quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

DICOTOMIA

Luz x escuridão;
Bem x mal;
Razão x emoção;
Tristeza x felicidade;
Amor x ódio; 
Princípio do prazer x princípio da realidade;
Pulsão de vida x pulsão de morte.
Assim por diante.
Somos ‘dicotômicos’, se é que existe este termo. Dentro em nós moram  luz e escuridão.
Segundo Freud - sucintamente falando - o princípio do prazer estaria nos ‘compensando’ ou evitando que enfrentássemos o sofrimento intrínseco da vida através da busca desmedida pelo prazer.
Ao contrário, o princípio da realidade construiria o adulto responsável, capaz de tolerar frustrações e adiar recompensas.
Somos dois em um; na verdade, muitos em um só. Únicos, ao mesmo tempo. Cada qual é cada qual e lida com porções diferentes destes princípios dentro de si, que se modificam a cada nova circunstância.
Trazemos em nós a pulsão de vida, relacionada à preservação e reprodução, relações de afeto etc. e ao mesmo tempo, trabalhando em conjunto, a pulsão de morte, que se relaciona à destruição, às vezes até mesmo agressão, dirigida a si mesmo e ao outro.
Somos o bem e o mal, 'tudo junto e misturado', não adianta disfarçar. Apesar da positividade tóxica em voga, todos sabem e podem admitir, ainda que internamente, que os dois lados aí estão, sobrepostos.
No momento encontro-me pré-diabética e hipertensa, tudo induzido pelo uso prolongado do corticoide.
Hoje passo a entender, ainda que minimamente, uma criança diabética em seu sofrimento de não poder comer aquelas guloseimas nas festinhas de aniversário de colegas da escola; lembro-me bem de um caso desses, de quando era criança. Levava ao choro e a um sofrimento imenso.
Se para mim tem sido tão difícil evitar certos alimentos, pois que sou uma ‘formiga doceira’, imagino para aquela criança. 
Daí já se colocam o princípio do prazer e o de realidade, a pulsão de vida, de autopreservação,  versus a pulsão de morte, que seria como que  ‘chutar o balde’, inclusive numa autossabotagem inconsciente, possivelmente. 
Difícil.
Somos dicotômicos.
Não podemos julgar o outro, já que não calçamos seus sapatos pelos percalços da vida. Fácil demais fazê-lo e, assim, evitar olhar para si mesmo.
A meu ver, as compulsões viriam do princípio do prazer, prazeres inadiáveis, e também estariam relacionadas à pulsão de morte.
Compro muito; poderia beber muito; depois de quatro pontes de safena, por exemplo, continuaria fazendo churrascos para comer a gordurinha da picanha; estou obesa, mas não deixo de comer tudo o que é calórico e ‘proibido’; estou diabética, mas não deixo de me refestelar com doces e carboidratos, disconforme com as orientações recebidas. 
Sei que todos podem me entender neste quesito.
Quanto à miastenia gravis, altos e baixos, flutuações da doença. Sempre que estou bem, melhor, quero aproveitar todo e cada momentinho que dou conta de viver e fazer - e acabo pecando por excesso, 
quer seja para me compensar pelas limitações anteriores, quer pelo desejo de viver o  prazer, como se a única oportunidade fosse aquela, e que não volta mais. 
Isso me leva um pouco além do que deveria ir e, em seguida, a uma piora já previsível diante da situação. 
Princípio do prazer, princípio da realidade; pulsão de vida, pulsão de morte. 
Excedo-me. Dificuldade de parar quando devo, respeitar meus próprios limites, talvez por imaginar que em um momento vindouro, próximo ou não, estarei limitada de alguma forma novamente. 
Altos e baixos, vivo a montanha russa de emoções e estados de disposição do corpo que mudam em um  mesmo dia, meio que à deriva e ao mesmo tempo tentando estar atenta às minhas próprias necessidades e instintos de autopreservação.
Não seria assim com todos nós?  Retórica.
É, o inconsciente nos leva a atitudes que nem sempre conseguimos entender e decifrar, mas que nem por isso deixam de existir. 
Luto por me tornar um adulto mais responsável e tolerante a frustrações, luto por aprender a adiar o prazer até um ponto possível e saudável, sem que me arrisque demais. Luto para ir “Além do Princípio do Prazer”.
Sou internada, recebo alta, me interno, desinterno, inquieta por dentro sem saber ao certo o que seria de minha própria responsabilidade e o quanto da evolução da doença, um dia bem, outro nem tanto. 
Não compreendemos tudo. Nada é matemático. 
Sinto-me responsável por atrair algum tipo de piora por meio de meus próprios pensamentos e energia; isso segundo a lei da atração, tão veiculada. 
Sinto-me culpada por não dar conta de melhorar, muitas vezes. Como se o que estivesse vivendo fosse porque estou atraindo. 
Culpada por não ter fé suficiente no ‘Deus do impossível’.
Acredito que tudo tem um propósito. E que talvez o impossível não esteja programado para o momento. 
Já o possível, este pode ser vivido e posso aprender a lidar com ele de formas bastante saudáveis, numa verdadeira pulsão de vida e dentro do princípio da realidade, responsavelmente.
Para que isso aconteça, a ajuda é imprescindível; a interna, essencial, o desejo de estar bem; e também a externa, tanto a profissional quanto a afetiva, tudo num conjunto que pode e deve conspirar a favor da vida, sem negar a escuridão que vive em nós.
Compliquei-me?
Pois é o que temos para hoje. 
Pensar.

Paula Mendes
18/01/25

SOBREVIVÊNCIA

Instinto.
Unhas e dentes
Raízes de um despenhadeiro. 
Desfiladeiro 
Abismo 
Precipício. 
Corda bamba,
Equilíbrio.
Mais um fôlego por favor;
Aguardar mais um período - 
Tudo isso vai passar.
Instinto de sobrevivência; 
Esperança, entrega,
Confiança.
Tentativas de acomodação; 
Adaptação. 
Tudo é possível dentro do possível. 
Há um jeitinho 
Há criatividade 
Há uma disposição  
Mesmo que flutuante; 
Há momentos 
E há momentos.
Normal. Normalíssimo.
Tudo dentro do esperado. 
Há cansaço,  tristeza, 
Há também gratidão. 
Mais um fôlego  
Mais uma respiração;  
Inspiração 
Expiração 
Ainda que com bipap.
Quero estudar.

Paula Mendes 
30/01/25

APRENDENDO A APRENDER - MISCELÂNEA


Sobre escolas, cicatrizes y otras cositas màs...

Já não escrevo há um tempinho; escrever, para mim, é fundamental. Me estrutura, me organiza, me renova a vida e a postura diante dela. 
Penso que vou escrever alguma coisa bem específica e acaba que sai algo muito diferente, na maioria das vezes. 
Sai o que tem dentro. Sai o que tem a esvaziar, ou preencher.
Estive pensando em escrever sobre a ansiedade, e sobre o ‘viver um dia de cada vez’; minha filha me disse que já escrevi sobre isso, o que não é mentira. 
Nada me impede, porém, de escrever sobre um mesmo tema visto por outro ângulo, sob uma nova ótica, ou até mesmo escrever sobre o mesmo ponto de vista de uma forma diferente. Enfim.
Vi numa série ou filme uma pessoa falando sobre a importância de aprender a aprender. Pano pra manga! No caso, tinha a ver com a escola.
Qual seria o papel da escola? Ensinar a aprender e não simplesmente ensinar, entregar tudo bem mastigadinho para que se guarde até que um dia aquilo seja esquecido e passe batido. Ensinar a buscar, aprofundar, investigar; a interessar-se e fazer interessar. 
Aprender com as provas, mesmo que se tenha errado nas respostas - que sempre podem ser relativas - tanto na escola quanto na vida, e sempre, sempre na escola da vida.
Pensei em escrever sobre a impermanência, já que a única coisa permanente na vida é a mudança... Aprendendo a evoluir com ela, aprendendo a aprender com elas, as mudanças...
Pensei em dizer que “prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.”
Pensei em escrever que não sou um saco de pancadas e que minha vida não se reduz a isto – e que basta eu não defini-la assim: 
não sou miastenia gravis, tenho miastenia gravis; 
Não sou fraqueza, tenho fraqueza(s) – e como! 
Muito menos sou uma fortaleza, apesar de ter meus momentos. Mas que não me engane com minha vulnerabilidade!
Que conviver com a dor, com a insônia, com a ansiedade, é algo; com o mal estar. Há uma ‘felicidade estrutural’, uma ‘alegria estrutural’ que não me deixa desistir jamais, mas que não esconde nem nega a dificuldade da vida de cada um de nós. Nada fácil.
Pensei em escrever sobre os labirintos, e que eles têm saídas possíveis de serem encontradas, mesmo que demandem inúmeras tentativas e erros, até que se aprende com o acerto - e com os próprios erros também. Aprende-se, mesmo que se esteja perdido. Os caminhos e os becos são vários, entradas sem saídas, e ainda bem que se pode voltar atrás e recomeçar. 
Tentativa e erro, o tempo vai passando e a gente vai amadurecendo e tentando não trilhar o mesmo caminho que não nos levou a nada, ou a algo não muito bom.
As cicatrizes, então, seriam a prova de que sobrevivemos.
“Às vezes eu escrevo umas poesias só
pra tirar a poeira do coração.” (Mauro Sérgio)
E, ainda que pareça clichê:
“Benditos sejam aqueles que transformam suas dores em aprendizado e seus espinhos em flores.
A vida é muito mais do que aparências.
O que sempre fica é a beleza que vem da alma!” (Paula Monteiro)
O fato é que a alma também tem suas feiuras, com as quais temos muito o que aprender, igualmente.
Só agora senti que começou o texto. Antes, apenas preliminares.
Aprender é sinônimo de apreender alguma coisa, absorver, experimentar, compreender, polir-se, capacitar-se, tentar, entre outros.
Bem o que quero da vida.
Minha vida não pode se resumir a um acidente de percurso que me deixou paralisada; pode ser muito mais que isso, e deve. 
O que tenho a tirar de tudo isso? Há coisas muito mais profundas do que um corpo limitado, se há uma mente, um pensamento, uma alma, um espírito a pulular por dentro e dar o tom e a cor de tudo o que se passa.
Aprender a aprender pode abrir precedentes para um futuro melhor. 
E não precisa ser exatamente ‘estudando’, mas por via da energia, do que se escolhe levar. Por via das dúvidas, ouve-se a intuição. Melhor forma de aprender, além de mais sutil e verdadeira. 
Por que cargas d’água ouvimos tão pouco nossa intuição? Por que perdemos o contato com ela? Com o nosso próprio interior, nossa própria voz, o nosso divino?
Parece que as demandas externas exigem mais e tomam nosso tempo de uma forma devastadora. 
É aprender com isso, aprender a desconstruir, é desaprender para apreender a realidade de uma forma diferente e mais saudável, mais leve, mais natural, mais simples.
É aprender a aprender com toda e qualquer situação ou circunstância da vida, independente de qual seja. Podemos nos apropriar deste conhecimento. Devemos.
Aprender com o exemplo alheio e com o nosso próprio, por que não? Nomeadamente, gostaria de citar meus pais, que aprendem com cada nova circunstância que a vida lhes apresenta, a Joana D’Arc, minha amiga e fiel escudeira, com o desapego com o qual vem evoluindo, a Eliamar, também amiga e fiel escudeira, com a disciplina com que alimenta sua vida, a Mirna, minha amiga de anos, com o mesmo diagnóstico ‘gravis’ que, aprendendo árabe, escreve de trás para diante, como da ‘morte’ para a vida, se é que me permite falar assim, com toda a criatividade, persistência, bom humor e dificuldades inenarráveis.
Aprendo, ainda, sem modéstia, com meu próprio exemplo; também com criatividade e persistência, não desisto nunca. Quero ser mãe de mim mesma, minha própria professora, além de muitos outros. Tenho meus desejos e planos; cursei Letras durante um ano e tive que parar por vários motivos, principalmente de saúde e financeiros, mas pretendo voltar e me formar. Não interessa quando. Quando puder, quando der. Dentro de expectativas possíveis, para evitar frustrações. Tento traçar planos dentro da realidade das limitações. E sempre disposta a revê-los, refazê-los.
“Se não conseguir realizar seus sonhos, não os jogue fora e nem desista deles. Guarde-os num compartimento do coração.
De vez em quando visite-os, tire o pó, regue, adube, afague e quando menos esperar...
Eles estarão prontos para se tornarem realidade!
Não importa o tempo que passar, em algum momento eles vão florescer.” (Sandra Liepkaln).
Afinal, pra quê a vida? Qual o sentido?
Aprender e ensinar, ensinar e aprender, acima de tudo compartilhar, somar com ternura e afeto, empatia, compreensão.
Que aprendamos a ser cada vez mais humanos, é o que a vida quer de nós.
Texto meio que brainstorm, não é mesmo? Meio esquisito? 
Bem, é o que temos para hoje!

Paula Mendes
07/02/2025

Poeta - maneira de ser

Ser poeta não é uma maneira de escrever. 
É uma maneira de ser. 
O leitor de poesía é também um poeta.

     Mário Quintana

(*) Nota: Mário Quintana, in "Viver e escrever" v 1. Porto Alegre,  Editora: L&PM, 2008.

"ASSIM SOU EU"

"Assim sou eu
Forte porque eu me reinvento todos os dias.
Intensa por sempre colocar demais de mim.
Inquieta em procurar sempre mais.
Instável porque vagueei entre dias cinzentos e de pleno sol.
Rebelde porque não gosto de regras.
Sonhadora para que a realidade não me mate
Afiada quando me ferem.
Amorosa quando sou amada.
Louca por decisão.
Às vezes fria por opção.
Em pleno crescimento, embora eu tenha uma certa idade.
Corajosa por dignidade. "

MARTHA MEDEIROS

“Fiquei sem paciência! Tirei tudo de dentro do armário e fui jogando no chão: paixões escondidas, desejos reprimidos… Mas lá havia outras coisas... belas! Uma lua cor de prata... os abraços... aquela gargalhada no cinema, o primeiro beijo... o pôr do sol... uma noite de amor. Coloquei nas gavetas de baixo lembranças da infância; em cima, as de minha juventude, e... pendurado bem à minha frente, coloquei a minha capacidade de amar... e de recomeçar...”

Martha Medeiros

RUBEM ALVES

Rezam meus olhos quando contemplo a beleza.

_______ Rubem Alves
Aroma de Poesia 

REGRAS SOCIAIS QUE PODEM LHE AJUDAR


1 - Não ligue para alguém mais de duas vezes seguidas. Se ele não atender sua ligação, presuma que ele tem algo importante para fazer. 
2 - Devolva o dinheiro emprestado antes mesmo que a pessoa que o emprestou se lembre ou peça. Mostre sua integridade e caráter. O mesmo acontece com guarda-chuvas, canetas e outros itens. 
3 - Nunca peça o prato caro do cardápio quando alguém está lhe dando almoço ou jantar. 
4 - Não faça perguntas constrangedoras como: Então, você ainda não se casou? Você não tem filhos? Por que você não comprou uma casa? ou Por que você não comprou um carro? Pelo amor de Deus, não é problema seu. 
5 - Abra sempre a porta para a pessoa que vem atrás de você. Não importa se é menino ou menina, homem ou jovem. Não faz de você pequeno tratar alguém bem em público. 
6 - Se você pegar um táxi com um amigo e pagar agora, tente pagar na próxima vez. 
7 - Respeite os diferentes matizes. Lembre-se o que 6 é para você, vai parecer 9 para alguém na sua frente. Também a segunda opinião é boa para uma alternativa. 
8 - Nunca interrompa as pessoas quando estiverem falando. Deixe-os derramar. Como eles dizem, ouça todos eles e filtre todos eles. 
9 - Se você tira sarro de alguém e parece que não gosta, pare e nunca mais faça isso. Incentive outra pessoa a não fazer isso e mostre a ela o quanto você a aprecia. 
10 - Diga "Obrigado" quando alguém estiver ajudando. 
11 - O elogio é público, a crítica é privada. 
12 - Quase nunca há motivo para comentar o peso de alguém. Apenas diga: "Você está fantástica". Se a pessoa quiser falar sobre perder peso, ela o fará. 
13 - Quando alguém lhe mostrar uma foto no celular, não deslize para a esquerda ou para a direita. Você nunca sabe o que vem a seguir, tenha respeito. 
14 - Se um amigo lhe disser que tem uma consulta médica, não pergunte por quê? Apenas diga: "Espero que você esteja bem". Não o coloque na posição embaraçosa de ter que lhe contar sua doença pessoal, se ele quiser que você saiba, ele o informará sem sua curiosidade.
15 - Tratar o zelador, o faxineiro, o pedreiro, o coletor de lixo, os sem-teto com o mesmo respeito que um empresário, gerente ou funcionário. Ninguém fica impressionado com o quão rude você pode tratar alguém. Mas as pessoas vão notar se você tratá-lo com respeito. A aparência é apenas aparência, seja sábio, a realidade é invisível aos olhos da maioria das pessoas no mundo.
16 - Se uma pessoa está falando diretamente com você, olhar para o seu telefone é rude. 
17 - Nunca dê conselhos até que eles peçam. 
18 - Quando você conhece alguém depois de muito tempo, a menos que queira falar sobre isso. Não pergunte a idade e salário. 
19 - Tire os óculos de sol se estiver conversando com alguém na rua. Isso é um sinal de respeito. É por isso que o contato visual é tão importante quanto o seu discurso. 
20 - Nunca fale de riqueza no meio dos pobres. Da mesma forma, não fale de crianças em meio ao estéril.

SENTIDOS

SENTIDOS

À procura.
Sentido da vida. 
Quem não?
Quem exatamente sou eu, e para quê estou aqui? Por que o passado, por que o presente e que será do futuro? Do nosso...
Acho que devo me perguntar o para quê e não o porquê.
Meus sentidos me guiam, me norteiam, por vezes me atrapalham. Temos 6 deles? Visão, audição, paladar, olfato, tato; e intuição - talvez o mais importante deles? Famoso sexto sentido.
Trazemos na alma uma sensibilidade, uma percepção mais apurada que somente ao nos conectarmos com o universo podemos sentir. Os outros sentidos são físicos; coisa que, acamada do jeito que estou, tendo a relevar um pouco, a transcender e buscar. 
Sentidos. Teríamos o sétimo, o oitavo? Com toda a certeza.
Deparo-me com um novo modo sentido de ser. Dividido. Venho sentindo. 
Pareço sorumbática? Sim, tem hora que sim.
Qual o sentido de tudo isso? Um mistério. Ninguém sabe ao certo responder. Quem tem fé tenta achar uma resposta, que sim, tudo teria um propósito e que talvez não o estejamos enxergando claramente naquelas circunstâncias. 
Verdade seja dita, quem é aquele que tem fé o tempo todo? Bem o quereríamos, bem o desejamos! 
Duvidamos, questionamos, e por que não? 
É isso um dos combustíveis para continuarmos.  
De nada temos – nem teremos – certeza, e isso é bom. Conduz a um próximo passo. Num outro plano, talvez, a alcancemos.
Tenho cá meus desejos; vontade de fazer as coisas, sim. No entanto, dependente. Tenho que pedir um copo d’água. 
Adapto-me, pois não sou quadrada, sou esférica; não sou geometria simplesmente, mas geometria espacial; ocupo espaço, sou corpo, tridimensional ou mais, consigo me deslocar para todos os lados, tenho inércia, aquilo que me faz me manter no mesmo movimento e sentido, gravidade em todos os sentidos, brincadeira também. Seriedade e risos.
Sou redonda como a Terra. Elíptica. Sou um Universo. Tenho um buraco negro que me suga em mim mesma; desfaço-me e me refaço. Estrela que morre cuja luz ainda se vê mesmo depois; estrela que nasce. Vida que se renova, juntamente com novas perguntas, novos arremedos de respostas.
Desejos frustrados. Baixar as expectativas? Alinhá-las.
“Fé é não ter certeza de nada e ainda assim acreditar em tudo que Deus possa vir a fazer por você.
É seguir o caminho que Ele traçar, sem retroagir, sem perder o foco, acreditando. 
É ver as portas abertas quando elas ainda estão fechadas.
É rasgar a alma e o coração, ofertando ao Divino Poder em crença e gratidão.
Acima de tudo, deixar o amor e a esperança germinarem no coração”.
Recebi de uma amiga.
Dizem que o que acontece externamente reflete o que vai por dentro. Esta fala me divide sobremaneira. Sinto-me culpada. Sou eu que estou causando tudo isso? Complicando tudo o que tem sido complicado? Que parte tenho nesse todo? Que parte o destino, que parte Deus, que parte o livre arbítrio, que parte o carma? Consequências do que plantei? A vida me parou? O que não estou aprendendo? Ou: o que estou aprendendo?
Então, se eu mudar o que vai dentro de mim, mudo o que está fora?  Em que sentido?
Acho que não apenas fisicamente.
Tenho uma alma, um espírito. Acredito que estou aqui para ser um instrumento; posso até não estar conseguindo, não estar conectada, sintonizada, harmônica, mas acredito realmente nisso. Para isso estaríamos todos neste plano.
De uma oração, “(...)creio que meu propósito final é Te expressar(...)”
É o que creio. Professo minha fé. Nem por isso, deixo de tê-la em muitos momentos.
Acredito também nas pessoas que não a têm e expressam o amor muito, muito mais verdadeira e intensamente do que muitos que professam uma delas.
Dogmas. Religião. Religiões. Gaiolas, como diria Rubem Alves.
Para mim, há o Amor e a vivência dele, independente do nome. Solidariedade, empatia etc.
Taí o sentido. Acho que achei.
Estou acamada. Tenho que pedir um copo d’água. Qual o sentido? 
Pois é. Vai muito além disso.
Eu que me vire para ser instrumento. O que faço com isso? O que estou fazendo com isso? O que tenho que fazer com isso?
Criatividade é pra essas coisas.
Ou: o que estou deixando de fazer com isso? Pergunto. Naquilo que depende exclusivamente de mim, poderia eu estar em outra situação? O que não estou enxergando? O que a vida está me mostrando, escancarada e eu, ceguinha de tudo?
Tento sair de mim mesma e me enxergar de fora, do alto, sei lá. Exercício recomendado a todos. 
Não somos nosso próprio umbigo. Somos um todo. Um universo. Somos um universo à parte, único, mas também um universo ao todo, a humanidade, o planeta, o sistema solar, a galáxia etc. etc. etc. Não temos noção.
Somos sem noção.
Contamos, entretanto, com a intuição (rimou, né?!), com nossos próprios sentidos a nos nortear o sentido. 
Que nos falhe a audição, a visão, mas não a noção trazida por esta fagulha que arde dentro de nós.
O sentido da vida. A busca por ele.
A busca por Ele.
São 04:25.
Dorme com um barulho desse!

Paula Mendes
22/02/25

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

CECÍLIA MEIRELLES - "P"

"P tem papo
o P tem pé.
É o P que pia?
(Piu!)
Quem é?
O P não pia:
o P não é.
O P só tem papo
e pé.
Será o sapo?
O sapo não é.
(Piu!)
É o passarinho
que fez seu ninho
no sapé.
Pio com papo.
Pio com pé.
Piu-piu-piu:
Passarinho.
Passarinho
no sapé."
Cecília Meireles

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

COISAS QUE EU NÃO ESCOLHI

“Houve mil coisas que eu não escolhi. 
Chegaram de repente, sem aviso, e transformaram a minha vida para sempre.
 Coisas boas e ruins, que eu nunca procurei, mas que me encontraram, mudando o rumo dos meus dias. 
Foram caminhos que perdi, uma vida que não esperava viver. 
Mas, se não pude escolher o que veio, eu escolhi como enfrentá-lo. Escolhi sonhos para colorir meus dias, esperança para sustentar minha alma, e coragem para desafiar o inevitável. Porque viver é isso: não controlar o que chega, mas decidir como permanecer de pé.”
_________
Rudyard Kipling

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

MIA COUTO

(...) Todos me falavam da sua beleza. Mas ela não gostava de ser bela. A avó sempre respondia: se eu sou bela então maldita seja a beleza! Era assim que ela falava. A beleza,
dizia, era uma gaiola que o avô inventara para ela ser pássaro. Um desses pássaros que canta mesmo em cativeiro.
E o engano dessas aves é acreditar que o céu fica do lado de dentro da gaiola.

(Mia Couto In: "A Chuva Pasmada")

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

CÃES

Os cães nos ensinam, sem palavras, o verdadeiro significado da simplicidade. Eles não se prendem ao passado nem se preocupam com o futuro—apenas vivem, intensamente, cada instante. Encontram alegria em pequenas coisas: um olhar, um afago, a simples presença de quem amam. Sem exigir muito, eles nos mostram que a felicidade está no agora, nos momentos descomplicados, na gratidão pelo que já temos. Com eles, aprendemos que a vida pode ser mais leve quando deixamos de lado o excesso de preocupações e apenas sentimos.

Sunshine Sunshine 
Post by Isa 

FELICIDADE

“Felicidade não é um tapete de flores que a vida estende para que você passe. 
É um conjunto de miúdas flores que você colhe ao longo do caminho.”
                   ____Edna Frigato

domingo, 2 de fevereiro de 2025

VALER A PENA - R. ALVES

"Quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços,
Que não se encanta com triunfos,
não se considera eleita antes da hora,
Não foge de sua mortalidade,
Defende a dignidade dos marginalizados,
E deseja tão somente andar ao lado do que é justo.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena."

Rubem Alves


Seiscentos e Sessenta e Seis A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas: há tempo... Quando se ...