domingo, 19 de julho de 2020

Conjecturando...




Estava agora mesmo assistindo a uma série no Universal Channel. Um bombeiro havia doado sua medula óssea, heroicamente e sem anestesia, para uma paciente que, sem ele, não teria sobrevivido; ambos se sentem atraídos um pelo outro, e a moça pondera que ele a estaria vendo como uma pessoa doente e que, na verdade, ela era aquela das fotos pregadas na parede do hospital, fotos de aventuras na natureza, etc. Ao que o tenente lhe responde que era assim que ele a via, saudável e ativa.
Isso me fez pensar. No paradoxo que tenho vivido entre doente, acamada, e saudável, ativa. Pensei em como me veriam as pessoas. Mas a questão na verdade não é exatamente esta; é como me vejo...
Depois de ter passado dois anos acamada e dependente, me vi transitando entre aqueles dois estados, ativa e saudável, doente e acamada. Aposentei-me devido à gravidade, mas também à variabilidade do quadro. Tentei dar aulas de reforço para crianças na biblioteca da Igreja do Carmo, assim como acompanhar a Diana, minha sobrinha, nos deveres de casa; missões que não levei a cabo, também graças à instabilidade com que lido devido a uma doença crônica.
Não deixo de sonhar e de fazer planos, entretanto. Penso agora em algo que seja mais palpável, a que possa dar seguimento.
Preciso me sentir útil e produtiva. Não que não o seja. Em casa, quando estou melhor, são várias as minhas atividades; coisinhas de dona de casa que não aparecem no dia a dia, mas que toda dona de casa sabe do que estou falando. Sem preconceitos, todo dono de casa também. Ainda assim, no entanto, muitas vezes me sinto inativa e é como se isto não tivesse muito valor. Ora, quem dá o valor ou deixa de dar sou eu mesma, sei disso, não o outro. Mas não tem sido tão simples, pelo menos para mim, lidar com estes altos e baixos.
Escrever me organiza e organiza meus pensamentos, meus sentimentos. E sei que o que escrevo muitas vezes chega até o outro como ajuda, inclusive. Trago isso como um tipo de missão, a de compartilhar as experiências.
Levando tudo isso em conta, e a esta pandemia que parece que ainda vai permanecer por muito mais tempo e mudar nossas rotinas e relações de todas as formas, tracei planos novos pra mim.
Não, não sou a mesma que pousa nas antigas fotos, aquela aventureira e inconsequente que se jogava de cabeça em tudo. Continuo intensa, sim. Sensível e sentimental. Porém, sou outra. Mais forte, talvez. Não sou uma doente, tampouco; posso até estar doente algumas vezes, mas não quero me ver como doente – apesar de muitas vezes fazê-lo, confesso. Quero correr atrás dos meus sonhos e viver a vida, que está aí me chamando. E ela não espera. Sou, com a experiência, diferente hoje de tudo o que já fui e vivi – e graças ao que já fui e vivi. No entanto, ainda tenho que me modificar, em muito - e assim desejo.
Meu amigo acabou de lançar um livro, uma ficção, sobre sua própria vida. Era um, hoje é outro. Pensei também sobre esta possibilidade (a de escrever um livro), depois de todos os desafios, incentivos e dúvidas com que ele me obrigou a me deparar.
Acho, então, que os planos podem ser estes: quem sabe, escrever um livro; certamente, fazer o curso de Letras EAD (à distância), com duração de 4 anos, e me arriscar em uma nova carreira, a de revisora de textos - coisa que muito prazer me traria, além de alguma ajuda para o nosso sustento. E a sensação de estar ativa, ser útil, produtiva e exercitar a mente, coisa importantíssima, a meu ver.
Conto com 53 primaveras e pretendo dar uma guinada na vida; reiniciar meus “motores”. Tem muita estrada pela frente!
Para escrever uma autobiografia, há que se ter colhões. Assim como para viver. Ou não é verdade? Temos que ser e assumir o que somos, o que fomos e sentimos, sob pena de não sermos felizes; daí, que sentido faria? O sentido é evoluir, mudar, aprender, amar; errar, cair e se levantar novamente, mais forte. É encontrar o caminho da felicidade que, sem dúvida, passa pelo autoconhecimento e pelo que de divino existe em nós. Passa pela esperança e pelos sonhos. Pelo compartilhar. E pelos afetos, claro.
Que venham, então!!

Paula Mendes
18/07/2020

7 comentários:

  1. Virei assinante on-line instântaneo. Muito bom e vc sabe, amo esta palavra: "conjecturando"! Bjos e sucesso de sempre.

    ResponderExcluir
  2. Também amo está palavra. E a vc também!!

    ResponderExcluir
  3. Maravilhoso como tudo que escreve, faz e é. Doida para comprar esse livro é pegar um autógrafo da minha 🌷 mais linda e perfumosa. ❤

    ResponderExcluir
  4. Maravilhoso como tudo que escreve, faz e é. Doida para comprar esse livro é pegar um autógrafo da minha 🌷 mais linda e perfumosa. ❤

    ResponderExcluir
  5. Vou ler também. Vai ter muita lição para nos dar. Aguardo. Sucesso.

    ResponderExcluir

Costurando a vida! – Fica-te tão bem o dia que trazes. Onde é que o arranjaste? – Fui eu que fiz. Já me aborreciam os dias sempre iguais, se...