sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Acumular vazios...




Tenho dezesseis camisas

Oito pares de tênis

Tenho vinte e três blusas
de lã, mas nenhuma tem o
calor do meu próprio abraço

Dezesseis calças, dezesseis
camisas e uma paralisia na alma

Oito pares de tênis que não
me dizem qual caminho seguir

Dizem que precisamos do telefone
novo, mas talvez precisemos
somente de um aparelho que
traga uma querida voz antiga

O acúmulo de coisas
é acumular vazios

Zack Magiezi, poeta





Todos nós, seres humanos, carregamos um vazio na alma; ou uma sensação de vazio.
Cada um de nós procura encontrar a melhor maneira de lidar com ele.
Para esta sensação, há variadas explicações. As religiões entendem assim, a psicanálise, assado.
O fato é que ela existe em nós, em nem sempre conseguimos lidar com ela da melhor maneira. Seguimos em busca da melhor solução.
Busco o meu celular o tempo inteiro. As redes sociais. Me satisfaço com não sei quantas curtidas.
Sou vaidoso. Busco sempre a aprovação do outro. Isso preenche o vácuo.
Busco no alimento a satisfação daquilo que me arrebata e que não compreendo. Abro a geladeira o dia todo, vou a restaurantes e lanchonetes, faço pedidos no ifood.
Faço compras; compulsivamente. Compro de tudo. Coisas de que não preciso e que não me satisfazem, a não ser na efemeridade do momento.
Tenho relacionamentos em série. Casamentos quase a se perder a conta. Namoros. Ficadas. Tenho seis peguetes numa noite só.
Bebo. Fumo. Quase recorro a drogas, ou recorro. Uso medicamentos em excesso. Ansiolíticos, antidepressivos, medico minha hipocondria.
Tento não ficar solitário, com uma companhia inadequada. Que nada me acrescenta. Mas assim,não  ouço o meu vazio.

Somos seres complicados! Auto-sabotáveis...

O vazio está posto.
Acredito, entretanto, que há maneiras saudáveis de lidar com ele, a começar por assumir e aceitar a sua existência.
Uso meu dom. Aquele talento que me é peculiar. Aquilo que dá sentido à vida, aos relacionamentos, aquilo que faz o tempo voar sem que eu perceba. Aquilo que me apaixona e a que dou valor. Aquilo que não tem preço.
Crio relacionamentos ricos, saudáveis, positivos, maduros. Dialogo. Troco. Compartilho.
Procuro encontrar meus amigos.
Me dedico ao trabalho.
Cuido de mim. Cuido de você.
Faço meditação, procuro me encontrar em mim mesmo.
Faço exercícios físicos, mas não em excesso. Todo excesso busca o preenchimento de um nada.
Busco me equilibrar.
Durmo bem. Mantenho o humor.
Fico sozinho também. Comigo mesmo. Busco minha espiritualidade. Minha saúde.
Faço o que me dá prazer, no entanto não a ponto de me trazer dívidas, ou quilos a mais. Ou uma ressaca. Nada de que minha consciência possa reclamar mais tarde, enquanto tento conciliar o sono.
Faço terapia.
Respeito o que é alheio a mim; o outro e suas escolhas.

"O acúmulo de coisas
é acumular vazios."

Não é o que pretendo.
Pretendo lidar bem com meu vazio. E o seu.
Assim segue a vida, à procura de sentido. Em metamorfose eterna. O que respondo hoje, traz uma nova pergunta para amanhã, uma nova busca. E a minha evolução.
Não é o que dá sentido?
Por isso, me perdôo. E tento não cometer os mesmos erros e repetições.
Reinvento-me.
Um brinde às nossas buscas!!
Um brinde ao vazio, que me impulsiona para a frente e para cima!!
Sei que sempre estará lá...

Paula Mendes
01/09/2019

4 comentários:

  1. Eu tenho(?) Muitas coisas.
    Mas essas coisas não me têm.
    Também tenho quem me ame
    E eu amo quem me ama.
    Essa é a diferença.

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  2. Meu Deus! Que texto lindo!
    Vc é danadinha, heim menina.
    Li com tanta avidez que não consegui me ver dentro dele.
    Vou ler mais vezes pra chegar a uma conclusão. Rejane

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