quarta-feira, 28 de julho de 2021

Espanto




"Não era a vaidade que a atraia para o espelho
mas o espanto de descobrir-se..."

Milan Kundera

Amor demais




"Farei o possível para não amar demais as pessoas, sobretudo por causa das pessoas...
Às vezes, o amor que se dá pesa quase como uma responsabilidade na pessoa que o recebe... 
Eu tenho essa tendência geral para exagerar, e resolvi tentar não exigir dos outros senão o mínimo. 
É uma forma de paz."

Clarice Lispector   (1920-1977)
      In "Minhas Queridas"

terça-feira, 27 de julho de 2021

Livros e asas

 



Pássaros tem asas,
Humanos têm livros...

Sufoco


 

Perdi muito tempo até aprender que não se guarda as palavras,
Ou você as fala, as escreve, ou elas te sufocam.

Clarice Lispector

Calendário Maia




Primeiro dia de um novo ano. 

Dia de Percepção, da Semente Focalizar Florescimento. 

Somos seres do florescer, do desabrochar em luz. Podemos frutificar e contribuir com o bem, o bom e o belo do mundo.

O convite de hoje, no tom do Serviço, nos diz de nosso potencial para servir em conexão com o Divino, em prol do bem maior. 
Podemos energizar nossa capacidade de serviço e daquelxs que se acercam de nós. 
Gratidão a Deus por tudo. 
Paz e Bem. 
Namastê!

26/07/2021

domingo, 25 de julho de 2021

Dia fora do tempo




Hoje é o dia fora do tempo para os Maias.
Como estamos trabalhando com os Maias Galácticos, hoje é um dia especial.
Dia para entrar no nosso coração sagrado.
O tempo para os Maias não existe, pois tudo é uma ilusão da mente.
Tudo o que vemos lá fora está acontecendo lá dentro.
Ainda que acreditemos que o mundo é algo externo, todo o caos que vemos, está dentro de nós.
O medo se projeta para fora e viveremos situações difíceis por causa desse medo.
Por isso hoje é um dia importante para considerar entrar no nosso coração, e sentir a unidade.
Não somos só nós já que as pessoas somos nós.
O coração só percebe Unidade.
Vamos sair hoje do tempo da mente, e entrar no não tempo do coração.
Feliz dia fora do tempo.

Ariel Leão

O tempo




 "O t e m p o n ã o p o d e s e r segurado; 

a vida é uma tarefa a ser feita e que levamos para casa. 

Quando vemos já são 18 horas. 

Quando vemos já é sexta feira. 

Quando vemos já terminou o mês. 

Quando vemos já terminou o ano. 

Quando vemos já se passaram 50 ou 60 anos. 

Quando vemos, nos damos conta de ter perdido um amigo. 

 Quando vemos, o amor de nossa vida parte e nos damos conta de que é tarde para voltar atrás... 

Não pare de fazer alguma coisa que te dá prazer por falta de tempo, 

não pare de ter alguém ao seu lado ou de ter prazer na solidão. 

Porque os teus filhos subitamente não serão mais teus e deverá fazer alguma coisa com o tempo que sobrar. 

 Tenta eliminar o “depois”... 

Depois te ligo... Depois eu faço... Depois eu falo... 

Depois eu mudo... Penso nisso depois... 

Deixamos tudo para depois, como se o depois fosse melhor, porque não entendemos que: 

Depois, o café esfria... Depois, a prioridade muda... 

Depois, o encanto se perde... Depois, o cedo se transforma em tarde... 

Depois, a melancolia passa... Depois, as coisas mudam... 

Depois, os filhos crescem... Depois, a gente envelhece... 

D e p o i s , a s p r o m e s s a s s ã o esquecidas... 

Depois, o dia vira noite... Depois, a vida acaba... 

Não deixe nada para depois porque na espera do depois se p o d e p e r d e r o s m e l h o r e s m o m e n t o s , 

a s m e l h o r e s experiências, os melhores amigos , os melhores amores ... 

L embre-se que o depois pode ser tarde. 

O dia é hoje, não estamos mais na idade em que é permitido postergar. 

Talvez tenha tempo para ler e depois compartilhar esta mensagem ou talvez deixar para...”depois” Sempre unidos: Sempre juntos... Sempre fraternos... Sempre amigos... "


Mário Quintana

Paz

 



Muitas vezes, para colher paz
É preciso plantar silêncio...

Alma e Ego

 



Ser visto é do ego;
Ser feliz é da alma.

Palavras

 



As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor.
Aprendemos palavras para melhorar os olhos.

Rubem Alves

Sê inteiro

 



Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis, F. Pessoa

O segredo

 



O segredo desta vida
É beleza e paciência...
Se der certo: beleza;
Se der errado: paciência.

Provérbio italiano


 

No fim do jogo,
Peões e reis voltam para a mesma caixa.

Provérbio italiano

sábado, 17 de julho de 2021

Gandhi




"A minha fé mais profunda é que podemos mudar o mundo pela verdade e pelo amor."

Mahatma Gandhi

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Útero




"No ventre de uma mãe havia dois bebês.
Um perguntou ao outro:
- Você acredita em vida após o parto?
O outro respondeu:
- É claro. Tem que haver algo após o parto. Talvez nós estejamos aqui para nos preparar para o que virá mais tarde.
- Bobagem, disse o primeiro.
- Que tipo de vida seria esta?
O segundo disse:
- Eu não sei, mas haverá mais luz do que aqui. Talvez nós poderemos andar com as nossas próprias pernas e comer com nossas bocas. Talvez teremos outros sentidos que não podemos entender agora.
O primeiro retrucou:
- Isto é um absurdo. O cordão umbilical nos fornece nutrição e tudo o mais de que precisamos. O cordão umbilical é muito curto. A vida após o parto está fora de cogitação.
O segundo insistiu:
- Bem, eu acho que há alguma coisa e talvez seja diferente do que é aqui. Talvez a gente não vá mais precisar deste tubo físico.
O primeiro contestou: 
- Bobagem, e além disso, se há realmente vida após o parto, então, por que ninguém jamais voltou de lá?
- Bem, eu não sei, disse o segundo, mas certamente vamos encontrar a Mamãe e ela vai cuidar de nós.
O primeiro respondeu:
- Mamãe? Você realmente acredita em Mamãe? Isto é ridículo. Se a Mamãe existe, então, onde ela está agora?
O segundo disse:
- Ela está ao nosso redor. Estamos cercados por ela. Nós somos dela. É nela que vivemos. Sem ela este mundo não seria e não poderia existir.
Disse o primeiro:
- Bem, eu não posso vê-la, então, é lógico que ela não existe.
Ao que o segundo respondeu:
- Às vezes, quando você está em silêncio, se você se concentrar e realmente ouvir, você poderá perceber a presença dela e ouvir sua voz amorosa."

Este foi o modo pelo qual um escritor húngaro explicou a existência de Deus. 

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Dia da Poesia




Hoje é o dia universal da poesia. Vale ler esse texto de Fernando Pessoa dedicado aos amigos 

 _"Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade._

 _Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante._

 _Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria._ _Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto._

 _Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade._ _Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos._

 _Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça._

_Não quero amigos adultos, nem chatos._ _Quero-os metade infância e outra metade velhice._ _Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa._

_Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril"_
  
Fernando Pessoa

Timidez

 



"Sempre fui uma tímida muito ousada."


Clarice Lispector, Apendendo a Viver

domingo, 11 de julho de 2021

Cicatrizes

 


 

Todas as crianças se arriscam, caem, se machucam ou sofrem pequenos acidentes; faz parte do crescimento e do aprendizado, do amadurecimento neurológico e psíquico. Quem não tem aquela cicatriz de infância para contar uma história?

Crescemos, tornamo-nos adultos e, com o tempo, muitos de nós sofremos também algum tipo de acidente, uma ou mais cirurgias, um corte na cozinha ou coisa semelhante. Alguns cortes são mais profundos, outros, superficiais. Algumas feridas infeccionam, outras não. Uma pequena parte delas, ainda, pode se cronificar, se não devidamente tratadas e cuidadas. Podem demandar tratamentos mais agressivos e prolongados, não apenas com antibióticos, mas até mesmo cirurgias, ou simplesmente se curar por si só. Tudo depende do contexto, do organismo em questão, da contaminação no momento da ferida etc. e tal.

Tive uma paciente que trazia a pele morena e uma mancha mais clara bem no meio da perna. Aquilo para ela se transformou em um problema gigante, quase insolúvel. Procurou dermatologistas e cirurgiões, até que um deles lhe ofereceu um tratamento ‘gratuito’ para se livrar daquela cicatriz - o resultado foi que sofreu alguns tipos de abusos por parte do profissional e, por ser adolescente ou muito jovem, não me recordo muito bem, não recorreu a ninguém e submeteu-se àquilo por diversas vezes, na esperança de, por fim, livrar-se do seu ‘problema’. O que era para curá-la de uma cicatriz superficial em sua pele transformou-se em uma cicatriz em sua alma, muito mais profunda e difícil de ser tratada do que a primeira. Tornou-se uma vítima real, impulsionada inicialmente pela própria neurose e necessidade de corresponder aos padrões de beleza que havia se imposto.

Assisto a vários seriados de TV, a maioria, policiais. Em um deles, uma policial foi sequestrada e deixada à morte depois de ser tatuada com uma data em suas costelas – o que seria a data de sua morte. A personagem, após ter sido salva e ao se deparar com aquela imagem tatuada no espelho, sofria, revivia o trauma. Passado algum tempo, o supervisor lhe diz que aquilo não era nada menos que uma prova de que havia sobrevivido e que tudo dependia do olhar que ela colocasse sobre os fatos e sobre sua ‘cicatriz’ – de que significado ela desse àquilo.

É aquela velha história do copo meio cheio, ou meio vazio, dependendo da nossa interpretação.

Eu, da minha parte, já sofri ou me submeti a várias cirurgias; cicatrizes, tenho várias. Além delas, tenho grossas estrias vermelhas por todo o corpo, que escrevem uma história de superação do uso prolongado de corticosteroides, entre outras coisas. Confronto-me no espelho e posso escolher como encarar a situação. Confesso que não é nada fácil, mas tudo não passa de uma escolha, sei bem disso.

Quanto às cicatrizes da alma, quem não as tem? Sinal de que vivemos. E sobrevivemos. A um amor não correspondido, algum tipo de abuso, psicológico ou não, uma história de maus tratos por um parente ou amigo, relações conflituosas... As possibilidades são inesgotáveis.

Cicatrizes invisíveis aos olhos materiais. Igualmente, no entanto, algumas são superficiais e se curam por si só; outras, mais profundas, demandam atenção, cuidado e tratamento. Há que se curarem ‘por dentro’, sob pena de infeccionarem, supurarem e se tornarem crônicas. Traumas guardados no inconsciente ou não, que nos farão reagir de forma inadequada e até insana a situações aparentemente inofensivas. Nestes, há que se realizar uma verdadeira ‘cirurgia’, drenar a secreção, deixar tudo sair, lavar por dentro, para depois fechar de novo e esperar cicatrizar, dessa vez de uma forma correta. Sem rancores, raiva, vergonha, culpa, remorso... Simplesmente uma história de superação a ser contada – ou não.

Pode-se recorrer a si mesmo; à escrita. Pode-se recorrer à fala, dirigida a um amigo ou um profissional. O profissional muitas vezes é imprescindível. Pode-se, e deve-se inclusive, recorrer ao que de mais sagrado há em você – sua espiritualidade. O que não pode é deixar de viver, deixar de se arriscar a voar, viver sofrendo, culpando o outro, se culpando, se autossabotando... A vida é um sopro e estamos aqui para nos curarmos do que quer que seja, para evoluirmos e também ajudarmos o próximo a se curar e a construir significados diante de suas cicatrizes.

As cicatrizes são testemunhas e, ao mesmo tempo, provas. De que vivemos. Vivamos, então, dando graças a nossa eterna capacidade de nos adaptar e de recomeçar a cada tropeço. Alcemos o voo. Se cairmos, pode ser que fique uma cicatriz a mais para contar a história. Viver é um risco que vale a pena!

Jean Paul Sartre já dizia: “Não importa o que fizeram de mim, o que importa é o que eu faço com o que fizeram de mim.” Ouso completar: importa, também, o que eu faço com o que eu mesmo fiz de mim...

Viver é assim.

 

Paula Mendes

11/07/2021

 

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Valorizando...



"Que a gente aprenda a valorizar o abraço antes da ausência. 
O sorriso antes da lágrima. 
O momento que antecede a despedida. 
A luz de dias calmos. 
O amor sem nada em troca. 
Que a vida nos ensine a tempo o que é precioso cultivar. 
A demonstração de afeto antes da partida. 
A alegria anterior aos tempos difíceis.
 A presença antes da falta. 
Que tenhamos sabedoria a tempo para termos tempo de realizar. 
É verdade que a vida voa, mas também recomeça a cada dia, nos dando a infinita chance de recomeçar."

Desconheço autoria
Contribuição de minha amiga Deborah Secchin (o texto é a cara dela!)

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Eu e minha lista de leitura

 







Haja tempo!!

Aparências




Crônica da Loucura 

"O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos. Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou. 

Durante quarenta anos, passei longe deles. Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal. 

O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera. Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco. 

Ninguém olha para ninguém. O silêncio é uma loucura. E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses. 

Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo. E a sala de espera de um "consultório médico", como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos: 

Na última quarta-feira, estávamos: 
1. Eu 
2. Um crioulinho muito bem vestido, 
3. Um senhor de uns cinquenta anos e 4. Uma velha gorda. 

Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu já partia do principio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados. 

(2) O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o namoro e não conseguiu entrar como sócio do "Harmonia do Samba"? Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina. 

(3)E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra. Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido. 

(4) Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse. 

Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista. 

Conto para ele a minha "viagem" na sala de espera. 

Ele ri... Ri muito, o meu psicanalista, e diz: 

- O Ditinho é o nosso office-boy. 

- O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades. 

- E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe. 

- "E você, não vai ter alta tão cedo..."

Luis Fernando Veríssimo
  

Sozinho

 



"Estar sozinho tem um poder
Que poucos conseguem lidar."

Tempo

 


Ouvir-se

 


quarta-feira, 7 de julho de 2021

Amar, escrever, criar filhos




"Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. 
Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. 
O “amar os outros” é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. 
As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. 
Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. 
Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca." 

 Clarice Lispector

terça-feira, 6 de julho de 2021

O que levar




"Não te é permitido levar mais do que tens, e até o que trouxeste para a vida ao nascer aqui deverá ser deixado."

Sêneca

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Semiologia

 



Uma das acepções do dicionário sobre a palavra, me diz:

CLÍNICA MÉDICA

meio e modo de se examinar um doente, esp. de se verificarem os sinais e sintomas; propedêutica, semiótica, sintomatologia.

 

Pode ser saudosismo.

Antigamente, havia os médicos de família, que atendiam em casa, aplicavam injeções, faziam toda a anamnese e o exame físico e até mental do paciente, para estabelecer uma hipótese diagnóstica e começar um tratamento adequado. Não havia essas tecnologias de hoje, exames de imagens e muitos dos exames de sangue etc. Era necessário fazer um bom exame, colher uma boa história, tudo muito bem detalhado.

Há uma técnica por detrás disso tudo. Examina-se as mucosas, as ‘canelas’ do paciente, a pele, a musculatura, a vascularização dos dedos, as bulhas cardíacas, faz-se a ausculta pulmonar, não sem antes se observar a expansibilidade torácica durante a respiração, o frêmito tóraco-vocal, aquele em que o paciente diz “33”. Examina-se o abdome, palpa-se o fígado, o baço, as alças intestinais, a pelve, a região dos rins... Há que saber interpretar a percussão do abdome...Há igualmente uma técnica para se colher a história, sabendo direcioná-la, conforme a necessidade, para um sistema ou outro. Valorizar alguns sintomas, outros, nem tanto. Valorizar algumas falas, interpretá-las a busca de algum sintoma mental: ansiedade, depressão, delírios etc. Tudo, agora conjugado, fará um sentido no final.

Era preciso ter o conhecimento geral de todos os sistemas fisiológicos do corpo humano, e a correlação entre um e outro. Tinha-se também um feeling, muito mais do que se tem hoje.

Meu avô foi um desses médicos. O número do seu CRM, em Minas Gerais, era 11. Minha mãe aplicava injeções em vários de seus pacientes, que às vezes, muitas vezes, pagavam com galinhas e outros tipos de animais e tudo o mais que se pode imaginar. Sim, você me dirá, era uma outra época...

Hoje, de alguma forma, tenta-se resgatar aquilo tudo, com a especialidade do Médico de Família.

Com a tecnologia, as pesquisas, o conhecimento, tornou-se impossível saber de tudo. Com isso, aumentou o número de especializações e dividiu-se o homem em pedaços. Há especialistas em cirurgia do lóbulo da orelha direita.

Exageros à parte, há atualmente uma profusão de exames disponíveis, não só de imagens e de sangue, como outros tantos. Há uma corrida contra o tempo, pois há muitos pacientes para poucas horas de trabalho, digo, menos que o necessário – pois trabalha-se muito. Cobra-se produtividade, como se o homem fosse relegado a um produto, uma mercadoria...

Nesse ínterim, a meu ver, foi que a semiologia se perdeu em meio a tudo; ao invés de examinar detalhadamente meu paciente, peço os mais variados exames, colho a história meio que pela metade e ainda poderei me perder dentre todas as possibilidades de medicações e marcas, laboratórios que fazem sua propaganda me oferecendo amostras, seminários, viagens e outras coisas mais.

Diante de todo este contexto, a medicina alternativa e holística cresce, pois que volta seu olhar para o ‘todo’ do homem, inclusive o mental e o espiritual, a energia vital e tudo o mais. Já se reconhece as especialidades de acupuntura, homeopatia e outras. Seguem uma outra lógica. Pecam, a meu ver, também pela falta de um exame físico bem realizado como citado no início do texto e também pela falta de conhecimento clínico, o que pode ter o potencial de não se diagnosticar doenças que poderiam ter sido diagnosticadas em outras circunstâncias.

Não seria o caso de se reinventar a medicina atual? Um lado complementando o outro, mas o fundamental, o básico, a semiologia médica, não pode ser esquecido de forma alguma. Há que se dar um passo atrás. Olhar para a história, para o passado e para o futuro simultaneamente, há que se olhar para o homem, que nunca é só uma orelha, um corpo, um pedaço de carne, nem somente um espirito e uma mente.

Bem faz a minha cunhada, a Flavinha, que de certa forma deixou a clínica de lado em prol da educação dos novos médicos, lecionando o que hoje se chama Habilidades e Atitudes Médicas, antes, Semiologia Médica... tenho a certeza de que não é à toa que ela é sempre homenageada pelas diversas turmas que passam por ela.

Já não clinico há vários anos, não sou mais uma médica, no entanto, guardo ainda comigo o livro de Semiologia Médica, como uma relíquia. Não me esqueço dos dias de estágio na Santa Casa, em que meu professor nos mandava fazer a anamnese de 5 pacientes por dia, aleatórios, e o exame físico. Foi assim que aprendi semiologia. Já quase desconheço esta arte – porque é uma arte!

Nada como um profissional que olhe por nós como um todo, e valoriza os detalhes e as técnicas aperfeiçoadas durante tantos anos! Quem não quer ser atendido por um profissional assim?

Pois que a semiologia volte a ser valorizada como deve, e então os pedidos de exames até diminuirão e o raciocínio clínico poderá ser feito de uma forma realmente completa.

É o que penso, em não sendo mais médica.

Que os novos profissionais sejam educados de uma maneira inovadora e completa, nunca se esquecendo do lado humano da profissão, que deve, imprescindivelmente, ser posta em prática com amor, acima de tudo. Continuo achando que a Medicina é um sacerdócio.

Muito sucesso, Flavinha, que você se realize nesta empreitada!

 

Paula Mendes

01/07/2021

Globalização

 



As notícias, como em uma espiral, se repetem, mas sempre avançam um pouco mais; quero saber delas a todo momento. Quero e não quero, canso-me delas. Vivo num mundo globalizado em que somos notificados sobre tudo o que acontece nele, digo, no planeta Terra, e fora dele, quase no exato instante do fato em si. Custa-me acompanhar; por outro lado, há um desejo irrealizável de fazê-lo, ao mesmo tempo.

Tenho uma lista de livros para ler; não que precise, é que eu desejo. A lista, no entanto, cresce a cada dia e as páginas iniciais vão ficando à espera; dou-me a falsa impressão de estar progredindo quando começo a ler cinco ou seis livros ao mesmo tempo, depois disso o tempo não se faz suficiente. Quero ler Grande Sertão Veredas, como não li até hoje? Quero ler Mário Quintana, Fernando Pessoa. É meu desejo, também, chegar ao O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de Saramago. Há ainda Sri Prem Baba, há meu curso de Ascensão e Cura, há Clarice Lispector, há...

Faço, além disso, um curso na faculdade. Algo que me traz prazer, amo estudar, e ao mesmo tempo me toma grande parte do tempo do cotidiano; há provas e prazos, trabalhos. Por vezes acumulam-se ao se misturarem com os imprevistos que a vida nos apresenta, atropelo-me.

No curso de inglês, me inscrevi; já se passaram três ou quatro semanas e, com o acúmulo de atividades, não consegui passar da leitura dos slides da primeira aula. Perco-me. Voltar ao inglês é meu sonho.

Há ainda os cuidados da casa; da filha; há o tratamento dentário.

Há as horas em que durmo, excessivas; há os seriados na TV, que não quero deixar de seguir madrugada afora.

Há as pessoas com quem quero conversar, muitas, há as contas a pagar, assuntos a resolver dentro e fora de casa.

Na vida há que se ter prioridades, não há outro jeito... Deixar isto ou aquilo de lado. Não há como se ter tudo. Quando escolho um namorado, 'perco' todos os outros.  Entretanto, não posso namorar todos ao mesmo tempo. Pássaro na mão. Toda escolha traz uma perda.

Gostaria de me atualizar sobre certos temas em Medicina, profissão em que nem mesmo atuo, escolhi deixar de lado. A despeito disso, interessa-me. O que há de novo na Psiquiatria? Na Medicina alternativa?

Quero cinco minutos de meditação, três vezes ao dia.

Que será mais importante? Que deixarei de lado? O que é que é necessário, mesmo que não queira fazê-lo?

A vida é feita de escolhas. Tomamos decisões a todo momento, inclusive a decisão de não tomar decisões. O tempo corre, às vezes para. Mas a vida é curta para coisa tanta. Pra quê tanta correria, pra quê tanto estresse? Para acompanhar o mundo globalizado?

Se pudesse, faria todos os cursos de extensão que a faculdade me oferece. Abraçaria o mundo.

Deixa eu me acalmar, respirar e pensar. O que é que é mais importante?

Sem dúvida, a paz comigo mesma; a minha espiritualidade. O meu crescimento como pessoa. A minha solidariedade.

Sem dúvida, as relações, os afetos. Minha família. Sem sombra de dúvida.

Minha saúde mental; a saúde do corpo. Boas noites de sono, uma boa alimentação. A auto-aceitação, o amor próprio e o amor ao próximo. O amor ao planeta e a tudo o que vive.

O conhecimento, sim; é importante. Mas não vou dar conta de todo o conhecimento que o mundo oferece. Tenho que escolher, priorizar. Por onde vou, sem me estressar, e seguindo a linha que desejo?

Muita calma nessa hora.

Existe, ainda, a hora do ócio. É importante. Parece que não fazer nada é uma perda de tempo, pois o resto do mundo está sempre fazendo, fazendo, fazendo... ah! Pra quê tanta pressa? A vida corre, sim, mas tenho que sorvê-la aos poucos, aproveitar cada minuto, estar inteira naquilo que faço ou em que me envolvo. Há que se curtir cada passo. Do contrário, teremos corrido, teremos feito, refeito, nos perdido na falta de sentido.

Há que se ser genuíno, encontrar a essência, olhar para dentro; depois para fora, digo, para o outro. Para o mundo, para o planeta, com um olhar solidário. Estamos adoecidos. A cura está a um passo. Basta escolher. Para tanto, há que se olhar para si mesmo, escutar aquela voz que a globalização, de tão alta, abafou. Ela, a voz,  está bem aqui.

Calo-me. Silêncio!

 

Paula Mendes

01/07/2021

Costurando a vida! – Fica-te tão bem o dia que trazes. Onde é que o arranjaste? – Fui eu que fiz. Já me aborreciam os dias sempre iguais, se...