T O X I C I D A D E, P O S I T I V I D A D E. T Ó X I CA.
ENTÃO NÃO TENHO O DIREITO DE FICAR TRISTE?
Já pincelei sobre o assunto em outros textos, mas tanto me incomoda que resolvi escrever sobre ele, quiçá fazer um brainstorm.
Redes sociais. A quê ou quem têm servido, afinal?
Volto a citar, porque vale a pena: “A vida que não se posta nas redes dá um trabalho danado” (ou algo assim, mas é o que corresponde à mensagem).
Problemas, quem não os têm?
Viver não é tão fácil e exige coragem, resignação, digo, resiliência, paciência, bom senso, atitudes naquilo que se pode mudar, aceitação do que não se pode, amor, compreensão, empatia, respeito às pessoas exatamente como elas são. Tarefa difícil; mesmo que não se consiga amar logo de cara, então que se respeite.
Calçar os sapatos do outro e não ser o dono da verdade a ponto de querer mudá-lo.
Mal conseguimos transformar a nós mesmos, a começar por um pequeno hábito ou ‘defeito’, que dirá ao outro.
Posta-se propagandas. Absurdo. Sei que são patrocinadas ou patrocinadoras, o que seria ‘necessário’ para manter a rede.
Posta-se vitórias; tudo bem, até certo limite.
A vida é cheia de altos e baixos, e é bom compartilhá-los com quem se ama; divide-se as tristezas, as dificuldades, somam-se as alegrias com aqueles que realmente se importam.
Mas com todos? O que exatamente pretendo com isso?
Aguardo as curtidas como um vício e, com elas, produzo neurotransmissores. O negócio chega a ser físico, não apenas mental, psíquico ou psicológico. Alguém poderia até tratar como dependência. Dependência de curtidas. Volto por ali inúmeras vezes a fim de conferi-las, ler os comentários.
Submeto-me à aprovação alheia, como se fosse verdade. Até mesmo inveja eu causo. “Chego causando.” Consegui isso ou aquilo, sou isso ou aquilo; meus filhos, igualmente. Sou um sucesso total.
Não sou um ser dividido, dual, cheio de dúvidas e cantos escuros. Sou de outro planeta; aparentemente; um ET. Humano, não – difícil demais.
Fora a mídia que me golpeia - e me convence - de que tenho sonhos de consumo importantíssimos e necessidades absolutas, imediatas e que me cobra comportamentos, aparência e posturas estereotipados.
Sou quase um robô, uma marionete nas mãos dos bárbaros.
Faço caminhadas, vou à academia, sigo dietas desmesuradas, a da bola da vez, não necessariamente visando minha saúde, mas para ficar malhado, bombado, postar-me. Apenas o lado “positivo”. Nada de dores e afins.
Por vezes, o contrário da saúde física e mental. Cedo aos apelos externos.
E quanto aos internos, guardados, escondidos no fundo das gavetas? Quem sou eu, na verdade? Admito minha vulnerabilidade? Meu lado não tão bom assim? Mas o que é bom? O contrário de mau? Não sou normal?
Será que sou um mau sujeito? Tenho sentimentos ruins e impensáveis, inadmissíveis? Eu? Respondo com um sonoro não! Sou bom o tempo inteiro e ponto. Admitir dá muito, muito trabalho.
Mas, ao mesmo tempo, precisaria admiti-lo para o outro que me lê? Eu mesma retruco, e ainda pergunto: sendo assim, porque teria necessidade de mostrar ao outro apenas o meu lado 'positivo'? Digo, ao outro distante; ao outro que não me conhece; ao outro que me julga de lá - e eu de cá, esperando por uma resposta, aguardando ansiosa suas curtidas, ainda que não correspondam à realidade do que pensam sobre mim. Sou uma linda, sou gente boa, sou nova ainda etc.
Ao meu ver, entretanto, alma, sou espírito, sou mente, sou corpo, tudo junto e misturado; sou um só, sem separações. Sou matéria e sou energia. Eu Sou. Porque a dificuldade em entender?
A própria medicina não o faz, estamos divididos em partes, tal como os animais que consumimos, a orelha direita e depois a esquerda o pé direito e depois o esquerdo. Para tudo, uma especialização diferente, com doutorado acompanhando e complementando, trazendo status também...
Foi daí que surgiram as terapias holísticas, a medicina alternativa, cuja eficácia não se comprova por meio de pesquisas e estudos duplo-cegos. Não tem valor algum..
E ai de mim se ainda trago comigo um dos transtornos mentaais, então! Sou doida de pedra.
Em verdade, doída. Estigmas.
Medo de admitir meus próprios transtornos, olhar para mim mesmo, projetando no outro o julgamento que faço de mim mesma e as expectativas frustradas sobre mim, sobre o que deveria ser, sobre o que deveria ter alcançado a este ponto da vida?
Tenho pontos fracos? Eu? Euzinha?
Quem não os tem? Estamos aqui de passagem e para aprendermos, admitir erros e não repeti-los – e as circunstâncias voltam em ciclos até que aprenda a lição e se possa seguir em frente, errando e caindo e se reerguendo, assumindo que se precisa de ajuda – às vezes sim, por vezes não. Mas que seja verdadeiro.
Que medo de conseguir a ajuda e me jogarem na lata minhas próprias necessidades e fraquezas!... Ou de me fazerem – me deixarem - descobri-las por mim mesma...
Meus pontos fortes e aqueles não tão fortes assim, penso que devo selecionar a dedo com quem compartilhar. O coração do outro é sagrado, o meu também e caminhar por eles exige respeito e sensibilidade, cuidado, tolerância e compreensão. É pisar em ovos. Isso, não encontro em qualquer bar da esquina.
Por outro lado, sei que as redes sociais cumprem um papel importante para todos nós, tanto pessoalmente, como em sociedade.
Quero postar minha opinião sobre certo assunto; congratulações por isso ou aquilo; até mesmo comunicar falecimentos, velórios, sepultamentos etc. Quero postar poesias e escritos cheios de arte, outros tipos de arte, desejar bom dia, boa noite, compartilhar algum conhecimento, perguntar sobre alguma dúvida...
Sim, as redes sociais cumprem um fim. Finalizo negócios, inclusive.
Minha opinião é de que realmente não vivemos sem elas, não mais. Podem facilitar e simplificar muito nossa vida e a dos outros.
No entanto, que sejam utilizadas com inteligência e bom senso, inteligência emocional, inclusive.
Para falar a verdade, não sei usar o Instagram e em todas as vezes que tentei me deparei com propagandas e mais propagandas. Tudo bem se as pessoas querem divulgar seus trabalhos e afins. Que seja feito com um mínimo de sensatez, no entanto, e que se preserve aquilo que é pessoal
E que minha positividade não seja obrigatória nem tóxica, a nenhum de nós, e que sirva aos devidos fins.
Não preciso me gabar de nada, apenas e somente buscar meu autoconhecimento, meu próprio crescimento como ser humano, assumindo senão para mim e para muito poucos aquilo que é pessoal e intransferível, aquilo que me faz ser eu mesma.
As redes sociais que se adaptem; às redes sociais, que ocupem seus respectivos lugares e que possam enriquecer a todos, não apenas a alguns.
Não sou de frases de efeito, mas já que o texto se viu repleto delas, termino com uma que muito aprecio:
“Meu amigo me chamou para cuidar da dor dele; botei a minha no bolso e fui”. (Especialmente para Deborah Secchin).
Paula Mendes
13/10/24