Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."
Fernando Pessoa
Cada um, e todos, teriam sua própria casinha, parecida com sua personalidade e seus gostos. Não haveria muros, ou cercas. Haveria jardins. Tudo bem se quisessem morar num apartamento. A vizinhança seria sempre gentil e solícita, de dentro para fora. A paz reinaria nos lares, assim como o diálogo. Junto com ele, o respeito mútuo, a empatia e a tolerância. A solidariedade daria o tom. De dentro para fora, dos lares para a rua, o bairro, a cidade, o estado, o país. Solidariedade entre povos, raças e países. Não se saberia ao certo o que é discriminação, a não ser de se ouvir falar de um passado longínquo. Todos seriam iguais. Todos seriam diferentes. Cada qual seria o que é. As profissões seriam igualmente valorizadas, desde o servidor da limpeza urbana até o juiz e o presidente. Não haveria corrupção e, sim, honestidade, seriedade e dedicação por parte da gestão pública. Haveria consciência para com o meio ambiente. Em todos os sentidos. Os materiais poderiam ser todos recicláveis ou biodegradáveis. Não se consumiria animais. A vida selvagem seria respeitada, assim como todos os outros animais, domésticos ou não. Fauna e flora, biomas. O transporte público seria bem melhor, e preferível ao particular, de várias formas. No centro das cidades não haveria veículos particulares. Nem lixo nas ruas. Cada um cuidaria de seu ambiente com zelo. Haveria amor, em todas as suas manifestações e nuances. A camada de ozônio seria reconstituída e não haveria poluição. De nenhum tipo. Não haveria preguiça no sentido pejorativo da palavra , muito menos esperteza. A violência simplesmente não existiria. A beleza reinaria. Valorização da beleza interna. Os idosos seriam igualmente valorizados e respeitados, carinhosamente cuidados. Os professores também. Haveria educação de qualidade para todos, acesso a pesquisas e etc. Cada qual em sua área de interesse e satisfação pessoal, em prol de toda uma população. As condições de saúde seriam melhores e se viveria mais e melhor, já que não haveria agrotóxicos e afins e todos teriam o acesso necessário a bons profissionais de saúde e medicação, hospitais etc. Saneamento básico e tratamento de água e esgoto para toda a população do mundo, sem exceção. Um nação ajudaria a outra em que quer que necessitasse. Não haveria medo. As pessoas dormiriam de portas destrancadas, sem perigo algum. Não se faria uso de drogas, nem venda. Tampouco de armas. O bem comum seria a meta. A religião seria o amor. Não haveria aquecimento global e suas consequências. Tudo até que certo dia, a partir de certa época, seríamos tão evoluídos que nossos corpos se tornariam etéreos e poderíamos nos teletransportar. Poderíamos nos comunicar pelo pensamento. A vibração das moléculas e da energia seria outra, atualmente desconhecida. Seríamos um e seríamos o todo. Cada um em sua individualidade perfazendo um corpo - o todo. Viveríamos num universo de paz e, quem sabe, conheceríamos seres de outros mundos e outras esferas. Seres civilizados é o que seríamos. Sonhar não faz mal, nem é proibido. Seria assim tão impossível? Paula Mendes 20/10/2020
