses que estão por vir?
O que levamos desta vida, afinal?
“Sua alma, sua palma”...
Deixo a reflexão.

Paula Mendes
17/07/2025 (já!)

COMPREENSÃO X IGNORÂNCIA

Todos lidamos na vida com a compreensão e com a incompreensão alheia, faz parte; assim como com a ignorância, em ambos os sentidos: o da falta de educação e estupidez, mas também o da falta de conhecimento sobre determinado assunto.
Tudo isso é intrínseco à convivência.
Hoje quero falar sobre estes temas dentro de um tópico específico, o da miastenia gravis.
Pouco depois que adoeci, há 22 anos, passei a participar de um grupo do Orkut, dedicado a miastênicos em geral. Anos depois, passei para um grupo do Facebook, em seguida mais alguns outros do próprio Facebook e chegamos a formar o grupo das ‘mosqueteiras’, composto por 5 amigas - ou miastênicas, ou esposas de portadores de miastenia.
Hoje já não faço parte desses grupos, mas aprendi muito com eles e trocamos muitas e ricas experiências.
Com essa convivência virtual – e algumas vezes até presencial – pudemos compartilhar muitas vivências, diversas delas, comuns à maioria de nós.
Cheguei a perder alguns amigos para a doença.
Um relato frequente dos participantes dos grupos era a incompreensão da família e círculo de amizades, quando queixavam de um ‘cansaço’ que não entendiam muito bem:
- Você está cansado de quê, menino, você não fez nada!
Ou então, eram tidos como preguiçosos.
Tudo gerado por uma falta de conhecimento dos sintomas e da essência dessa enfermidade. Até que se explique...(!)
Já perdi amigos que 'passaram desta para melhor' por falta de conhecimento e ignorância – em ambos os sentidos – da equipe de saúde, infelizmente. Verdade seja dita.
Trata-se a miastenia gravis de uma doença rara, com prevalência de 150 a 200 casos para cada milhão de habitantes. 
É uma doença autoimune e neuromuscular, que provoca fraqueza generalizada em todos os músculos, inclusive dos olhos, da mastigação, da deglutição, da respiração e dos membros. Há tratamento, mas não a cura. 
Algumas pessoas conseguem levar uma vida praticamente normal, outras já apresentam um quadro mais grave. Tudo muito variável, inclusive em épocas diferentes da vida de uma mesma pessoa.
Por ser uma doença rara, entre os profissionais de saúde, não se lida muito com ela e não se a estuda com frequência. Talvez por uma menção rápida na escola, uma pincelada para se ter noção do que se trata.
No entanto, trata-se de uma afecção  melindrosa, pois que os sintomas não são aparentes, além dela ser incompatível com inúmeros tipos de medicamentos, prescritos inadvertidamente nos atendimentos de saúde espalhados pelo mundo.
Neste caso, faz-se necessário que o próprio paciente saiba quais medicamentos devem ser evitados, o que nem sempre é possível.
Sofro de fraqueza generalizada, inclusive respiratória. É um problema muscular e não pulmonar, o que não costumam entender.
Entre idas e vindas ao PA (pronto atendimento), ao CTI e à internação em apartamentos no hospital, tenho lidado repetidamente com os mesmos argumentos e comentários:
- Sua saturação está boa, sua frequência respiratória está boa, não tem indicação de internação, muito menos de CTI.
Até que se explique que o problema é muscular e que se converse com meus médicos, que referem um risco de falência muscular, já passamos por muito estresse, eu e minhas acompanhantes, inclusive bullying na própria instituição de saúde. 
Sempre a mesmíssima coisa. 
Algumas vezes mais compreendida, outras, de jeito nenhum, a ponto de recusarem atendimento na sala de urgência e me ignorarem completamente.
Este é um desabafo e um alerta.
Penso nas pessoas portadoras de outras moléstias raras, nas dificuldades e obstáculos que são obrigados a transpor.
Viver não é fácil para nenhum de nós, cada um tem o seu pedaço e tem que vivê-lo individualmente. Mesmo com o apoio alheio, cada um tem que atravessar o que o destino lhe oferece.
No meu caso, tenho toda uma rede de apoio e sou imensamente grata, eternamente grata por isto. 
Mas nem sempre é assim.
Meu desejo é de que abramos o leque e a mente  para a aquisição de conhecimentos e empatia  para todos os tipos de pessoas incompreendidas, não apenas aquelas doentes; que possamos ouvir, nos colocar no lugar delas, procuremos estudos, dados, conhecimento de causa, sem julgamentos prévios.
Ninguém sabe o que o outro passa na intimidade, a não ser com uma convivência muito próxima.
A compreensão, a meu ver, vem com o oposto da ignorância, em ambos os sentidos.
Que façamos o nosso melhor e que, de algum modo, este desabafo sirva como conscientização para quem o ler e quiser passá-lo adiante.
Boa tarde!

Paula Mendes
10/08/2025

ONDAS E MARÉS

Já visitei praias em que as ondas eram tão pequenas, tão curtas, tão baixas que quase nem se notavam. Tinha que se andar dezenas de metros dentro d’água para poder mergulhar e molhar todo o corpo. 
Bem adequado a crianças, a quem não sabe nadar e tem medo de aprender, a quem tem medo de água. Sem muitas ameaças. 
Quanto à emoção, depende de como cada um vive a experiência.
Frequentei praias – essas, na maioria – em que as ondas do mar eram, digamos, medianas, dependendo da maré, naturalmente. Nesses casos, dá para entrar e ficar por ali durante horas a fio com a água até o pescoço, pulando ondas, com uma sensação gostosa, um sentimento agradável, batendo papo. Obviamente, usa-se chapéu, protetor solar e todos os cuidados a mais.
Que aventura gostosa viver assim! Passear de barco; comer frutos do mar...
Na maré cheia, nessas praias, já não dá para se ter tanta tranquilidade, bate um bocado de insegurança, um frio na barriga, algo desconfortável.
Quando fui a Copacabana, as ondas eram bem maiores do que aquelas de João Pessoa, conhecidas desde a infância; cheguei a entrar no mar, mas logo saí, com um misto de satisfação e receio, falhando-me um pouco a coragem, mas ao mesmo tempo, uma vontade de enfrentar as ditas ondas. 
Eram férias, talvez. Comemos biscoito de polvilho doce e milho verde cozido.
No Rio, quando é maré cheia, como em tantos outros lugares, ela invade o calçadão e até um pouco mais. 
Agora, então, com o aquecimento global, várias passagens vêm sendo isoladas e não permitidas, por questão de segurança.
Mudanças profundas no clima, no tempo, no meio ambiente, na vida selvagem, no planeta e em nossas próprias vidas.
Penso agora nas ondas do Havaí, por exemplo, onde se pode surfar. Esporte. Nem imagino a adrenalina e a comoção. O contentamento de se conseguir uma boa performance, de vencer o desafio, vencer a si próprio.
Finalmente, volto meus pensamentos para os tsunamis, destruidores de tudo, repentinos, impetuosos, tempestuosos. Ai de todos, desavisados, ameaçados, mortos, perdidos.
Há, ainda, as correntes que passam por dentro do mar; pode-se estar numa praia em que a superfície esteja aparentemente tranquila, ondas suaves; quando se entra, acontece que se é arrastado pela força da água, uma corrente.
Acho que a vida é assim.
Momentos de falta de ondas, simples e fáceis de se viver; em que talvez se deseje um pouco mais de movimento, apesar da quietude e transparência do mar trazerem um tanto de paz. Um pouco menos de marasmo e tédio, um pouco mais de aventura.
Há momentos em que se deleita com as ondas no ponto certo, nem mais, nem menos, com aquele ínfimo de incerteza que dá o tempero exato a todo o resto. 
Já na maré alta, há certo perigo, medo, ansiedade e há que se tomar cuidado; talvez sair do mar por um instante e esperar que abaixe novamente. 
Viver não é fácil. Há que se lidar com cada momento, com cada dia, cada situação, cada circunstância de acordo com as marés e com as praias que se escolheu frequentar. Com a cidade onde se optou por morar.
A praia, a cidade, não são mais que nossos pensamentos, os sentimentos em que escolhemos focar, o ângulo sob o qual decidimos enxergar. Porque tudo não passa de  uma escolha.
Há ondas em que se pode querer surfar, com adrenalina e tudo, mas há que se ter o aparato para isso. Uma estrutura, um preparo, pois pode-se afogar facilmente.
Existem experiências duais, aquelas em que aparentemente há ondas tranquilas, mas correntes mais profundas, fortíssimas, que podem te arrastar e que, sem ajuda, te levam ao limite da própria vida. É preciso pedir socorro.
Os tsunamis, devastadores; perdas, luto, adoecimento, separações, conflitos, situações que dão uma reviravolta na vida, inesperadas, inusitadas e repletas de desafios para depois se juntar os cacos e se reconstruir, a partir daí, toda uma cidade. 
Nesses casos, usa-se a solidariedade e a empatia como ferramentas essenciais. Momentos humanos. Calor humano.
Já em Copacabana, há quem ame. Praia cheia, ondas maiores, um pouco de estresse misturado ao medo e ao contentamento. A correria da vida, os desafios dos relacionamentos, profissionais e pessoais e aquela voz que diz: “Vá com mais calma, aproveite a caminhada!”
O fato é que nem sempre podemos escolher a praia, as ondas, as marés, o imponderável, o imprevisível. Não detemos controle sobre quase nada.
O que podemos fazer é aprender a nadar e agradecer aos professores de natação; agradecer aos salva-vidas, em casos de afogamento. 
Quiçá, aprender a surfar. 
Podemos também aprender a boiar.
Contamos com a solidariedade e a empatia alheia naqueles momentos em que tudo foi destroçado e a vida simplesmente virou do lado do avesso.
E a resiliência, a persistência, o amor próprio.
Aos meus olhos, o segredo da felicidade é a gratidão. Muitas vezes temos que usar óculos.
Gratidão por todos os momentos, por todas as ondas, por todas as marés e por todas as saídas e alternativas existentes. Por nossa criatividade e pela do outro, próximo de nós.
Gratidão pelas boias, pelos barcos e navios, pelas pranchas, equipamentos de mergulho e afins.
Viver é um esporte, uma arte, uma aventura, uma partilha; desafiantes.
Impermanente é a vida.
“Como uma onda no mar...”
Qual a sua praia? Bora mergulhar?

Paula Mendes
10/09/2025

PROPAROXÍTONAS

PARA quem gosta de português e para quem não gosta também.
Gosto de LINGUÍSTICA e GRAMÁTICA, além de outros, mas nada de modo FANÁTICO. 
Gosto do LÚDICO e do CÔMICO, do ARTÍSTICO, o que nem sempre consigo alcançar.
Dependendo do ÂNGULO pelo qual o INTÉRPRETE veja, pode ser ÓTIMO ou pode ser PÉSSIMO; pode ser TRÁGICO e pode ser TÉTRICO.
Meu nome é Paula, uma palavra PAROXÍTONA cuja PENÚLTIMA SÍLABA é TÔNICA, a que se pronuncia mais forte. 
Moro em Belo Horizonte, uma cidade com que tenho uma QUÍMICA. Para mim, sempre teve um horizonte FANTÁSTICO, ruas ÍNGREMES e "sinais de TRÂNSITO' ao invés de 'SEMÁFOROS'.
Português não é como MATEMÁTICA, nada muito CIENTÍFICO, apesar de o ser; MATEMÁTICA  tem CÍRCULOS CONCÊNTRICOS, NÚMEROS etc.; nem como a FÍSICA.
Não, português é português e é BÁSICO para todos nós, brasileiros.
Ele é a VÍTIMA de hoje.
Pode ser POÉTICO, LÍRICO, HARMÔNICO; pode ser EXCÊNTRICO. Fico na DÚVIDA.
Peço a um CRÍTICO.
Nesse ÍNTERIM, ele é meu REFÚGIO e minha BÚSSOLA.
Mesmo que seja um CÔMODO ESTEREÓTIPO, ele é minha LÂMPADA.
Clarice Lispector já falava: "Essa é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve".
Pois bem. 
O português pode ser ESPLÊNDIDO, MÚSICA para nossos ouvidos, uma CÍTARA. Um CÂNTICO.
Pode ser RIDÍCULO, pode ser BÁRBARO; LÚGUBRE e FÚNEBRE.
Pode ser FÁBULA ou SÁTIRA, depende até da ÉPOCA ou do SÉCULO. FRENÉTICO no ritmo, MÉTRICO ou não e até mesmo RÍGIDO.
Pode ser LÓGICO ou não.
Nada CIRÚRGICO, entretanto, como quando se pega uma LÂMINA e se opera o APÊNDICE. Nada muito MÉDICO. Sem tantos  FÁRMACOS.
As palavras, no entanto, são costuradas e selecionadas de forma bem VÍVIDA, o que pode acontecer num RELÂMPAGO provindo do ÂMAGO do ser. 
O português pode ser até MÍMICO, dependendo do GÊNERO.
Trata-se de uma (séria) brincadeira, uma GINÁSTICA com as letras, mas nada tão ATLÉTICO ou OLÍMPICO.
Não carece de ser PÚBLICO, pode ser ÍNTIMO para aqueles que são mais TÍMIDOS.
Pode ser o canto de um PÁSSARO. 
Pode ser PÉGASUS, esse QUADRÚPEDE que me leva a JÚPITER.
Quanto ao TÍTULO, nada sei.
Sei apenas, numa HIPÉRBOLE, quão FORTÍSSIMAS as PROPAROXÍTONAS podem ser...

Paula Mendes 
28/06/2025
Para Celestino, o Pi.

FRIDA KAHLO

" Às vezes temos que seguir,
  Como se nada.
  Como se ninguém.
  Como se nunca."
         (Frida Kahlo)

GENTILEZA

Sobre gentileza

Ao definir gentileza,
não me ocorreram palavras.
Porém lá fora uma folha
pela mão do vento dançava.
Aquela mão invisível,
estendida à folha que vaga,
tornou uma dança possível
com sua existência, mais nada,
A gentileza acontece
e não requer definição
um gesto que não se esquece
se não perece a gratidão.

Antonio R. Filho

PASSARINHOS

Para compor um tratado sobre passarinhos
É preciso por primeiro que haja um rio com árvores
e palmeiras nas margens
E dentro dos quintais das casas que haja pelo menos
goiabeiras.
E que haja por perto brejos e iguarias de brejos.
É preciso que haja insetos para os passarinhos.
Insetos de pau sobretudo que são os mais palatáveis.
A presença de libélulas seria uma boa.
O azul é muito importante na vida dos passarinhos
Porque os passarinhos precisam antes de belos ser
eternos
Eternos que nem uma fuga de Bach.

Manoel de Barros,

SÓ PALAVRAS

São só palavras 
(. . .) Quando pareço ausente, não creias: hora a hora meu amor agarra-se aos teus braços,
hora a hora meu desejo revolve teus escombros, 
e escorrem dos meus olhos mais promessas. 
Não acredites nesse breve sono; não dês valor maior ao meu silêncio; e se leres recados numa folha branca, não creias também: é preciso encostar teus lábios nos meus lábios para ouvir.

Nem acredites se pensas que te falo: palavras 
são meu jeito mais secreto de calar.

Lya Luft 💝
Nota: Trecho da crônica "São só palavras".

SABEDORIAS

" Não me basta ser:
eu quero o transbordar de tudo, 
o desassombro que toda margem desconhece. Não me basta morar:
quero ser habitado
por quem ao destino desobedece.
Não me basta viver:
quero a vida como febre, o amor como lume 
e água.
No final, saberás:
o que se ama não regressa.
O que se vive não começa. 
E o sonho nunca tem pressa. "

___Mia Couto 💛
 In 'Vagas e Lumes'

QUINTANA

O tempo é indivisível. Dize,
Qual o sentido do calendário?
Tombam as folhas e fica a árvore,
Contra o vento incerto e vário.

A vida é indivisível. Mesmo
A que se julga mais dispersa
E pertence a um eterno diálogo
A mais inconseqüente conversa.

Todos os poemas são um mesmo poema,
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre…
Todas as horas são horas extremas!"

Mario Quintana.

O AMOR SEGUNDO NERUDA

"Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono."

Pablo Neruda*

(in:  Cem Sonetos de Amor, tradução de Albano Martins, ed. Campo das Letras, 2004)

Leituras Livres

* o poeta morreu dua 23 de setembro de 1973.

PIQUITITIM

" Se eu fosse um passarim Destes bem avoadô Destes bem piquititim Assim que nem beija-flor Avoava do gaim e assentava sem assombro Nas ...