sábado, 17 de maio de 2025

QUEM SOU

Se me perguntarem quem sou, talvez eu me demore na resposta.
Não por não saber, mas porque carrego em mim tantas versões de mim mesmo.
Sou o menino que colecionava sonhos no bolso, o homem que aprendeu a escutar o silêncio e o poeta que vive entre as margens do sentir e do dizer.

Sou feito de instantes que ficaram,
de memórias que ainda ecoam no peito,
de gestos que nem sempre se explicam, mas dizem tudo.
Sou o que escrevo, mas também o que calo.
Sou o que ama, o que espera, o que se reconstrói depois das quedas.

Não me defino por um nome apenas,
mas pelos olhares que toquei,
pelas palavras que ofereci
e pelos caminhos onde deixei parte de mim.

Se me perguntarem quem sou, direi:
sou alguém em travessia,
buscando sempre o sentido mais profundo
das palavras, da vida, e do amor.

INTEIRO

“Um dia me disseram que a minha alma é antiga. E sim, nunca estive no tempo certo das coisas, nem das situações. A vida nem sempre me sorriu, mas eu insisti em plantar roseiras, ainda que o tempo não fosse favorável e a chuva não viesse. Tenho os meus dias de tempestades e, muitas vezes, precisei me quebrar pra me refazer de outro jeito. Mas eu trago em mim todos os sonhos do mundo, ainda escrevo cartas e encontro poesia em tudo o que vejo. Eu sou o inteiro de todos os pedaços que perdi.”

Luís César

domingo, 27 de abril de 2025

OU ISTO OU AQUILO

Ou isto ou aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão ,
Quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e não guardo o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
 
(Cecília Meireles--)

Obra via: Pinterest.

PASSARINHO NA GAIOLA (citações)

Dentre os poucos autores que conheço, Rubem Alves é o que mais gosta de falar de passarinhos. Na gaiola e fora dela, de várias maneiras. 
Amo Rubem Alves!
Algumas vezes, como Wando a cantar um refrão que se repete, sinto-me de forma bem semelhante:
“(...)Chora, coração!
Passarinho na gaiola, feito gente na prisão (...)”.
Minha gaiola, no entanto, traz sua porta aberta todo o tempo, o tempo todo.
“Somos assim: sonhamos o voo, mas tememos a altura”, diria Rubem Alves.
E de dentro da minha gaiola, penso: “Vai. E se der medo, vai com medo mesmo.” (Desconheço autoria). 
E que “arames farpados não intimidam passarinhos que sabem voar.” (Lídia Vasconcelos).
Mas será que ainda sei voar? Saberia? Será como andar de bicicleta? Perde-se o jeito, mas nunca se esquece como fazer? Seria como nadar?
Água, terra e ar...
“Nunca imaginei que um dia nasceriam asas em minhas cicatrizes” (Mauro Sérgio); mas elas nascem e ficam ali, esperando você processar aquilo tudo e resolver usá-las, alçar voo, mesmo que meio capenga no início. “Digerir” primeiro, antes de se exercitar.
Segundo Winston S. Churchill, “Medo é uma reação. Coragem é uma decisão” - no que concordo em gênero, número e grau. 
Tudo depende de como decidimos reagir à reação. E isso não passa de uma escolha, ímpar e individual.
Faço minhas, ainda, as palavras de Caio Fernando Abreu, quando diz que “coragem, às vezes, é aceitar doer inteiro até florir de novo.” É aceitar ficar “cansado de estar cansado, porque estar cansado é cansativo” (Snoopy) e, nesse ínterim, “eu que me aguente comigo e com os comigos de mim”, tal e qual Fernando Pessoa fazia.
Fico ali no meu poleiro, bem quietinha, a processar e elaborar tudo o que me acontece e a observar tudo o que ocorre à minha volta, fora da gaiola.
“Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é.” (Fernando Pessoa – poemas de Alberto Caeiro).
É. A vida é o que é, não adianta reclamação, rebeldia, negação, rebelião; não adianta querer mudar aquilo que se não pode, aquilo que se não controla. 
É aceitar e seguir adiante com o que se tem.
“Se a vida te oferece limões, faça com eles uma limonada”; ou uma caipirinha, sei lá. O importante é decidir o que fazer com eles, o que fazer deles. De repente, você resolve que vai fazer uma feijoada completa acompanhada pela bendita da caipirinha! E depois uma cervejinha pra acompanhar.
Tem aquela velha estória do copo ‘meio cheio’ ou do copo ‘meio vazio’ e sua escolha diante dela: “Não vemos as coisas como são. Vemos as coisas como somos.” (Anaïs Nin – escritora francesa). Nada mais verdadeiro. Seu modo de ver vem de dentro e de nenhum outro lugar.
Só sei que “eu sou o resultado de todas as vezes que não me permiti desistir.”  (Desconheço autoria). 
E não desistir, muitas vezes, significa desistir, na realidade – o que também exige bastante coragem! 
Desistir de querer isso ou aquilo, desistir de insistir e bater na mesma tecla, sabendo que ali o resultado será o mesmo, sempre.
Não desistir é estar disposto a mudar o rumo das coisas, é desistir de muitas delas.
Aprendo com a vida, na ‘boca’ de Lispector:
“(...) Que minha solidão me sirva de companhia.
Que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Que eu saiba ficar com o nada
E mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.” 
Que do meu poleiro, de dentro da minha gaiola, eu possa me sentir assim, para depois me sentir livre para sair dela e me lançar ao vento, à brisa das manhãs.
“Todas as manhãs ela deixa os sonhos na cama, acorda e põe sua roupa de viver.” – essa sou eu, essa somos todos nós, ainda em Lispector.
Vestir a roupa de viver, que coisa mais linda de se escrever!
Certa vez, há muito, quando havia deixado de estar acamada depois de dois árduos anos, comentei com Frei Cláudio Van Balen, que Deus o tenha, que com tudo aquilo com que estava me defrontando, me sentia livre de muitas coisas, tais como o julgamento alheio, o apego a bens materiais; livre para ser eu mesma, expressar minhas opiniões, livre para muito mais. Livre para mergulhar,  me atirar, me arremessar, me arremeter sobre o universo e viver plenamente aquilo que é espiritual, aquilo que é o mais importante e, afinal, nossa missão aqui na Terra.
Hoje já não me sinto bem assim, apesar de o desejar imensa e intensamente. 
Sinto-me presa em mim mesma, não apenas no corpo, mas também psiquicamente falando; meio que sem asas para voar, dentro dessa gaiola com portas abertas, escancaradas, me convidando a fazer parte do lado de fora, ativamente e ao mesmo tempo respeitando meus próprios limites.
Gostaria muito de poder voltar a dizer que “desde que minha vida saiu dos trilhos, sinto que posso ir a qualquer lugar.” (Zach Magiezi).
O voo é muito mais do que físico, é mental, é espiritual, é transcendente. O voo é superação, é mistério e também entendimento. É entrega e confiança. O voo é também um risco, um desafio a ser enfrentado. O voo exige coragem.
Na verdade, sei que posso e que isso não passa de uma fase que tem que ser vivida, atravessada, tal como o luto. É um luto, afinal, e uma luta interna ao mesmo tempo.
Luto para me encontrar e achar o equilíbrio entre o dentro e o fora da gaiola, quais são os fins, os objetivos de tudo isso; a meta é encontrar a paz, que é o mais importante; mais que a saúde, a meu ver. Claro, entretanto, que a desejo também, como aqueles brindes que se  fazem em família: “Saúde e paz!”.
“Experimento viver sem passado, sem presente e sem futuro e eis-me aqui, livre.” – é o que direi, passado tudo isto, juntamente com minha querida e amada Clarice Lispector!
“Se quer ser, é porque algo em você já é” (Pedro Salomão). Acredito nisso, verdadeiramente. Falou e disse.
E digo, repito, repito quantas vezes for, “sou sempre eu mesma, mas nunca a mesma para sempre.” (Lispector). Isso, nunca serei. 
Vivas sonoros à impermanência, à permanência da impermanência, à mudança, à “metamorfose ambulante” de Raul Seixas. 
Vivas ao medo de não mudar, que nos impulsiona para a frente e para o alto, para o voo, ainda que receoso, ansioso, tímido e que aos poucos vai se sentindo mais seguro e confiante para abrir suas asas e alcançar o horizonte, seu destino final.
Descolando-me, deslocando-me agora um pouco da literatura e das ‘frases feitas’, em que tudo já foi dito, ouso citar uma a mais: “O óbvio também precisa ser dito, visto e demonstrado”.
É óbvio, então, que não é nada fácil enfrentar as situações que a vida nos oferece;
É óbvio que temos que fazer escolhas diante delas, pensando em nós mesmos e em quem está ali ao nosso lado, oferecendo amor, apoio, suporte, cumplicidade, intimidade;
É óbvio que temos que aprender a olhar para o lado e não apenas para o nosso umbigo, sair um pouco de nós mesmos, de nossa gaiola, com empatia e amor, e oferecer tudo aquilo o que podemos, do jeito que for.
É óbvio que aprender a lidar com a vida de uma maneira saudável é tarefa difícil, mas necessária. E quando digo ‘saudável’, não quero dizer que se está sempre positivo, que não há altos e baixos, montanhas russas, tristezas, perdas, pois viver tudo isso com os pés no chão é uma forma saudável de se viver, é ser gente, acima de tudo. Nossa busca eterna.
É ser passarinho, sair de seu poleiro, atravessar a porta da gaiola, voar, pousar sobre um galho aconchegante e quem sabe fazer um ninho, ter passarinhos...
E vamos em frente, com todo o carinho!

Paula Mendes
26/04/2025

sexta-feira, 18 de abril de 2025

NA POESIA...

Entre o dizer e o sentir

Em português, dizemos: “Eu não sei o que fazer com a saudade.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Vago pelos espaços vazios onde a tua ausência repousa,  
e deixo que o silêncio se transforme em grito dentro de mim.”  

Em português, dizemos: “Quero esquecer.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Enterrei as tuas promessas no fundo da minha alma,  
mas a terra nunca soube tapar o eco das palavras que nunca se disseram.”  

Em português, dizemos: “Sinto-me partido.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“As fraturas do meu ser não se fecham,  
e cada pedaço quebrado carrega a marca da tua ausência.”  

Em português, dizemos: “Eu só queria que tudo fosse mais simples.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Dei corda a relógios que não sabem contar o tempo,  
e esperei que as horas se acomodassem ao ritmo do nosso amor que já se desfaz.”  

Em português, dizemos: “Espero que a vida te sorria.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Que o vento que toca o teu rosto seja suave,  
como o último suspiro que trocámos, nas sombras do lugar onde já não somos.”  

Em português, dizemos: “Não sei como perdoar.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Cravei-te no peito a dor de um amor que se despedaçou,  
e agora, cada batimento é um pedido de paz que nunca chega.”  

Em português, dizemos: “Eu queria voltar atrás.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Fiquei na fronteira entre o que desapareceu e o que jamais existiu,  
uma sombra no teu horizonte que permanece invisível.”  

Em português, dizemos: “Estou a tentar seguir em frente.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Cada passo que dou é um espelho quebrado,  
e a minha sombra ainda carrega o peso do que me foi arrancado.”  

Em português, dizemos: “Eu vou superar.”  
Mas na poesia, dizemos:  
“Juntei os pedaços da minha alma como se fossem fragmentos de vidro,  
sabendo que, por mais que tente, há partes de mim que nunca cicatrizam.”  

E assim, entre o português comum e o português poético,  
há uma linha ténue que se estende entre o dito e o não dito.  
O português comum diz o que a boca sabe de cor,  
enquanto o poético diz o que o coração aprendeu a esconder.  

O português comum se limita ao imediato, ao simples,  
mas o poético busca a alma das palavras,  
além daquilo que se vê, do que se toca, do que se sente.  
É na poesia que a saudade ganha peso,  
onde o silêncio se torna mais barulho que a palavra,  
onde o amor não cabe no corpo,  
e as feridas falam mais alto que os sorrisos.  

O português comum é prisioneiro do tempo,  
mas o poético vive entre os espaços,  
onde o passado e o futuro se tornam fragmentos  
e o presente se dissolve em metáforas.  
Porque, na poesia, a verdade nunca é só uma,  
é sempre o reflexo de todas as possíveis versões de nós mesmos.  

E é nessa diferença que encontramos a beleza:  
o português fala para ser entendido,  
o poético, para ser sentido.  

Poeta Estrábico

domingo, 13 de abril de 2025

LUTO

"A morte é um véu fino, quase transparente.
Para quem parte, um despertar.
Para quem fica, um tempo que se arrasta sem aquele riso, sem aquela voz.
O luto não é sobre quem foi, mas sobre quem ficou aprendendo a viver com a ausência,
A amar sem o toque.

O amor nunca morre.
Ele permanece na memória,
No cheiro que traz lembranças,
Na canção que nos encontra em um dia qualquer.
No jeito de preparar um café,
Nas palavras que repetimos sem perceber.

E um dia, entre um passo e outro, entre um suspiro e outro, a dor se transforma.
O que antes pesava feito pedra, passa a aquecer feito sol de fim de tarde.
Porque no fim das contas, ninguém parte completamente.
Quem amamos segue vivo dentro de nós—em cada gesto, em cada riso, em cada sussurro de vento que toca o rosto
E nos faz, por um segundo, sentir que nunca estivemos sós."

Desconheço autoria. ( Obs: reflitam e compartilhar).
Texto maravilhoso li, refletir e estou compartilhando.
#incentivar 
#psigeisalimadeoliveiraCRP:5/53793.

MEU VALOR, AUTOESTIMA

Aprendi a não implorar por atenção, amor ou respeito. Não quero estar na vida de ninguém por obrigação. 
Se eu tiver que explicar o meu valor, se tiver que convencer alguém a me amar, então esse não é o meu lugar. A vida é muito curta para desperdiçar energia com o que não é mútuo. Não tenho medo de envelhecer; Tenho medo de deixar de ser eu mesma para agradar aos outros. Neste ponto, escolho minha paz acima de qualquer coisa.”

Meryl Streep

QUEM SOU

Se me perguntarem quem sou, talvez eu me demore na resposta. Não por não saber, mas porque carrego em mim tantas versões de mim mesmo. Sou o...