Já visitei praias em que as ondas eram tão pequenas, tão curtas, tão baixas que quase nem se notavam. Tinha que se andar dezenas de metros dentro d’água para poder mergulhar e molhar todo o corpo.
Bem adequado a crianças, a quem não sabe nadar e tem medo de aprender, a quem tem medo de água. Sem muitas ameaças.
Quanto à emoção, depende de como cada um vive a experiência.
Frequentei praias – essas, na maioria – em que as ondas do mar eram, digamos, medianas, dependendo da maré, naturalmente. Nesses casos, dá para entrar e ficar por ali durante horas a fio com a água até o pescoço, pulando ondas, com uma sensação gostosa, um sentimento agradável, batendo papo. Obviamente, usa-se chapéu, protetor solar e todos os cuidados a mais.
Que aventura gostosa viver assim! Passear de barco; comer frutos do mar...
Na maré cheia, nessas praias, já não dá para se ter tanta tranquilidade, bate um bocado de insegurança, um frio na barriga, algo desconfortável.
Quando fui a Copacabana, as ondas eram bem maiores do que aquelas de João Pessoa, conhecidas desde a infância; cheguei a entrar no mar, mas logo saí, com um misto de satisfação e receio, falhando-me um pouco a coragem, mas ao mesmo tempo, uma vontade de enfrentar as ditas ondas.
Eram férias, talvez. Comemos biscoito de polvilho doce e milho verde cozido.
No Rio, quando é maré cheia, como em tantos outros lugares, ela invade o calçadão e até um pouco mais.
Agora, então, com o aquecimento global, várias passagens vêm sendo isoladas e não permitidas, por questão de segurança.
Mudanças profundas no clima, no tempo, no meio ambiente, na vida selvagem, no planeta e em nossas próprias vidas.
Penso agora nas ondas do Havaí, por exemplo, onde se pode surfar. Esporte. Nem imagino a adrenalina e a comoção. O contentamento de se conseguir uma boa performance, de vencer o desafio, vencer a si próprio.
Finalmente, volto meus pensamentos para os tsunamis, destruidores de tudo, repentinos, impetuosos, tempestuosos. Ai de todos, desavisados, ameaçados, mortos, perdidos.
Há, ainda, as correntes que passam por dentro do mar; pode-se estar numa praia em que a superfície esteja aparentemente tranquila, ondas suaves; quando se entra, acontece que se é arrastado pela força da água, uma corrente.
Acho que a vida é assim.
Momentos de falta de ondas, simples e fáceis de se viver; em que talvez se deseje um pouco mais de movimento, apesar da quietude e transparência do mar trazerem um tanto de paz. Um pouco menos de marasmo e tédio, um pouco mais de aventura.
Há momentos em que se deleita com as ondas no ponto certo, nem mais, nem menos, com aquele ínfimo de incerteza que dá o tempero exato a todo o resto.
Já na maré alta, há certo perigo, medo, ansiedade e há que se tomar cuidado; talvez sair do mar por um instante e esperar que abaixe novamente.
Viver não é fácil. Há que se lidar com cada momento, com cada dia, cada situação, cada circunstância de acordo com as marés e com as praias que se escolheu frequentar. Com a cidade onde se optou por morar.
A praia, a cidade, não são mais que nossos pensamentos, os sentimentos em que escolhemos focar, o ângulo sob o qual decidimos enxergar. Porque tudo não passa de uma escolha.
Há ondas em que se pode querer surfar, com adrenalina e tudo, mas há que se ter o aparato para isso. Uma estrutura, um preparo, pois pode-se afogar facilmente.
Existem experiências duais, aquelas em que aparentemente há ondas tranquilas, mas correntes mais profundas, fortíssimas, que podem te arrastar e que, sem ajuda, te levam ao limite da própria vida. É preciso pedir socorro.
Os tsunamis, devastadores; perdas, luto, adoecimento, separações, conflitos, situações que dão uma reviravolta na vida, inesperadas, inusitadas e repletas de desafios para depois se juntar os cacos e se reconstruir, a partir daí, toda uma cidade.
Nesses casos, usa-se a solidariedade e a empatia como ferramentas essenciais. Momentos humanos. Calor humano.
Já em Copacabana, há quem ame. Praia cheia, ondas maiores, um pouco de estresse misturado ao medo e ao contentamento. A correria da vida, os desafios dos relacionamentos, profissionais e pessoais e aquela voz que diz: “Vá com mais calma, aproveite a caminhada!”
O fato é que nem sempre podemos escolher a praia, as ondas, as marés, o imponderável, o imprevisível. Não detemos controle sobre quase nada.
O que podemos fazer é aprender a nadar e agradecer aos professores de natação; agradecer aos salva-vidas, em casos de afogamento.
Quiçá, aprender a surfar.
Podemos também aprender a boiar.
Contamos com a solidariedade e a empatia alheia naqueles momentos em que tudo foi destroçado e a vida simplesmente virou do lado do avesso.
E a resiliência, a persistência, o amor próprio.
Aos meus olhos, o segredo da felicidade é a gratidão. Muitas vezes temos que usar óculos.
Gratidão por todos os momentos, por todas as ondas, por todas as marés e por todas as saídas e alternativas existentes. Por nossa criatividade e pela do outro, próximo de nós.
Gratidão pelas boias, pelos barcos e navios, pelas pranchas, equipamentos de mergulho e afins.
Viver é um esporte, uma arte, uma aventura, uma partilha; desafiantes.
Impermanente é a vida.
“Como uma onda no mar...”
Qual a sua praia? Bora mergulhar?
Paula Mendes
10/09/2025