domingo, 26 de abril de 2020

Esperança



ESPERANÇA. VIDA. VONTADE DE VIVER. AMOR.
Estas palavras permeiam a vida de nossa família. Acho que fomos muito bem criados.
Meu irmão teve um câncer de testículo em mil novecentos e batatinha, e não sabíamos como lidar com isso. Minha mãe “descabelou”, eu me deprimi, não estávamos preparadas, e o Henrique tirou tudo de letra! Nunca reclamou de nada durante o tratamento e manteve o bom humor de sempre, muito ímpar e idiossincrático dele, todo o tempo. Um grande exemplo para nós. É claro, óbvio, que iam muitas coisas lá dentro de sua cabecinha, não é nada fácil lidar com uma doença grave e inesperada, mas ele nunca demonstrou um sentimento negativo. Aparentemente, lidou muito bem com toda a história. Deu a volta por cima e ainda teve dois filhos pra fechar com chave de ouro!
Em 2003 foi minha vez. Adoeci com uma enfermidade crônica, que me deixou dois anos acamada. Hoje convivo com ela, com seus altos e baixos, mas me mantenho no alto do salto. Muito aprendi com tudo isso. E o foco se deslocou da doença, para a saúde – o que faz TODA a diferença!
Minha mãe adquiriu um tumor há 6 ou 7 anos. Foi um câncer de mama agressivo e raro. Submeteu-se a cirurgia, quimio, radio. Teve uma metástase pulmonar, e mais uma. Agora lhe apareceu outra, desta vez, renal (o que é muito raro, de novo,  nestes casos) e vai se operar na próxima terça-feira. Minha mãe consegue ser única até mesmo nesses casos. Transformou-se em uma doença crônica, com a qual lidamos também, com seus altos e baixos. A saúde mental é essencial nesses momentos. Ela, apesar da ansiedade á flor da pele, é uma mulher cheia de vida, de força e de vontade de viver.
Estive conversando com meu amigo Cláudio que, aliás, foi meu primeiro namorado. Amizade de 40 anos, por enquanto. Sua esposa teve também um câncer de mama, sobre o qual ele me escreve: “(...) Tô meio de saco cheio, mas muito agradecido com essa história de caso raro que os médicos falam... Com a D... foi o mesmo. Ela teve outro nódulo, que nem sei se consideram metástase, pois foi em cima da clavícula, no mesmo lado do seio original. Aí vem essa conversa....argh!! Bem, ela operou, o cirurgião acha que tirou tudo e vida que segue. Até agora foram 17 anos e oito operações!! Pra mim, maravilha, pois está bem de saúde, f@*!# estatística...rsrs... Como eu falo para ela: que venham! A gente vai tirando e pronto!! Gente em diálise sofre mais, eu imagino.”
A gente sempre vê por aí a expressão “está lutando contra o câncer”... É uma expressão que não deixa de ser verdadeira, mas dá uma  impressão tão ruim para quem está deste lado da moeda!... De fatalidade, o que inúmeras vezes não é o que acontece! E a esperança tem que se sobrepor a tudo isso! Pois bem, os médicos a consideram como doença crônica neste caso, que é como a minha e a de inúmeras outras pessoas que padecem de dor crônica, depressão, insuficiência renal, diabetes, hipertensão e etc. Deixemos o estigma de lado!
O importante é a VIDA e o modo como a vivemos. Não temos garantias de nada, apenas oportunidades, e devemos agarrá-las com unhas e dentes em todas as circunstâncias. Estou falando de empregos, namorados, amizades e tudo o mais!!
Dentre as coisas que aprendi, algumas são:
- Celebre sempre a vida, a cada amanhecer;
- Seja sempre grato, em qualquer circunstância; há o que se aprender, incessantemente, e sempre há o lado positivo, independente da situação;
- Esteja inteiro em tudo o que faz, dê o melhor de si, mesmo que ninguém esteja olhando. Faça isso por si mesmo, a começar por arrumar sua própria cama;
- Tome conta de seus pensamentos, corrija-se, pense coisas boas e conserve a alegria; isso faz toda a diferença em suas células e nas respostas do seu organismo;
- Ouça música, cante e dance! Solte-se e aproveite os pequenos prazeres que a vida lhe oferece;
- Procure não reclamar. A resiliência não é uma simples resignação; é a aceitação das circunstâncias, porém de uma forma ativa;
- Indigne-se. Perante a injustiça, perante a política mal feita, perante os maus tratos e a falta de direitos. Não seja como o sapo que, colocado na panela com água fria, não percebe à medida que ela vai se aquecendo e morre cozido... não se acostume com as coisas ruins;
- Elogie sempre e demonstre o seu amor. Valorize, respeite e incentive as pessoas à sua volta;
- Procure ajuda quando necessitar;
- Perdoe-se; você nem sempre soube do que sabe hoje;
- Acesse seu poder interior. Você é capaz de tudo. Este poder foi dado por Deus, é a Centelha Divina dentro de você, acredite. Abra-se para receber do Universo. Mas faça a sua parte, dê também. Não porque espera receber em troca, mas por amor, simplesmente;
- Isso também vai passar!

Isso tudo não vale apenas para uma doença crônica, vale para a vida de todos nós. Cada um sabe onde o sapato lhe aperta, e a vida não é fácil para ninguém. Não existe “esse” que não tenha seus problemas e suas dificuldades.
Por outro lado, a vida é Bela. Há o amor, em todas as suas formas. Há a solidariedade. Há a natureza, em toda a sua beleza e exuberância. Há a arte, em infinitas modalidades. Há o trabalho e o propósito da vida de cada um. Cada um tem seus talentos, e deve usá-los e valorizá-los.
E, ainda por um outro ponto de vista, a vida é efêmera. Fugaz. Viva-a! Não sabemos o dia de amanhã, por isso mesmo o hoje é um presente. Desfrute-o.
Gosto muito da Clarice Lispector. Quem já foi ao meu blog não guarda um resquício de dúvida a esse respeito. Finalizo, então, com uma fala da escritora, para todos nós.


Paula Mendes
26/04/2020





9 comentários:

  1. Que lindo minha 🌺. Família maravilhosa, presente que a Deus nos deu. Um exemplo de vida. Amo vcs demais da conta. ❤

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  2. Querida dessa vez vc se superou.
    Texto belíssimo e verdadeiro.
    História de sua família linda, que ama demais a vida, não se deixa abater por nada. Tiram tudo de letra e servem de exemplo pra todos que têm o prazer de conviver com vcs. Rejane

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    1. Obrigada, querida!
      É um imenso prazer conviver com vc também!!

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  3. Família linda e abençoada, vcs vão tirar mais está de letra. Admiro muito vcs.

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