UM ANJO ENTRE NÓS (LUTO)
Ainda não consegui elaborar sua perda.
Coisa demais acontecendo ao mesmo tempo, isso ficou dentro de uma gaveta, aguardando.
Agora 'és' a bola da vez.
Que dizer, meu querido, meu amado irmão? Anjo de todos nós.
Cuidei de você, meio que mãe. Você cuidou de mim, Amigo e Irmão, com letras maiúsculas. Contava comigo e eu, com você.
Cuidou de nossos pais e eles, de você. Puro carinho.
Reclamããoo!!! (risos). Tudo da boca pra fora. A verdade é que tinha o coração enorme, não cabia no peito. Queria agradar, mas amava genuinamente.
Ao mesmo tempo, não tinha ‘papas na língua’, falava o que lhe viesse à telha. Colocava apelido nas pessoas conforme suas características, sempre com bastante humor, muito engraçado.
Não há como não lembrar de você sem dar umas boas risadas. Simples assim. Doces lembranças.
Recolhido a seu mundinho todo próprio, música, cinema, séries, gastronomia. E como tinha bom gosto para todos acima!
Tenho medo de esquecer suas feições, o tom alto com que falava e o timbre da sua voz, o seu sorriso, os seus espirros, sempre exagerados! Fico tentando me lembrar da última vez em que o vi vivo, da última vez que o vi morto, sem acreditar. Acesso em minha mente aquele momento. Fui sem poder ir. Tinha que me despedir. São Tomé.
Que saudade! Pouco ou nada pranteei, tudo guardado no peito a me adoecer. Guardado. Hoje entreabro a gaveta. Não sei bem o que há ali.
Sempre recorria a mim. Eu gostava.
Sempre viajava com a Flávia e o Alex, amigo e companheiro não só de viagens, mas também de filmes de terror no cinema.
Stella viajava um pouco menos em sua companhia, mas também com frequência. Davam-se bem. Dava-se bem com a família, compreensivo e compreendido, coisa que nem sempre foi. Muito perdeu quem não o conheceu de verdade.
Sem sombra de dúvidas, verdadeiro Anjo em nossas vidas que hoje brilha no céu como uma estrela a nos alumiar o coração.
Fizemos tantos planos!
Morou comigo durante um ano, fugia de casa durante minhas 'TPMs', voltava em cinco dias a reclamar. Responsável por fazer o pagamento das contas e até mesmo lavar louças, coisa que detestava. Um copo diferente para cada nova ingestão de água. Voltou para a casa de meus pais com a justificativa de que queria conviver com a primeira cadelinha deles, a Kelly.
Muito amor pelos animais.
Antenado quanto às pessoas,à sua volta, muito sensível. Ao mesmo tempo, ingênuo.
E um tanto direto, aquilo ficava escrito na sua testa.
Tinha que ter seus momentos em sua própria companhia, viajava sozinho ou refugiava-se em seus aposentos, recolhido em si mesmo.
E ao mesmo tempo, tão presente!
Maurício, você foi um grande PRESENTE para todos nós! Que privilégio o nosso!
E faz-se presente em todos os momentos.
Agora consigo chorar. Desanuviar. Custei, meio que anestesiada e tomada por circunstâncias a elaborar.
‘Mauzinho’, como você faz falta!
Lembro-me como se fosse hoje quando mamãe me ligou na casa da Débora, comunicando que havia escolhido seu nome, que persevera, retunde, reverbera em minha mente. Não há como não lembrar de você todos os dias, como não citar você todos os dias sem sorrir.
No final de minha agenda, um papelzinho à parte com a ‘receita’ do sanduíche da Subway que você gostava. Lugarzinho sagrado.
Sei que está muito bem acompanhado aí em cima. Fica bem. Nós também ficaremos.
Sua,
‘Raimundinha’.
26/09/24, antevéspera do que seria seu aniversário.
Vivo o luto, finalmente.
Parabéns, meu lindo!