ESPERANÇA
A esperança é verde, de
vários tons de verde. Verde bandeira, verde clarinho, verde água, verde musgo e
até 'verde calcinha', se é que isso existe.
A esperança é nossa
natureza.
Combinada ao marrom do
tronco das árvores e também do pelo dos animais. Combinada ao marrom das
pequenas pedrinhas que visualizo sob meus pés mergulhados em um pequeno riacho
de águas claras e mínimos peixinhos.
As pedras são de um
marrom de multitonalidade e multitamanhos.
Piso nelas e sinto-lhes
uma resistência que machuca, apesar de sua beleza.
Tento simbolizar.
Obstáculos, desafios.
Mas então de onde viria
a beleza? Talvez da nossa natureza, da descoberta de que as coisas são o que
são, sem julgamentos. Da possibilidade de crescimento. Tudo está onde deveria
estar.
O riacho, por sua
natureza, corre para o rio, onde se encontram peixes maiores e uma correnteza
que, quase como um ímã, se dirige ao mar.
Aí a benventurança, a
esperança de poder pular ondas em uma água morna e refazedora, revigorante.
No mar de nossas
fantasias, a esperança.
Não faço planos como costumava,
pois tantos não se podem cumprir e me restaria a frustração. Não.
Enxergo perspectivas,
alternativas, tento concebê-las cria-las. Possibilidades palpáveis.
Há pouco consegui dar
cinco passinhos sem me segurar a ninguém.
Com supervisão, naturalmente - mas ao mesmo tempo segura de mim também.
Deus, mas que
felicidade!
Juntamente com isso,
tive que baixar a pressão do bipap. Boas
novas! Sinais de melhora.
Ainda me encontro
bastante fraca, ainda não consigo conversar sem me cansar, fazer um leve
esforço sem me mostrar ofegante e com a musculatura cansada a pequenos
movimentos.
Olhando assim, ninguém
fala; parece que não tenho nada.
A miastenia não fica
assim, visível, exceto em alguns casos.
MAS há a melhora a se insinuar.
A dúvida era se
aconteceu pela interrupção de um psicotrópico (ao mesmo tempo ansiolítico,
antidepressivo, estabilizador do humor e sonífero) - será que, como inúmeros
medicamentos na miastenia, estava contribuindo para piorar os sintomas?
O fato é que a melhora
coincidiu com a conclusão de um diagnóstico, uma infecção arrastada e o início
de seu tratamento. Como variados medicamentos, qualquer infecção pode piorar
também os sintomas da miastenia.
No caso, uma
'esporotricose'. Causada por um fungo que é encontrado no ambiente e que pode
ser transmitido por arranhadura de animais, principalmente gatos, mas também
cachorros etc. Ou pode-se inalar seus esporos.
Apareceu-me no final do
ano passado um pequeno nódulo no cotovelo, depois outros satélites, com aumento
de seu número e tamanho.
A cultura realizada
depois da biópsia encontrou o dito, que já está sendo tratado por tempo
indefinido, devido à imunossupressão.
Será que os sintomas
pioraram por causa dessa infecção? Será que começaram a melhorar por causa
desse tratamento? (Especulo).
O fato é que diante
disso pudemos tentar reduzir, depois de um loongo período, a dose do
corticoide. Vai que cola!
Reduz o inchaço, o
apetite, a glicemia e tantos outros efeitos.
Estou um pouco de luto,
pois não posso mais ter contato com a Mel, que gosta de me arranhar pra chamar
pra brincar. O luto é provocado por qualquer perda significativa, não apenas a
morte. Sigamos.
Adaptamo-nos a tudo,
não somos quadrados. Eu, atualmente, uma
‘bolinha’ (risos sérios).
Perspectivas de
mudança, de esperança.
E a ansiedade a toque
de caixa, que não me facilita dormir ou parar de especular. Tudo ao mesmo
tempo. Paciência. Diante dessa melhora, há de dar uma arrefecida.
Fácil falar:
ENTREGO,
CONFIO,
ACEITO E
AGRADEÇO.
Mas também não me furto
a desempenhar meu papel.
sou ativa, não passiva.
Resiliente, não
resignada.
Também tomo parte no
meu destino.
Porém, como diz o Murilo,
"regidos pelo eterno e imutável".
Regidos também pela
transmutação da luz violeta, pela cura da luz verde, pela conspiração do Universo
em nosso favor.
Basta acreditar, fazer
nossa parte.
As coisas são o que
são, de nada adianta brigar com elas.
No entanto, há que se
ter esperança. Acho que ela move o mundo.
E vamos em frente!
Paula Mendes, na calada
da noite.
01/07/2024