Tenho “cabeça de pau de fósforo”. Cabelos avermelhados.
Encaracolados.
Resolvi deixar a raiz crescer mais, bem embranquecida, e
cortar bem curtinho. Deixar crescer branco, ou grisalho, sei lá como estão meus
cabelos, na realidade.
Mas voltei atrás na decisão. Não. Pintei de novo, agora
acaju, e vou deixar crescer até fazer um chanel moderno e cacheado.
Há algum tempo, descolori os cabelos, na intenção de
deixá-los crescer brancos, igualmente. Permaneci loira por certo período e
voltei a pintá-los.
Está uma moda de deixar os cabelos grisalhos, largar a
escravidão das tintas e salões de beleza. Retocar a raiz, pintar tudo de novo,
a cada mês.
As outras mulheres da família, minha mãe e irmã, nunca
tingiram os cabelos. Minha mãe é mais vaidosa, já minha irmã, sem vaidade
alguma. Sempre foi assim.
Eu, segundo minha filha, sou meio perua e brega. Gosto de
tudo combinadinho, os brincos com os anéis e a pulseira, o sapato, a bolsa.O batom.
Segundo a Rose, minha manicure, depiladora e amiga, não
pintar os cabelos é “passar recibo”; deixar transparecer a idade.
Já minha ex-sogra, D. Célia, que nos dá sempre o prazer de sua
companhia amorosa, sempre dizia que quando envelhecesse, não tingiria mais os
cabelos. Mas permanece com os cabelos pintados, e certo mal-estar com relação a
isso.
Na minha opinião, para deixar os cabelos grisalhos, na minha
idade, teria que andar sempre de batom, com brincos chamativos, um corte
moderno. Assim diria também minha amiga
Rita, que já não se encontra entre nós.
Tem gente que faz “luzes”, para disfarçar a brancura.
O certo é que os cabelos, como a vestimenta, falam muito
sobre a personalidade da pessoa. Sem querer fazer pré-julgamentos, mas fazendo,
"batendo o olho", você já tem aquela primeira impressão. Esta pessoa é assim, não
assado; valoriza isso, e não aquilo.
Parece que sou mesmo “cabeça de pau de fósforo”. Vermelha. Apaixonada.
Não uso marcas, não sigo modismos, mas mantenho os cabelos pintados, não
consegui me conceber de outra forma. Não que não queira “passar recibo”. É outra coisa. É como me vejo.
Ainda não me reconheço com os cabelos cacheados, que sempre
foram lisos. Não me reconheço no espelho com “cara de corticoide”; ainda bem
que o estão tirando. Busco me encontrar na minha essência, mas também na minha
aparência. Ela fala muito de mim, de nós.
Sim, vou manter os cabelos vermelhos e apaixonados. Os
caminhos entre árvores de flores vermelhas.
Quanto a você, busque-se também na sua essência.
Os cabelos podem dar o
que pensar. Pode parecer coisa tão superficial! Mas pense bem, não é. É você, é
o que quer dizer ao mundo sobre si. É o que quer dizer a si mesma, diante do
espelho.
Assuma-se, seja feliz. O mais importante é sermos autênticos.
A vida é curta.
Paula Mendes
10/06/2019